A empresária Renata Bastos diz ser mais uma vítima do cirurgião de Novo Hamburgo João Couto Neto, 46 anos. Ele é suspeito de ser o responsável pela morte e mutilação de pacientes após procedimentos cirúrgicos. Conforme a Polícia Civil, 20 pessoas morreram após intervenções feitas pelo médico. Renata se diz uma sobrevivente. Ela foi ouvida no programa Gaúcha Mais, da Rádio Gaúcha.
A empresária diz que buscou atendimento médico neste ano por estar com dores fortes abdominais causadas por cálculos na vesícula. Foi recomendada pelo seu plano de saúde para consultar com Neto. Segundo ela, o médico olhou os exames e já recomendou a cirurgia de retirada da vesícula, o que ocorreu uma semana depois no Hospital Regina.
— Não deu meia hora do fim da cirurgia, fui liberada do hospital sem receita e sem saber como proceder no pós-cirúrgico. Eu me automediquei. A primeira noite foi horrível por não saber o que tomar e eu tinha muita dor. Eu saí de mãos vazias do hospital — recorda.
Renata lembra que não sabia se a dor que estava sentindo era normal de uma cirurgia de retirada de vesícula ou atípica. Mas, diante do agravamento, decidiu mandar mensagem ao médico perguntando. Segundo ela, Neto mandou medicamentos e algumas receitas por meio de um motoboy. Dias depois, as dores aumentaram e foi aí que descobriu que estava com infecção.
— Eu senti dores imensuráveis dez dias após. Eu desmaiava e voltava, desmaiava e voltava. Tinha febre. Aí eu fui levada ao Hospital Dom João Becker (em Gravataí), quando eu não conseguia respirar. Fui para o oxigênio. Eu tenho alguns flashs de memória, porque a dor era muito intensa — relata a empresária.
Ela diz que precisou de uma nova cirurgia. Durante o procedimento, conforme a empresária, foram encontradas perfurações no seu fígado. Logo após a nova cirurgia, relata que o médico apareceu no hospital para revisão, retirou um dreno que tinha na barriga e colocou uma bolsa de colostomia no lugar. Lembra que deixou o hospital dez quilos mais magra. Após a alta, disse que foi até o consultório do médico para retirada da bolsa, deixando apenas um dreno no lugar.
— Ele sempre dizia que a situação era normal, que aquilo acontecia com alguns pacientes, que eu não precisava me preocupar.
Segundo Renata, quando estava na época de remover o dreno, o médico teria orientado ela a cortar um ponto e fazer a remoção sozinha. Disse que ficou sabendo que o cirurgião era suspeito de crimes após as primeiras reportagens serem veiculadas. Renata disse que ficou com sequelas, entre elas, várias cicatrizes na barriga e dores muito fortes até hoje que a obrigam usar medicamentos de uso contínuo. O advogado do médico, Diego Mariante Cardoso, disse que ainda não teve acesso à integra do inquérito e que se manifestará assim que isso ocorrer.
Desde 12 de dezembro, o Neto está afastado de cirurgias e intervenções invasivas, o que se estenderá por 180 dias. O consultório está fechado e ele responde ao processo sem poder se ausentar da Comarca.
— Até o momento temos 77 boletins de ocorrência registrados pelas vítimas ou familiares de vítimas falecidas, e, neste quantitativo, 20 óbitos. Chega a todo instante relatos de vítimas que querem ser ouvidas na delegacia. Já temos agendados mais 14 casos. A juíza entendeu, num primeiro momento, que afastá-lo das funções médicas seria o suficiente, pois a gravidade do fato reside em não poder realizar intervenções cirúrgicas. Mais adiante veremos se é caso de pedir a prisão ou não, dependemos ainda de mais depoimentos — atualiza o delegado Tarcísio Kaltbach, da 1ª Delegacia de Polícia de Novo Hamburgo, que conduz a investigação.
Em nota, o Ministério Público afirma que se manifestou favoravelmente aos pedidos de busca e apreensão feitos pela Polícia Civil. Na ocasião, também requereu a realização de perícias, “a fim de se estabelecer a existência ou não de nexo de causalidade entre a conduta – comissiva ou omissiva - do investigado e os resultados ocasionados em relação a cada uma das vítimas”. O MP aguarda a conclusão do inquérito policial para decidir sobre eventual ação penal.