Os bombeiros ainda trabalham, na tarde desta segunda-feira (21), no rescaldo do incêndio que atingiu, no dia anterior, a empresa de produtos químicos Dorf Ketal, situada em Nova Santa Rita, na região metropolitana de Porto Alegre. Um homem de 53 anos, que estava em uma fábrica ao lado, morreu por parada cardiorrespiratória (leia mais abaixo).
Equipe da Emergência da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) atua no local, com apoio de outros órgãos, para impedir que o material chegue até um ponto de captação de água para consumo humano, a cerca de um quilômetro da indústria atingida.
Veja, a seguir, o que se sabe, até o momento, sobre o incêndio, suas consequências, sobre a vítima, a empresa e as tentativas de evitar um desastre ambiental.
O que provocou as labaredas e onde começaram?
Ainda é cedo para determinar as causas do incêndio e onde ele teve início. Moradores relatam que ouviram estrondo por volta das 17h30min de domingo (20) e avistaram labaredas chegando a 40 metros de altura. O prédio onde o sinistro iniciou ficou bastante danificado.
— Ainda não temos essa informação (sobre onde começou). A perícia já está no local e não temos como identificar agora o ponto inicial — afirma o comandante do 8º Batalhão do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBMRS), tenente-coronel Paulo Henrique Monteiro de Oliveira, que coordena as ações na área.
Porém, já se sabe que o incêndio ocorreu na parte em que ficavam armazenados materiais químicos, e não na seção onde eles eram fabricados. Relatos de pessoas das redondezas dizem que as chamas teriam começado em um matagal nos fundos da empresa. Essa possibilidade ainda está sendo investigada pelas autoridades.
Como está a situação agora?
Neste momento, os bombeiros resfriam os recipientes de armazenamento dos produtos químicos.
— Continua com calor e há produtos que ainda podem entrar em combustão. Só podemos atestar a extinção quando não houver mais a possibilidade de queima — explica o comandante.
O prefeito de Nova Santa Rita, Rodrigo Battistella, relata que há um plano de emergência da Defesa Civil do município em execução para se combater o incêndio e também diminuir os impactos ambientais do derramamento dos produtos.
— Vamos fazer um relatório indicando as possíveis causas disso tudo. Neste momento, é esse o foco do trabalho da Defesa Civil — diz o chefe do Executivo do município.
A ideia da prefeitura é elaborar um projeto, por meio da Defesa Civil do município, junto à Defesa Civil do RS, reunindo todas as informações sobre o incêndio. Quando o material estiver pronto, todos os detalhes serão tornados de conhecimento público.
Quais produtos derramaram para o córrego que deságua no Rio dos Sinos?
Tratam-se de oxidantes e substâncias inflamáveis, como solventes para tintas, óleos e até etanol. A prefeitura ainda aguarda para receber da empresa a relação completa do material armazenado.
O que está sendo feito para evitar uma tragédia ambiental?
O derramamento de produtos químicos decorrido do incêndio na empresa Dorf Ketal não chegou, até este momento, ao Rio dos Sinos. A equipe da Emergência da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) atua na contenção desses materiais no local, junto aos demais órgãos e empresas privadas. No domingo, eram dois engenheiros químicos envolvidos, e agora são quatro deles trabalhando para impedir que o Rio dos Sinos seja contaminado.
Barreiras de contenção e sucção por caminhão-tanque a vácuo são usados para as ações diante do material derramado. Há um dique de contenção antes do Rio dos Sinos, e outro está sendo feito pela Fepam para evitar que o produto avance.
O chefe da Divisão Emergência, Rafael Rodrigues, garante que os produtos não atingiram o rio ainda:
— O produto químico não chegou ao Rio dos Sinos. Entramos de barco e identificamos os pontos que deságuam no rio. Até o momento não tem nada.
Segundo o profissional, o clima está ajudando em função do período de baixas chuvas, o que acarreta em baixo nível dos arroios que deságuam no Rio dos Sinos. De acordo com o chefe, isso facilita durante a execução do processo de contenção.
Quem participa das ações?
Além do 8º Batalhão do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBMRS), bombeiros de Porto Alegre e de São Leopoldo auxiliam no combate ao incêndio.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) chegou a fechar a BR-386, que fica a cerca de 50 metros da empresa, em função da fumaça registrada nas primeiras horas do incêndio. Equipes da prefeitura de Nova Santa Rita, da Defesa Civil do município e do Estado, Fepam, além de empresas privadas — especialmente com disponibilização de caminhões-tanque — atuam em conjunto. Foram mais de 70 bombeiros destacados para o combate às chamas, 11 viaturas e mais de 200 mil litros de água utilizados durante a operação até o começo desta tarde. Este número ainda pode aumentar ao longo do dia.
Quem era o homem que morreu?
Cléver Fanfã Sarmento, 53 anos, foi a única vítima do incêndio. Conforme a reportagem apurou, ele estava na empresa ao lado da fábrica e era o proprietário da Mataincêndios, em Canoas, especializada em equipamentos de Plano de Prevenção contra Incêndios (PPCI). As primeiras informações dão conta de que ele estava tentando afastar veículos das chamas no momento em que passou mal.
— Ele era proprietário de uma empresa que faz esses PPCIs. Parece que ele estava tentando evacuar caminhões-tanque na empresa ao lado. Ele teve um mal súbito, talvez tenha ficado nervoso, e teve uma parada respiratória. Tinha uma ambulância perto e foi acionada para ir até o local. Infelizmente, quando chegou ao pronto-atendimento não resistiu — relata o prefeito.
Segundo a advogada da Dorf Ketal, Carolina Migliavacca, a vítima não tinha qualquer vínculo com a empresa incendiada.
— É uma pessoa que estava localizada na empresa ao lado e não possuía nenhuma relação com a Dorf. Não se tratava de nenhum prestador ou funcionário da empresa — esclarece, acrescentando: — A empresa está acompanhando todos os trabalhos e a perícia virá depois. A empresa está contribuindo com esses trabalhos durante todo esse tempo.
Segundo a prefeitura de Nova Santa Rita, a empresa está em dia com alvará de funcionamento permanente e também com os equipamentos de PPCI.