O derramamento de produtos químicos decorrido do incêndio na empresa Dorf Ketal, em Nova Santa Rita, na região metropolitana de Porto Alegre, no domingo (20), não chegou, até este momento, ao Rio dos Sinos. A informação é da equipe da Emergência da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), que atua no local, com apoio de outros órgãos, para impedir que o material chegue até um ponto de captação de água para consumo humano, situado a cerca de um quilômetro de distância da indústria atingida.
— O produto químico não chegou ao Rio dos Sinos. Entramos de barco e identificamos os pontos que deságuam no rio. Até o momento, não tem nada — relata o chefe da Divisão Emergência, Rafael Rodrigues.
Os moradores da região estão apreensivos com a possibilidade de a água ficar contaminada.
— Há 10 anos, fizemos um abaixo-assinado para essa empresa não ficar aqui. Porque já se previa possibilidade de incêndio — diz a costureira Marinês Martins, 61 anos, que vive perto da fábrica.
A moradora relata que sentiu medo na noite de domingo, diante da fumaça, dos estouros e das labaredas, que chegaram a 40 metros de altura.
— Me preocupa muito se os produtos químicos atingirem o Rio dos Sinos, porque a Corsan (Companhia Riograndense de Saneamento) pega água dali. Vão morrer peixes, e temos netos pequenos — comenta.
Conforme a reportagem apurou, a área da empresa que pegou fogo concentrava o armazenamento de substâncias oxidantes e inflamáveis, como óleos, solventes e até etanol. As chamas atingiram contêineres e tambores, não chegando a danificar os tanques maiores. O cheiro de óleo diesel ainda é forte na região.
— Estamos agora a um quilômetro da empresa e próximos ao Rio dos Sinos, onde há um dique de contenção. Vamos erguer mais um dique nesse ponto — revela Rodrigues.
Barreiras e sucção em dois pontos
Operários colocaram barreiras na água e executam a sucção, com caminhões-tanque, do material derramado, em dois pontos do córrego que deságua no rio. A Fepam está no local com quatro analistas, todos engenheiros químicos. Equipes da prefeitura de Nova Santa Rita, do Estado e de empresas atuam em conjunto para atenuar os impactos ao meio ambiente.
O comandante do 8º Batalhão do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBMRS), tenente-coronel Paulo Henrique Monteiro de Oliveira, analisa o que percebeu até agora no combate ao incêndio, que deverá estar totalmente concluído até metade da tarde desta segunda-feira (21).
— Um dos sistemas de proteção que essas empresas precisam ter, tanto de incêndios quanto ambientais, são as barreiras de contenção. Entretanto, elas possuem um limite de operação — explica. — Quando a perícia conseguir avaliar o volume do que estava armazenado e derramado, se terá uma estimativa mais precisa. As barreiras de contenção da empresa acabaram transbordando — completa o comandante, estimando que foram derramados mais de 200 mil litros de produtos químicos.
O prefeito de Nova Santa Rita, Rodrigo Battistella, demonstra preocupação com os possíveis danos ambientais.
— Existe um rio muito próximo ao local do incêndio. Estamos atuando, primeiramente, na diminuição desse impacto ambiental — afirma.
Segundo o chefe do Executivo do município, a situação é delicada.
— Estamos muito preocupados. Nossas equipes, junto com a Defesa Civil, trabalharam toda a madrugada. Colocamos contenções no rio, para que o produto químico não chegue até o ponto de captação da água. Fazemos a captação de água da Corsan nesse rio. E agora estamos fazendo a sucção lá dentro — detalha.
O prefeito ainda salienta a participação de vários órgãos auxiliando no combate ao problema.
— Temos certeza de que conseguimos diminuir esse impacto, que poderia ter sido muito maior se não tivesse a ação de quase 70 bombeiros, Defesa Civil e apoio de várias empresas como a Braskem, que enviou os caminhões-tanque — conclui.