O autônomo Roger dos Santos Dutra, 31 anos, passou cerca de sete horas à espera de socorro, agarrado a uma árvore, depois que o carro em que estava foi arrastado pela água para dentro do Arroio Candiota, na madrugada de quarta-feira (29).
Ainda abalado, ele conta que é desesperador não ter notícia do amigo que dirigia o carro: o agricultor Ailton José Müller, 30 anos, que segue desaparecido. O caso foi registrado pela Polícia Civil de Candiota. A Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros seguem fazendo buscas na região. Mergulhadores participaram do trabalho, além de equipes a pé, que vasculham as margens do arroio. Leia trechos da entrevista que ele concedeu a GZH nesta segunda-feira (4):
O que vocês haviam ido fazer em Candiota?
Fomos passear. Fomos a um bar e não a uma casa noturna. De lá, íamos para onde meu amigo morava, íamos ficar lá (os dois são moradores de Pinheiro Machado).
Quando foram de Pinheiro Machado para Candiota também usaram essa estrada secundária em que houve o acidente?
Não. Fomos pela BR-293.
Por que decidiram voltar por ali?
Porque o caminho era mais curto para chegar na propriedade dele.
Como foi o momento do acidente. Vocês notaram água sobre a ponte?
Havia pouca água passando por cima. Eu disse que não dava para atravessar, mas ele disse que estava acostumado e que conseguiria. Quando entramos na ponte, o carro foi empurrado pela correnteza e caímos.
Como saíram do veículo?
Eu quebrei o vidro do meu lado com os pés e saí e ajudei ele a sair. Quando ele se agarrou no teto, a correnteza me levou para mais longe e parei em uma árvore ao lado. Ele ficou no teto.
O que aconteceu depois?
Ele me gritou dizendo que não iria me esperar, que sabia nadar bem e que iria buscar ajuda. Foi a última vez que eu vi ele.
Como o senhor ficou no local?
Passei a noite toda em cima de uma árvore. Só consegui acesso ao teto do carro depois que amanheceu. Caímos em torno das 0h30min e eu fui sair de lá depois das 7h.
O que o senhor pensava?
Na minha família, na minha filha que está para nascer, na mãe dela. Pensei no sofrimento que poderia causar às pessoas que gostam de mim, na minha mãe, que perdeu minha irmã em um acidente também. Então foquei, tirei forças nem sei de onde e me mantive sempre forte para conseguir sair com vida de lá.
Como foi o socorro?
O motorista de um ônibus escolar me viu e foi chamar ajuda. Ele não tentou me tirar. Quando eu consegui sair e pular para a ponte foi que apareceu a ambulância.
Como está sendo agora?
Desesperador, noites sem dormir, preocupado e com esperança de que ele esteja vivo. É um amigo, me dói demais.