Principal alvo da oitava fase da Operação Caritas, que investiga suspeita de corrupção na prefeitura de Canela há mais de um ano, o ex-secretário municipal de Meio Ambiente Jackson Müller rebateu, nesta quinta-feira (16), suspeitas apontadas pela Polícia Civil na investigação. Em entrevista coletiva ao lado do advogado Ricardo Cantergi, contestou documentos apresentados contra ele no inquérito. Müller chegou a ser preso preventivamente em 19 de maio, quando foram cumpridos mandados relativos ao caso, sendo libertado seis dias depois, após exoneração do cargo.
A investigação, comandada pelo delegado Vladimir Medeiros, de Canela, na serra gaúcha, aponta que um grupo que comandava a Secretaria de Meio Ambiente indicaria empresas para serem contratadas pela prefeitura sem licitação. Algumas dessas empresas seriam de propriedade desses servidores, segundo o delegado. Müller seria sócio oculto de algumas delas, conforme o inquérito.
O ex-secretário nega essa prática. Em um dos casos, que envolve o contrato emergencial de empresa para coleta de lixo, Müller nega prestar consultoria e ser sócio oculto da companhia. Alega que a contratação emergencial, sem uso de licitação, foi legal e que o tema foi acompanhado por Ministério Público (MP) e Tribunal de Contas do Estado (TCE).
— Não houve prejuízo ao erário. O que se fez foi tratar dessa questão do novo edital e da contratação emergencial com responsabilidade. E, no final, teve uma economia anual de mais de R$ 1 milhão. Que prejuízo ao erário é esse? — questionou Müller, com uso de dados da disputa e da fiscalização dos órgãos de controle.
Müller também negou irregularidades na contratação de empresa para gerir sistema informatizado na prefeitura. O ex-secretário relatou que a companhia foi contratada antes de sua entrada no Executivo municipal. Müller também refutou possíveis ilícitos envolvendo o licenciamento da área onde foi construído o Parque Skyglass Canela e a instalação de unidades de tratamento de efluentes. Em ambos os casos, ele também apresentou documentos sobre os trâmites e negou ter participação em empresas envolvidas no processo.
Além de apresentar uma série de documentos no sentido de tentar afastar eventual participação oculta em empresas que prestam serviços ao município, apontada pela investigação policial, Müller criticou relatórios anexados ao inquérito.
Considerado pela defesa do ex-secretário como um dos pontos mais preocupantes da peça policial, o extrato de salário de um agente público ligado à pasta de Meio Ambiente teria sido adulterado, segundo Müller e Cantergi. Eles mostraram um relatório com os vencimentos do funcionário da pasta apontado no inquérito, disponível em portal de transparência, e o informativo de rendimento de outro funcionário público, que teria sido usado como espelho ou base para a adulteração. Segundo Cantergi, a suposta manipulação dos documentos visaria montar peça que mostraria um salário maior de determinado funcionário.
— Ele (funcionário da prefeitura) "era o operador". Tinha que ganhar bem para fazer esse trabalho. Mas ele não ganhava isso — afirmou Müller, citando a tese da investigação.
O ex-secretário de Canela também criticou a conduta da polícia na investigação de uma invasão de sua casa, em março deste ano. Müller avalia que os investigadores mostraram desinteresse no caso.
Em relação ao inquérito que mira a atuação dele na Secretaria do Meio Ambiente de Canela, Müller afirma que existe uma espécie de perseguição, com uma "cruzada para desqualificar o agente público e técnico nas suas atividades profissionais".
Procurado por GZH, o delegado Vladimir Medeiros afirma que a investigação é "extremamente técnica e com grande volume de provas, tanto que o Ministério Público e o Poder Judiciário de Canela acolheram as representações da Polícia Civil". Medeiros afirma que a apuração policial se concentra em analisar o material apreendido durante a operação, o que "tem reforçado e demonstrado avanço significativo em relação aos fatos inicialmente apontados", segundo o delegado.
"A Polícia Civil de Canela respeita, como em todos os casos, qualquer manifestação de defesa, mesmo que eventualmente inadequadas ou com intuito de tirar o foco das investigações, mas afirma que tem absoluta convicção na comprovação de tudo que alega nos autos dos inquéritos policiais da Operação Caritas, que tem sido desenvolvida sob os ditames legais e com a máxima responsabilidade em defesa da comunidade canelense", afirmou Medeiros em troca de mensagens com a reportagem.