Uma mulher teve um bebê junto de seu parceiro em Salta, cidade no norte da Argentina, em 2019. Alguns meses depois, ela entrou em contato com um ex-namorado no qual acreditava ser o verdadeiro pai da criança, e um teste de DNA confirmou a paternidade. Depois do pequeno já ter nascido, a mãe morreu e o ex-parceiro foi à Justiça para pedir que fosse reconhecido como o verdadeiro pai do menino.
Em uma decisão excepcional, visto que a lei argentina considera o pai biológico o único com direito legal a guarda de uma criança, a juíza Ana María Carriquiry, chefe do Tribunal de Família em Salta, autorizou que os dois tivessem a tutela do pequeno de três anos. Essa ação ocorreu em decorrência da atitude do menino perante o juizado:
— Quando eu deixei a criança entrar, ela se abraçou fortemente a seu único pai para ele, seu pai socioafetivo. E lá todo mundo ficou em silêncio — relatou a juíza, em relação ao pai adotivo.
A atitude do menino não deixou dúvidas de que tirá-lo da figura que o estava educando causaria um prejuízo a ele, ainda mais com a perda recente de sua mãe.
Segundo a juíza, no início do processo, o pai biológico cobrava que o reconhecimento paterno do outro homem fosse anulado e repassado a ele. A autoridade ressaltou que a situação do denominado "pai socioafetivo" da criança também deveria ser considerada, pois perdeu sua companheira e soube que seu filho não era biologicamente seu.
— Imagine o estado de desespero daquele homem. Achei que ele não viria para a segunda audiência.
Entretanto, depois da atitude do menino, o pai biológico concordou em compartilhar a guarda com o pai socioafetivo. Dessa forma, o pequeno continua morando com quem ele já tem costume e vai se familiarizando, progressivamente, com o pai de sangue. Os dois vão ajudar o menino financeiramente.
Assim, a criança tem em seu registro uma mãe e dois pais. Essa história repercutiu nas redes sociais e imprensa na Argentina e evidenciou a firmeza do amor por uma criança que vem passando por dificuldades após a perda de sua figura materna.
— Temos que começar a abrir caminhos, porque para mim é o socioafetivo que marca na vida das pessoas e na lei. Não pode ser que continuemos com um direito de sangue. Foi muito louvável ver os dois homens colocarem seu orgulho de lado por aquele menino. Foi um sinal de amor verdadeiro — relatou a juíza do caso.