O primeiro depoimento do terceiro dia de júri do caso Kiss, nesta sexta-feira (3), foi marcado por momentos de bate-boca. O juiz Orlando Faccini Neto chegou a ameaçar o advogado Jean de Menezes Severo — que defende Luciano Bonilha Leão, produtor de palco da banda Gurizada Fandangueira — de retirá-lo do local do julgamento.
A discussão ocorreu durante depoimento de Daniel Rodrigues, gerente da loja que vendeu o artefato pirotécnico causador do incêndio na boate. Severo se exaltou quando a testemunha se negou a confirmar que teve a loja fechada pela Polícia Civil em 2015. O comerciante afirmou que o estabelecimento não foi fechado. O advogado insistiu:
— Mas não houve nada, a Polícia Civil não esteve na sua loja?
Rodrigues alegou que não tinha o dever de responder.
— Tu tem que responder. Tu colocou esse rapaz aqui. Ele colocou esse inocente aqui. Ele colocou — retrucou o advogado, aos gritos.
O juiz, então, ordenou que o advogado baixasse o tom de voz.
— Aqui não é competição de quem grita mais alto — advertiu Faccini Neto.
O ambiente se acalmou quando o juiz solicitou que o depoente respondesse, e ele esclareceu uma sanção sofrida em 2015. Disse ter recebido, na ocasião, uma mercadoria que não podia ser armazenada na loja e acabou alocada em uma garagem. Vizinhos denunciaram o ocorrido e o produto foi devolvido para o fornecedor. O fato gerou intimação por armazenamento inadequado e multa para o estabelecimento.
Contudo, minutos depois houve nova discussão após o juiz questionar uma nota apresentada na sessão. Esse suposto documento mostraria venda unitária de artefatos. O depoente disse que não tinha informações sobre essa suposta venda. Severo se exaltou novamente.
— É ilegal vender assim. Vamos deixar bem claro. É ilegal. A loja é ilegal. Tudo é ilegal. Tudo é ilegal. A loja é ilegal, explosivo ilegal — disse o advogado com o tom de voz elevado e gesticulando bastante.
Do outro lado do plenário, onde fica o Ministério Público, uma pessoa que não aparece nas imagens, afirma que a testemunha não está sendo acusada. Severo interrompe o chimarrão que estava tomando e volta a gritar:
— Deveria estar sentado aqui. Até vocês.
Essa resposta gera uma discussão mais acalorada, envolvendo também familiares de vítimas. No meio dessa confusão, alguém diz que o advogado quer tumultuar e desvirtuar o julgamento. Severo mais uma vez se exalta:
— Que desvirtuar nada. Tu sabe bem que ele devia estar sentado aqui.
Nesse instante, o juiz novamente interrompeu o bate-boca, afirmando que não chegariam a lugar nenhum desse jeito. Ao não obter sucesso nesse aparte, Faccini Neto subiu o tom de voz e advertiu Severo, dizendo que "hoje não tá legal":
— Da próxima, o senhor não fica mais no plenário — afirmou o juiz, antes de pedir um intervalo de 10 minutos.
Após o bate-boca, Jean Severo falou sobre o episódio. Ele afirma que em júri as emoções se afloram e pede que os jurados levem isso em consideração. Já com relação ao vendedor de fogos, afirma que ele mentiu:
— Vendia artefatos explosivos fora da caixa. Armazenava foguetes em casa. Criou essa situação para não estar sentado no banco dos réus. E não é só ele que deveria estar aqui. Gente da prefeitura, dos bombeiros e seguranças da boate deveriam também ser julgados.