A mulher que perdeu marido e filha no desabamento de um prédio em Rio das Pedras, na zona oeste do Rio de Janeiro, está no centro de terapia intensiva (CTI) e tem quadro de saúde grave e instável. Maria Quiara Abreu, 26 anos, foi levada ao Hospital Miguel Couto, na Zona Sul, após ser retirada dos escombros — ela estava no mesmo cômodo em que Nathan Gomes, 30 anos, e Maitê, dois anos, que não resistiram à destruição.
A outra vítima do desabamento, uma mulher de 28 anos, também segue internada, mas o quadro de saúde é considerado estável. Nataniela de Souza Brás está no Hospital Lourenço Jorge, na Zona Oeste.
A prefeitura do Rio retomou o trabalho de remoção dos escombros às 9h desta sexta-feira (4). Ao todo, segundo o Executivo carioca, 60 pessoas de diferentes áreas estão mobilizadas na operação, que inclui a retirada de entulhos, vistorias e auxílio a moradores.
Ainda é prevista a demolição de mais dois prédios. Após a limpeza da área afetada, as pastas de Conservação, Infraestrutura e a Defesa Civil analisarão o risco de desabamento de outros imóveis do entorno.
Em entrevista coletiva na manhã desta sexta, o prefeito Eduardo Paes (PSD) voltou a dizer que a prefeitura vem fazendo operações para coibir novas construções irregulares.
Segundo a Secretaria de Conservação, já foram demolidas mais de 300 construções em toda a cidade desde o início do ano, quando a nova gestão assumiu o município. Deste total, 180 foram nas áreas de AP 4 e AP 5, que englobam a Zona Oeste.
— O que acontece em Rio das Pedras é essa perda do monopólio da força do Estado, que é uma característica muito forte do nosso Estado — disse Paes. — O que a gente precisa é retomar os instrumentos de fiscalização nas áreas existentes para que, no mínimo, essas construções parem de crescer, principalmente esse crescimento vertical.
Ao abordar a gravidade desse problema habitacional histórico da cidade, o prefeito afirmou que criminosos usam a população pobre como escudo em casos de construções irregulares.
— Ninguém constrói mais nada na cidade do Rio que a prefeitura veja e não derrube. Miliciano, traficante, vagabundo, malandro: construiu, vamos derrubar — afirmou Paes.
Reduto de nordestinos que migraram para a cidade a partir dos anos 1960, Rio das Pedras é conhecido como um dos lugares com maior atuação das milícias cariocas — e seu principal berço.
Na década de 1980, policiais viram no rápido crescimento populacional daquela área até então pouco habitada da cidade uma oportunidade de criar um poder paralelo, calcado principalmente na promessa de segurança e de bloqueio ao tráfico de drogas.
Nos últimos anos, segundo investigação do Ministério Público, a milícia da região tem atuado em atividades como compra e venda de imóveis irregulares, agiotagem, pagamento de propina, extorsão de moradores e comerciantes e esquemas clandestinos de água e energia.