Após recuperar-se de um surto de coronavírus, que contaminou 24 indígenas, a aldeia caingangue Por Fi Ga luta para manter o sustento dos moradores da reserva. Majoritariamente artesãs, as 63 famílias do território demarcado no bairro Feitoria, em São Leopoldo, no Vale do Sinos, utiliza a tecnologia para evitar o contato físico com os clientes interessados na produção artesanal: com posts no Instagram e no Facebook, além de atendimento via WhatsApp, colares, braceletes, presilhas de cabelo e itens usados em rituais, como chocalhos, flechas e cestos são expostos, valores negociados e a entrega programada.
– O artesanato é nossa principal renda, precisamos disso para viver – conta o cacique da aldeia, José Vergueiro, 52 anos.
Na antiga área verde, devolvida pelo poder público aos habitantes que vivem na terra desde as primeiras notícias sobre o Brasil, há casas de madeira, mistas ou de alvenaria, além de uma igreja e um centro de saúde indígena.
Responsável pelo posto, a técnica em enfermagem Sueli Khey Tomás, 29 anos, chegou à aldeia com a família, originários de outra reserva no município de Nonoai, norte do Estado.
– A pandemia nos atingiu em cheio. O mais velho da aldeia tem 102 anos, e é difícil segurar as pessoas aqui, pela necessidade de buscar o sustento - explica.
Na entrada da unidade de saúde, um grande tubo de álcool gel é item obrigatório antes do acesso. No interior do prédio térreo, um banner orienta sobre outras comorbidades.
A aldeia fica na Estrada do Quilombo, próximo ao número 1.015, e é identificada por uma placa do governo federal, que institui a reserva como de propriedade dos caingangues. Antes da divulgação dos casos positivos de covid-19, as visitas com doações de roupas e alimentos eram mais constantes, redução que também impacta na comunidade.
– As pessoas precisam saber que nós não somos diferentes delas. Sofremos muito racismo - complementa a jovem.
Atualmente, 156 pessoas vivem no local.
Instantes após conceder entrevista à Rádio Gaúcha, na manhã desta terça-feira (25), o telefone de Sueli começou a tocar. Um ouvinte gostaria de receber as imagens dos trabalhos pelo WhatsApp.
– As pessoas, por vezes, nos surpreendem. A gente fica muito agradecido a quem apoia e valoriza nossa cultura - finaliza, enquanto prepara uma foto do artesanato sobre a mesa.
A artesã pode ser encontrada no Instagram (@kheyoliveira), Facebook (Khey Tomas) e pelo WhatsApp (51) 99-597-7998.