A imagem da sobrinha de apenas 12 anos com queimaduras pelo corpo, suplicando pela vida, não sai da cabeça de Solano Toson, 45 anos. Ele foi o último familiar a ter contato com Terluize Toson Farias Teixeira, menina que morreu na madrugada desta segunda-feira (6). Ela e outros familiares ficaram feridos na explosão de uma lareira artesanal em sua casa em Lagoa Vermelha na noite de sábado (4).
Logo após ser socorrida no Hospital São Paulo, do mesmo município, junto dos pais Marcelo Farias Teixeira, 38 anos, e Simone dos Santos Toson, 33, e também do irmão Rauan, seis anos, a menina precisou ser transferida para o Hospital São Vicente de Paulo, de Passo Fundo.
O tio é motorista de ambulância e presta o serviço de forma terceirizada para a prefeitura de Lagoa Vermelha. Ele conta que foi acionado pelo hospital da cidade por volta das 23h de sábado. Sem imaginar que tratava-se de sua própria sobrinha, deslocou-se até a unidade para realizar a transferência até Passo Fundo.
— Sabia que era um caso grave, urgente, mas não sabia que era ela. Por acaso, enquanto eu aguardava, ouvi uma senhora falando do assunto em frente ao hospital. Quando descobri, entrei correndo para o setor de emergência — relata o tio, que diz ter encontrado a sobrinha ainda consciente, sendo medicada para a dor.
Segundo os bombeiros, que prestaram os primeiros socorros à família, a menina foi uma das mais atingidas pelo fogo, tendo pelo menos 70% do corpo queimado. Inicialmente, os bombeiros informaram que 50% do corpo havia sido atingido mas, posteriormente, o comando confirmou que as queimaduras possam ter até ultrapassado 70%.
Teixeira conversou com a irmã e o cunhado, pais de Terluize, que afirmaram ter sido um acidente.
— Não foi a lareira em si que explodiu, foi no momento que ele (o pai) foi abastecer novamente com álcool. Ele pensou que o fogo estivesse completamente apagado, mas devia ter ainda alguma coisa que acabou causando a explosão — relata o familiar.
Segundo Teixeira, a sobrinha vestia uma calça e um casaco que podem ter alimentado ainda mais o fogo. Ele conta que a menina chegou a ser levada pelos familiares ao chuveiro para que as chamas fossem extintas. Na emergência, antes de ser transferida para o hospital de Passo Fundo, a menina ainda estava consciente e, segundo o tio, implorava pela vida.
— A garganta dela já estava um pouco trancada, mas ainda assim ela gritava porque estava sentindo muito frio. Também não conseguia mais enxergar, então me aproximei, disse que estava ali, e ela só dizia "não me deixa morrer, tio"— lembra o familiar, que conduziu a menina até Passo Fundo.
Sem a presença dos pais, que ainda estavam internados em Lagoa Vermelha, Teixeira acabou acompanhando a sobrinha, juntamente de um irmão que mora em Passo Fundo. Ele relata que, logo após ser transferida, a menina sofreu uma parada cardiorrespiratória, tendo outra na madrugada de domingo (5). Ao longo do dia, ela teria permanecido estável, sendo levantada a possibilidade de transferência para Porto Alegre. Na madrugada desta segunda-feira, porém, houve uma terceira parada cardiorrespiratória e Terluize não resistiu.
A família aguarda liberação do corpo, que será velado em Lagoa Vermelha, de forma restrita, na tarde desta segunda-feira. O sepultamento será às 17h30min, no Cemitério Municipal.