A pandemia do coronavírus causou até aqui mortes em asilos de todo o país, provocou testagem em massa em instituições e fez até com que abrigados tivessem de ser isolados em outros locais para frear a disseminação da covid-19. Os óbitos foram registrados em diversos locais, mas principalmente em São Paulo — o Estado mais populoso e também o epicentro da doença no país.
Apesar de a maioria dos óbitos pelo coronavírus no país se concentrar na população idosa, não há um levantamento sobre quantos deles foram registrados em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs).
No Rio Grande do Sul, após registrar quatro óbitos numa instituição particular, a cidade de Esteio fez na sexta-feira (19) a transferência de 10 moradores que não têm a doença para um centro de cuidados contra o coronavírus no parque de exposições Assis Brasil. A medida foi tomada depois de a entidade ter sido interditada parcialmente no último dia 10. Além das quatro mortes, outros nove idosos estão internados no Hospital São Camilo, sete deles com diagnóstico da covid-19.
O centro de cuidados, que não tinha recebido ninguém até então, atenderia inicialmente casos suspeitos da doença em asilos, mas o plano foi alterado para abrigar os idosos que não contraíram o coronavírus. Passo Fundo é outra cidade do Estado com registro de mortes.
Em São Paulo, as mortes passam de 250, considerando-se apenas algumas das principais cidades, como a capital, Piracicaba, Botucatu, Ribeirão Preto, Itu, Campinas, São José do Rio Preto e Hortolândia. Um mapeamento produzido pela Promotoria em 449 instituições revelou 190 óbitos e 755 casos até 12 de junho apenas na capital, numa população abrigada de 10.476 pessoas com mais de 60 anos.
Em Piracicaba, a situação é uma das piores no país, com 22 mortes registradas nos abrigos para idosos. No Lar Betel, foram 10 mortes entre os 48 moradores que foram confirmados com a doença. Nesta sexta, o total de idosos na instituição era de 69.
Dos 77 funcionários, 35 tiveram a doença. O cenário fez a entidade transferir os idosos que não tiveram o coronavírus para um hotel de Piracicaba, que isolou uma ala para recebê-los.
Segundo o promotor Luiz Sergio Catani, que abriu procedimento administrativo sobre as mortes nas instituições, elas estão sendo devidamente acompanhadas pela Secretaria da Saúde local.
Mas, além de Piracicaba, outras grandes cidades paulistas também têm registrado avanço da doença, como Ribeirão Preto, que teve sete mortes até agora, três delas no Lar Padre Euclides, onde também foram detectados 19 casos positivos da doença. Duas mortes ocorreram na Ombro Amigo, que teve 12 idosos e um funcionário diagnosticados com covid-19. Outras duas foram registradas na Casa do Idoso e no Lar dos Velhos. A cidade tem mais de 80 estabelecimentos do gênero.
— Toda essa população tem sido monitorada e cuidada para não deixar que um pequeno surto, de dois, três ou quatro casos possa se transformar e pegar uma instituição que tenha 80 pessoas abrigadas. Aí a gente acaba perdendo muitas vidas, como vimos acontecer em outras cidades — disse o secretário da Saúde de Ribeirão, Sandro Scarpelini.
Outras instituições do gênero registraram mortes em cidades do interior como Botucatu, Guapiaçu, Campo Limpo Paulista e Urânia.
Já no Espírito Santo, um relatório produzido pelo centro de apoio cível e defesa da cidadania do Ministério Público Estadual mostra que, até o último dia 12, 239 casos foram registrados em instituições de idosos no Estado, sendo 120 em moradores e 119 em funcionários. Dos 120 idosos, 23 morreram. Os casos entre idosos estão distribuídos em nove cidades. Vila Velha, com 40, é a cidade com mais registros, à frente da capital, Vitória, com 33.
Na cidade de Serra, o total de idosos contaminados saltou em uma semana de 15 para 31, ou 106,6% mais. "Com relação ao número total de óbitos das pessoas idosas, identifica-se um aumento de 21,05%, ou seja, passando de 19 para 23, sendo que o município de Serra apresentou três novos casos e Guarapari, o primeiro", diz trecho do documento.
No Paraná, houve casos em Londrina. Em Minas Gerais, Carmo do Cajuru e Belo Vale são algumas das cidades com confirmações de mortes de idosos, enquanto Santa Catarina registrou óbitos em cidades como Camboriú e Palmitos.
Mudar hábitos
Com o avanço de casos dentro dos asilos, iniciativas têm surgido para tentar conter o crescimento da doença. Este é o caso de um projeto desenvolvido pelo grupo de estudos sobre zoonoses da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) junto a 16 dos 35 asilos da cidade mineira.
Por meio de 10 jogos criados pelos participantes do projeto, os idosos recebem informações sobre métodos de prevenção da doença. A medida deve beneficiar mais de 500 idosos da cidade, que já passou de 4 mil casos da doença.
— Muitos têm dificuldade de entender que é preciso se cuidar e quisemos levar informações para eles de forma mais lúdica. Há uma certa resistência a mudar hábitos — disse a coordenadora do projeto, Roberta Torres de Melo, docente de saúde pública veterinária da UFU.
Nos jogos criados, são feitas associações sobre a importância de se cuidarem para manterem a alegria em suas famílias e como pequenas medidas são essenciais para cuidar da saúde. Cada idoso recebeu uma embalagem de álcool 70% e máscara artesanal com três camadas de tecido.
— No final, a gente quer tentar mensurar se conseguiremos ajudar a controlar um pouco a covid-19 dentro dos asilos — afirmou.
Medidas para evitar a disseminação da doença também têm sido tomadas em Paraguaçu Paulista, no interior paulista. Após uma idosa de 84 anos que mora numa clínica particular ter sido internada com suspeita da covid-19, a prefeitura fez testes e encontrou três casos positivos. A idosa segue na UTI da cidade, enquanto os outros dois estão isolados na entidade.