SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou nesta quarta-feira (27) que prorrogará a quarentena por 15 dias, com flexibilização de acordo com setores do estado.
O anúncio foi feito no Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, na zona oeste da capital paulista, durante entrevista coletiva sobre medidas relacionadas ao coronavírus.
A nova fase da quarentena começará a partir da próxima segunda-feira (1º), dependendo dos índices. Mas as áreas autorizadas só poderão reabrir após decisão dos prefeitos.
De acordo com o mapa apresentado pelo governo, a capital paulista entrou na fase laranja, que permite abertura de vários tipos de negócios, inclusive comércios.
A decisão ocorre após de tensão entre a administração municipal e estadual. Enquanto o comitê do governo cogitava colocar a cidade na zona vermelha, a gestão Bruno Covas (PSDB) considera que fez a lição de casa e conseguiu achatar a curva de contágio.
A Grande São Paulo e litoral ficaram na área considerada vermelha, onde não haverá reabertura ainda.
As regiões poderão evoluir ou não de fase, e poderá regredir se os indicadores mostrarem alguma regressão.
Para qualquer mudança, seja de avanço ou regresso de fase, a região precisará se manter pelo menos por 14 dias (um período de incubação completa) com índices estáveis.
Segundo o governo, a reabertura deverá ser feita por decreto pelos prefeitos das cidades observando também os planos regionais.
O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), fez um discurso mostrando índices que, na avaliação da prefeitura, mostram a estabilização da doença na capital. Covas disse que começará nesta quinta (28) a tratar dos protocolos da retomada.
Questionado se haverá ou não reabertura na renovação da quarentena, Covas afirmou que a partir do dia 1º a cidade começará a receber as propostas dos setores. Serão fixadas regras para cada um dos setores e só então eles poderão reabrir, o que o prefeito não deu prazo para acontecer.
Nós iremos detalhar como isso vai ser feito, mas já adianto que, a partir do dia 1º (de junho), nós vamos começar a receber as propostas de acordo setorial. Essas propostas vão ser validadas pela Vigilância Sanitária do Município e, somente quando assinadas entre a entidade representativa de todo o setor e a Prefeitura, é que o setor poderá reabrir na cidade de São Paulo. Nada a partir do dia 1º, que será o início da discussão, disse.
De acordo com o secretário estadual de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi, haverá o empoderamento dos prefeitos para ter liberdade para implementar as mudanças a partir do dia 1º de junho.
"Modelo pressupõe cada vez mais que os gestores municipais sejam responsáveis por esse processo", disse.
Doria afirmou que a reabertura é feita de forma segura. "Estamos dando um passo certo na retomada consciente, nesta nova etapa da quarentena, mas nos dando a determinação de que se tivermos que reavaliar e retomar posições mais duas o faremos".
O médico João Gabardo, ex-secretário executivo do Ministério da Saúde, na época do ministro Luiz Henrique Mandetta, passou a fazer parte do comitê de saúde da gestão Doria. Em sua primeira entrevista coletiva, ele defendeu este modelo.
"Nós fizemos o tema de casa, nos preparamos para isso. Botamos mais leitos, compramos respiradores, temos mais recursos humanos, tem EPIs. Nos preparamos para o enfrentamento. Esse enfrentamento vai ocorrer, é inevitável que ele ocorra. O que nós não poderíamos fazer era enfrentar com uma adversidade e sem as condições necessárias", disse.
Ele defendeu as diferenças de tratamentos entre regiões. "Temos que tratar de acordo com as realidades", disse.
Doria também repercutiu pesquisa Datafolha, que mostrou que 60% dos brasileiros são a favor do lockdown. "Aos que apoiam o lockdown pela pesquisa Datafolha, o Datafolha é um instituto sério, portanto suas pesquisas são bem recebidas e bem percebidas pela opinião público, é um bom sinal certamente essas pessoas apoiarão também o isolamento social, o uso de máscaras e transformarão respostas de pesquisa em atos práticos de vida", disse.
FASES
Sem escolas, a nova fase da quarentena em São Paulo prevê cinco categorias graduais de isolamento, do mais ao menos rígido (vermelha, laranja, amarela, verde e azul). Os critérios para estabelecer a retomada tem duas balizas, a de saúde e a econômica.
Na laranja, a primeira graduação de afrouxamento, concessionárias, atividades imobiliárias, escritórios, o comércio de varejo e shoppings podem retornar, mas com restrições e adoção de protocolos de segurança.
Na sequência (e sob as mesmas condições), são autorizados também bares, restaurantes e salões de beleza; e concessionárias, imobiliárias e escritórios podem voltar a funcionar com restrições menores, atendendo apenas aos protocolos mínimos de higiene e prevenção.
A fase quatro, a verde, adiciona apenas as academias às atividades que podem funcionar com restrições.
Na última, a azul, todos os setores temáticos da economia, inclusive espaços públicos e eventos que permitam aglomeração, podem funcionar respeitando a protocolos mínimos de segurança e higiene.
Vale ressaltar que cinemas e eventos esportivos não possuem uma escala de funcionamento gradativo, ou seja, com maiores restrições, mas voltam direto na categoria azul, a fase de controle da doença, liberação de todas as atividades com protocolos [mínimos de prevenção].
O setor educativo foi indicado como de alta vulnerabilidade econômica e, portanto, considerado de prioridade para o retorno, sendo classificado ao lado dos restaurantes, da economia criativa dos serviços de beleza e das academias.
No entanto, as escolas não responderão à mesma escala gradual de retorno, mas, assim como os transportes, terá um plano específico, a ser definido e que não foi especificado na apresentação do governo.
Segundo o plano, cada região do estado será categorizada segundo diretrizes de atenção à capacidade do sistema de saúde e da evolução da epidemia.
Para atribuir a cor de cada região, o governo levará em conta a ocupação das UTIs, a quantidade de leitos intensivos por 100 mil habitantes e o número de novos casos, internações e mortes dos últimos sete dias dividido pelo mesmo número nos sete dias anteriores.
Para se entrar dentro da bandeira laranja, por exemplo, uma região precisa ter, dentre outras coisas, a ocupação de seus leitos de UTI entre 70% e 80%, e ter registrado na última semana não mais que o dobro de óbitos da semana anterior.
Cada setor da economia também terá protocolos próprios, disponíveis em um portal na internet.
Segundo o mapeamento do governo, todas as regiões de São Paulo estão, no momento, entre as bandeiras vermelha e amarela.
Cabe aos prefeitos dentro de cada uma das regiões decidir, por meio de decreto, reabrir suas respectivas economias segundo o plano de progressão do estado. Para isso, os municípios devem aderir aos protocolos de testagem e apresentar fundamentação científica para justificar a decisão.
LOCKDOWN
Nesta semana, Doria já havia descartado um "lockdown" no estado neste momento.
"Ela vai levar em conta toda a regionalização de São Paulo, no interior, capital, região metropolitana, litoral. A decisão não será homogênea. Até agora foi porque precisava ser. Agora, podemos fazer heterogênea, seguindo orientação do comitê de saúde. Em áreas que definam flexibilização cuidadosa e em etapas, isso será levado em consideração. Onde não puder, não será."
Inicialmente, o posicionamento da gestão Doria é que o lockdown seria usado se necessário. No entanto, a medida passou a ser afastada.
"'Lockdown' significa atestado de falência do sistema público de saúde. Quando você decreta o 'lockdown' é que você perdeu a capacidade de enfrentamento da epidemia. Não estamos ainda neste momento", disse o coordenador do comitê contra coronavírus , Dimas Covas.