SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Apesar da orientação para que o isolamento social seja mantido em São Paulo, o governador João Doria (PSDB) convocou professores para irem às escolas entregar livros aos alunos. As atividades letivas na rede estadual retornam nesta segunda-feira (27) com aulas a distância e o material didático impresso é uma das estratégias para fazer o ensino remoto.
A distribuição do material começa nesta segunda e os professores questionam se a medida é segura diante da epidemia e o avanço do número de casos no estado. Além de terem de se deslocar até as escolas, eles temem que se formem aglomerações nas unidades, já que 3,5 milhões de alunos devem buscar os livros.
A Secretaria de Estado de Educação disse ter orientado que a distribuição ocorra de forma agendada, o que evita a presença de muitas pessoas ao mesmo tempo nas escolas. Também disse considerar a entrega dos livros um serviço essencial, por isso a convocação dos profissionais para o trabalho presencial, já que se trata de uma estratégia para garantir o direito de ensino dos alunos.
O governo estadual recorreu à entrega de material didático físico para que pudesse considerar o período de atividades remotas como parte dos dias letivos. Há 20 dias a secretaria passou a oferecer aulas pela televisão e online, mas, sem que pudesse garantir o acesso de todos os estudantes a essas plataformas, decidiu pela distribuição de um kit impresso.
Segundo a pasta, cada estudante vai receber um kit com apostilas de matemática e português, gibis, livros paradidáticos e manual de orientações às famílias. As aulas presenciais estão suspensas em São Paulo desde 23 de março e há receio de que, com a interrupção total das atividades escolares, não haja tempo para completar as 800 letivas anuais exigidas por lei. A previsão do governo é que as escolas só possam ser reabertas em julho.
Os professores e funcionários foram comunicados na última semana que, quem não for do grupo de risco, deverá comparecer às escolas para ajudar na separação e entrega dos kits. "Em um momento em que as autoridades do estado pedem tanto à população para ficar em casa, estão colocando milhares de professores para ir às escolas. É um risco para nós, para nossas famílias", disse um docente, que pediu para não ser identificado com medo de represália.
Ele dá aula em uma escola na Vila Ré, na zona leste da capital. A unidade tem cerca de 1.500 alunos. A orientação da secretaria é de que a distribuição ocorra em uma semana, com dias específicos para cada série. Nesse caso, por exemplo, haveria a circulação de pelo menos 300 pessoas por dia.
A Apeoesp (principal sindicato da categoria) fez uma representação no Ministério Público contra a convocação e tem orientado aos professores a não irem às escolas nessa segunda. "O governador pede que as pessoas fiquem em casa, mas os professores devem se arriscar para fazer uma função que não é deles. Professor tem que ensinar e dar aula, não entregar livro. É irresponsável", disse a presidente da entidade, Maria Izabel Noronha, que também é deputada estadual pelo PT.
Serviço essencial Henrique Pimentel Filho, subsecretário de Articulação interino da pasta, disse que os servidores foram convocados porque o governo entende que a entrega dos livros é um serviço essencial. "Não estamos indo contra a orientação de isolamento, já que a convocação continua sendo para as pessoas que consideramos fazer um serviço essencial", disse.
Segundo ele, a orientação é para que sejam convocados primeiro os funcionários do quadro de apoio escolar que não estejam no grupo de risco. Se não houver pessoas o suficiente desse grupo para a realização do trabalho, então, devem ser convocados os professores.
A ideia é que as escolas iniciem a entrega nesta segunda, com um dia específico para cada série. Na próxima semana, elas devem ligar para as famílias que não foram buscar o material para entender o motivo. O subsecretário explicou que não seria possível organizar a tempo uma logística para levar os livros na casa de todos os estudantes. "Terminaríamos de entregar tudo só quando as aulas presenciais voltassem. São muitos alunos".
Pimentel Filho afirmou que, nesta segunda, todas as escolas estaduais da capital já devem estar com os livros disponíveis para a entrega. Para as cidades do interior, a chegada dos livros às unidades deve ser concluída até o fim desta semana. "Fizemos um cronograma que obedece a regionalização da pandemia, que hoje é mais grave na capital. Então, o quanto antes as famílias puderem sair para buscar os livros, mais seguro é", disse.