O mais recente desdobramento a respeito do caso Kiss – a determinação para que um dos sócios da boate, Elisandro Spohr, seja julgado em Porto Alegre, e não em Santa Maria como já estava marcado – foi recebida com surpresa pelos familiares de vítimas. O presidente da Associação de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), Flávio da Silva, disse na manhã desta quinta-feira (19), que o sentimento após essa nova decisão é de decepção:
— Uma grande decepção. Até nós esperávamos que fosse mantido os dois júris, mas jamais acreditamos que o tribunal fosse decidir a favor desse desaforamento do Elisandro. Essa justificativa apresentada pela defesa e aceita pelo Tribunal de Justiça é indigesta. Mas vamos seguir lutando, já lutamos há quase sete anos sentindo esse gosto amargo da injustiça pela demora para o julgamento. Temos convicção de que essa decisão vai ser revertida e que o júri vai acontecer aqui em Santa Maria e ainda temos esperança que os quatro réus sejam julgados juntos.
Na decisão desta quarta-feira (18), a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça acolheu um pedido de desaforamento feito pelo advogado de Spohr, Jader Marques. Para a defesa, a transferência do julgamento, de Santa Maria para Porto Alegre, traz mais segurança ao réu, evitando possíveis tumultos e garantindo imparcialidade do júri.
Anteriormente, a 1ª Vara Criminal de Santa Maria havia decidido que os quatros réus do caso seriam julgados em duas sessões, marcadas para março e abril de 2020, no município. Na nova decisão, o TJ manteve o julgamento dos outros três acusados em Santa Maria, mas em um júri conjunto. Como ainda cabe recurso, novas datas para os júris ainda não foram estabelecidas.
O Ministério Público já afirmou que irá recorrer da decisão. Para o presidente da AVTSM, mesmo que isso prolongue ainda mais as datas para desfecho do caso, a associação segue com o entendimento de que os réus devem ser julgados em Santa Maria:
— A demora incomoda muito. É, inclusive, preocupante pelo desgaste das famílias. Mas o que incomoda mais são essas decisões que não temos como não pensar que sejam parciais. Por isso, como assistentes de acusação, vamos entrar com esses recursos para que o júri aconteça aqui em Santa Maria e os réus respondam pelos crimes que cometeram, não vemos outra possibilidade.
Além de Spohr, outras três pessoas respondem pela tragédia: Mauro Hoffmann, empresário e sócio da boate, e os músicos Marcelo Santos (vocalista da banda Gurizada Fandangueira) e Luciano Bonilha (ajudante do grupo).
Um dos advogados de Luciano Bonilha Leão, Jean Severo, disse à reportagem que a recente alteração referente ao julgamento de Elisandro “não interfere em nada” no julgamento do integrante da banda Gurizada Fandangueira. Severo destaca que “o desejo do Luciano é ser julgado o quanto antes e pela comunidade, pela sociedade de Santa Maria”. Por isso, não será movido nenhum recurso. Ele ainda acrescenta que a defesa tem “plena convicção na absolvição de Luciano”.
Já a defesa de Mauro Hoffmann afirma que aguarda a publicação oficial do resultado para “possivelmente entrar com recurso”. Um dos advogados de Hoffmann, Mário Cipriani, disse que irá “interpor embargos declaratórios em razão de algumas contradições e questões pessoais e processuais, como o desaforamento”. Ele ainda acrescenta que a defesa já entrou com recurso no Supremo Tribunal Federal contra a decisão que remeteu o réu a júri.
Procurada, a defesa de Marcelo de Jesus dos Santos não atendeu às ligações da reportagem.