O que era para fazer parte do projeto arquitetônico de um conjunto de lojas, no bairro Igara, em Canoas, se revelou um ponto de esperança para muitas pessoas da cidade. Desde o ano passado, moedas começaram a ser depositadas na fonte localizada no Asun Center Igara, bem em frente à entrada do supermercado, por consumidores que aproveitavam as compras para fazer pedidos. Tudo começou com a ação inesperada da pequena Elisa, hoje com cinco anos.
Elisa e o pai Rogério da Rosa, 36 anos, estavam visitando o Centro com objetivo de alugar uma peça para instalação da loja de colchões da qual ele é proprietário. A família tinha visitado há pouco tempo a cidade de Gramado, onde Elisa havia conhecido a Fonte do Amor Eterno, e depositado uma moedinha. Ao ver a fonte próxima da futura loja do pai, logo pediu uma.
— Eu tinha duas e entreguei para ela. A minha ideia era deixar ela jogar e depois tirar da água, pois não sabia se era permitido fazer aquilo. Mas assim que ela jogou, outras crianças viram e começaram a jogar também — recorda.
Assim como manda a superstição, a pessoa precisa fechar os olhos, fazer o pedido e de costas jogar a moeda. Foi exatamente o que Elisa fez naquele dia. O pedido?
— Se eu contar, ele não se realiza de verdade — advertiu.
O que se sabe é que o gesto de Elisa impulsionou uma sequência de novas e boas atitudes.
Destinação dos recursos
Ao ver no que a fonte havia se transformado, o gerente do supermercado, Adão Luiz Oliveira de Souza, 55 anos, decidiu dar um novo passo.
— Começamos a ver a movimentação, e a empresa então resolveu dar um fim solidário às moedas — disse.
Um funcionário do mercado, que já fazia a manutenção da fonte, passou a recolher as moedas a cada 30, 40 dias. Desde então, cerca de 10 doações foram realizadas a pessoas, asilos e creches. A cada limpeza, em média, R$ 500 são coletados. A maior arrecadação foi de R$ 770. Uma das contempladas foi a família da bebê Isabeli. Isa nasceu prematura de 34 semanas e, desde então, não consegue se desenvolver normalmente. Os pais estão juntando dinheiro para realizar exames que ajudem a identificar a síndrome. Isa tem um ano e sete meses e o tamanho de um bebê de um mês.
— Ela já realizou mais de cem exames, todos que existiam disponíveis pelo SUS, e nenhum conseguiu mostrar o que ela tem. A Isa precisa de fisioterapia, fonoaudiologia e não estávamos conseguindo pelo SUS. Não sabíamos da fonte até receber a primeira doação e foi muito importante para nós, pois estamos dependendo de ajuda e das nossas economias para sobreviver — explicou Franciele da Rosa, 30 anos.
A família mantém uma vaquinha online e as páginas no Facebook e Instagram "Todos pela Isa", onde relata a rotina da menina e faz contato para as doações.
Comunidade envolvida
Na fonte, os organizadores colocaram uma urna para que a comunidade pudesse indicar instituições e entidades com necessidade de receber as doações. No local, também é realizada uma espécie de prestação de contas aos doadores. Quando a reportagem esteve por lá, um cartaz dizia qual havia sido o último valor arrecadado e para onde o valor tinha sido destinado. No mês de junho, pela segunda vez, foi a família de Isa que recebeu a doação.
Cada vez que a fonte é limpa, as moedas são contadas e guardadas no cofre do mercado até que recebam um novo destino.
— Algumas pessoas deixaram de jogar porque viam que as moedas estavam sendo retiradas, mas é importante mostrar que elas estão sendo tiradas para irem para entidades — explica Rogério.
Segundo o gerente do supermercado, cerca de duas mil pessoas passam pelo conjunto de lojas diariamente.