O governador Romeu Zema (Novo) defendeu que a tragédia de Brumadinho (MG) sirva para "agregar no futuro" de Minas Gerais e disse que "não se pode viver do passado".
A fala foi feita na abertura de um seminário para discutir barragens de rejeitos e o futuro da mineração no estado, organizado pelo seu governo em parceria com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), nesta quarta-feira (17). Zema chamou o fato de "lastimável" e que o Estado não pode continuar tendo "tragédias dessa natureza".
— Nós queremos que essa tragédia venha a agregar no futuro para o Estado. Temos que lamentar as vítimas? Lógico. Mas, não podemos conviver com o passado, temos de estarmos olhando para o futuro. Queremos com isso que a economia de Minas venha se diversificar mais. A mineração sempre foi, continuará importante, mas outras atividades precisam surgir e dinamizar nossa economia — afirmou.
Segundo a Defesa Civil de Minas Gerais, 47 pessoas ainda estão desaparecidas pelo rompimento da barragem na mina Córrego do Feijão, da Vale, ocorrido no último dia 25 de janeiro. Até o momento, há 230 mortos identificados.
Ainda em sua fala, Zema se definiu como um otimista e que a tragédia de Brumadinho foi "um ponto fora da curva, que serve de reflexão", mas que "a longo prazo, década após década, a tendência tem sido só de melhorias".
— Estou otimista também porque Minas está intacta, diferente de um país como a Síria que está totalmente arrasado, totalmente destruído. Caso a economia do Brasil e de Minas venha a reagir, a nossa produção tem condição de aumentar rapidamente, em questão de meses, 20, 30, 40% — declarou ele.
Multas da Vale em parques administrados pela iniciativa privada
O governador ainda defendeu que "o negativo seja transformado em positivo", citando o plano que vem sendo estudado pelo Ministério do Meio Ambiente para que as multas da Vale pela tragédia sejam revertidas em investimentos nos sete parques federais de Minas Gerais.
A ideia é que se tornem atrações turísticas, com hotéis e infraestrutura a ser administrada pelo setor privado. Zema citou o parque das Cataratas do Iguaçu e Fernando de Noronha como exemplos.
— Temos que lembrar que muitas vezes são tragédias que servem de reflexão para construir um mundo melhor. Temos dois grandes exemplos, que sabemos que foram países arrasados e que hoje estão entre os mais prósperos, justos e com melhor bem-estar do mundo. O caso do Japão e Alemanha. Então, vamos fazer dessa tragédia um futuro melhor, só depende de nós — disse.
Segundo ele, a tragédia de Brumadinho será a última do gênero no Estado. Em novembro de 2015, o rompimento da barragem da Samarco, em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, deixou 19 mortos.
Depois de parabenizar a Assembleia Legislativa de Minas Gerais pela celeridade em aprovar a legislação para endurecer as regras de licenciamento, Zema criticou a cultura burocrática do Brasil que "impede a sociedade de ser mais eficiente, mais rica". Ele não quis responder a perguntas de jornalistas na saída.
Mineração
Zema salientou ainda que a mineração de Minas Gerais representa 40% do que é exportado pelo Brasil, 25% da indústria mineira e 5% da economia - o minério de ferro tem peso significativo na conta.
O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, também defendeu a importância do setor para a economia. O ministro citou que a mineração representa 4% do PIB e foi 21% das exportações brasileiras em 2018, gerando superávit de US$ 23 bilhões na balança comercial.
O Brasil, diz ele, exporta 70 tipos de substâncias minerais, possui 9.415 minas em operação, em uma área que corresponde a cerca de 0,5% do território nacional. Em 2017, o Cfem (royalty da mineração) gerou R$ 3,4 bilhões para o país.
— Apesar de estarmos acometidos por um momento desfavorável, a atividade de extração do minério de ferro, em razão da paralisação de parte considerável de suas operações, com grande impacto econômico e social, devemos enfrentar esse cenário não apenas como um momento de crise, mas como um momento para reflexões e oportunidades — declarou.
Albuquerque evitou jornalistas na entrada e na saída do evento.
Outro ministro presente no evento, Ricardo Salles, do Meio Ambiente, citou a Agência Nacional de Mineração (ANM), submetida à pasta de Minas e Energia, como exemplo de "Estado inchado", dizendo que ela teria mais cargos comissionados do que agentes fiscalizadores, em outros governos.
Salles declarou ainda "todo apoio à mineração":
— O compromisso do Ministério do Meio Ambiente é o de preservação inarredável do meio ambiente. O Brasil é o pais mais sustentável do mundo, em que pese o esforço de rotular, depreciar e fazer com que o Brasil fique com esse complexo de inferioridade, como se tivéssemos uma Amazônia toda degredada: não temos. Como se tivéssemos uma agricultura que agride o meio-ambiente: não temos. Como se tivéssemos uma mineração que precisa acabar: não temos.
No final da manhã, ele voltou a sobrevoar a área atingida pelo rompimento da barragem de Brumadinho, com o governador Zema. Os dois haviam feito o percurso logo após a tragédia.