SÃO PAULO, SP, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Militares do Exército dispararam mais de 80 tiros contra um carro, que levava uma família, na região da Vila Militar, na zona oeste do Rio de Janeiro, na tarde deste domingo (7).
Um homem morreu e duas pessoas ficaram feridas.
As cinco pessoas que estavam no Ford Ka branco atingido iam a um chá de bebê. O músico Evaldo Rosa dos Santos morreu na hora, seu sogro, Sérgio Gonçalves, está internado no Hospital Albert Schweitzer, sua esposa e o filho do casal, de sete anos, além de uma amiga da família não foram atingidos. Um pedestre que passava no local ficou ferido ao tentar ajudar.
"Quando eles [militares] começaram a atirar, minha tia pegou meu primo no colo e mostrou que era carro de família, mas mesmo assim eles não pararam de dar tiros", disse um dos sobrinhos de Evaldo ao jornal Extra.
De acordo com o CML (Comando Militar do Leste), uma patrulha do Exército flagrou um assalto perto do piscinão de Deodoro, em Guadalupe, por volta das 14h40. O carro que havia sido roubado tinha a mesma cor, mas outra marca e modelo, um Honda City.
A primeira nota do CML afirmava que os militares "responderam à injusta agressão" e como resultado "um dos assaltantes foi a óbito no local e o outro foi ferido".
Mais tarde, em outra nota, o Comando Militar do Leste informou que o caso estava sendo investigado pela Polícia Judiciária Militar com a supervisão do Ministério Público Militar.
Para o delegado Leonardo Salgado, da Delegacia de Homicídios da Capital, não há nenhum indício de que os ocupantes do carro fossem bandidos ou tivessem reagido a abordagem dos militares.
"Tudo indica que houve o fuzilamento do veículo de uma família de bem indo para um chá de bebê. Uma ação totalmente desproporcional e sem justificativa", afirmou.
Segundo Salgado, havia 12 militares no momento dos disparos, mas nove atiraram. Eles não estavam mais no local quando o delegado chegou.
Os envolvidos foram ouvidos em uma delegacia militar. Mas foi a Polícia Civil que realizou a perícia porque os militares tiveram dificuldade, devido à revolta dos moradores que testemunharam o crime. O laudo mostra que o automóvel foi atingido por mais de 80 disparos e não havia arma com os ocupantes do carro.
"Eu teria prendido em flagrante pelas imagens que eu vi e os depoimentos das testemunhas", afirmou Salgado.
A Justiça agora vai decidir se o crime deve ser investigado pela Polícia Judiciária Militar ou pela Polícia Civil. Há previsão legal para que crimes de militares contra civil sejam julgados pela Justiça militar, mas, segundo o delegado, um dos requisitos é de que eles estivessem em uma missão. "E eu não vi nenhuma missão específica", diz Salgado.
Vídeos publicados nas redes sociais mostram moradores da região criticando os militares logo após os disparos. "Mataram uma família. Pegaram os caras errados. Os dois já foram", diz uma pessoa que gravou o fim dos tiros.
Horas antes, militares foram alvejados quando passavam perto da favela do Muquiço. Ninguém ficou ferido. A comunidade fica próxima do local da ocorrência com vítimas à tarde. O Exército afirma que não há relação entre os casos.