Seis anos após o incêndio da Boate Kiss, em Santa Maria, o memorial em homenagem às 242 vítimas ainda segue no papel. O projeto arquitetônico está pronto, mas para ser concretizado ainda esbarra na falta de recursos — mesmo com a redução do custo orçado, que passou de R$ 3 milhões para R$ 2,5 milhões — e o impasse quanto à demolição do prédio, o que só irá ocorrer após o desfecho judicial do caso. Por enquanto, a Kiss segue em ruínas.
O responsável pela idealização do memorial é o arquiteto paulista Felipe Zene Motta, que venceu o concurso, recebeu os valores para execução dos serviços e, em abril do ano passado, apresentou a proposta baseada nos desejos de pais e familiares das vítimas e também da comunidade. O projeto acolheu as ideias e sugestões obtidas em questionários aplicados em seminários realizados na cidade para saber como se daria a construção do local e ainda o que poderia ou não constar nesse espaço de memória.
O projeto prevê a construção de um jardim central e de um pavimento que, segundo o criador, será de fácil construção e manutenção. Além disso, a proposta traz uma narrativa da tragédia e reforça o sentimento afetivo que envolve o local.
O memorial será dividido em três salas principais, que também são acessadas de forma independente, a partir da varanda. Uma delas abrigará a sede da associação. Ao fundo, haverá um auditório que contará com um palco central.
Recentemente, foram concluídos os projetos chamados complementares, como o de paisagismo. Todos serão apresentados em evento na Praça Saldanha Marinho, no domingo (27), dia em que completa seis anos do incêndio.
— Foram feitos todos os projetos complementares que são de engenharias estrutural e elétrica, além do Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndio (PPCI) e de paisagismo, que é um item bem importante nesse memorial em função do jardim de flores. Já temos a aprovação da prefeitura para execução do memorial — disse Motta.
O arquiteto também destacou a forma em que foi elaborado um dos projetos que dará sentido à proposta do memorial.
— A proposta de paisagismo (elaborada pela paisagista Mariana Siqueira) é bem interessante. Ela convidou os pais para participar da concepção do jardim. Ela propôs e foi com os pais a campo para coletar espécies e catalogar mudas e sementes que serão usadas no jardim. Uma ideia nova em que vimos os familiares participando de diferentes processos, que serão importantes para a construção do memorial — conta.
Demolição do prédio
Mesmo com os projetos arquitetônicos concluídos, a associação não tem pressa para que o prédio da boate dê lugar a um local de memória, conscientização e homenagens. Isso porque foi acordado junto à prefeitura — que será responsável pela demolição da estrutura — que o local não será demolido antes que o caso tenha um desfecho e seja definido se os quatro réus na esfera criminal irão ou não a júri.
— A data para demolição seria hoje a questão do júri. Após isso, já poderemos marcar a demolição. Isso se dá pela importância do local como uma prova processual. Desde o início lutamos por justiça e não adianta construirmos um memorial belíssimo e essa questão permanecer duvidosa — enfatizou Flavio Silva.
Mesmo diante dessa indefinição de datas, ele destaca que a projeção é que a partir de março sejam definidas estratégias de arrecadação de recursos que não ficarão restritas apenas ao financiamento coletivo. A ideia é buscar, por exemplo, valores referentes a leis de incentivo ou até mesmo de emendas parlamentares.