O presidente eleito do Clube Militar, general Antônio Hamilton Mourão - - pediu hoje aos caminhoneiros que parem a greve e liberem as estradas.
— Vocês já deram o recado a esse governo fraco. Agora retornem ao trabalho. Os prejuízos já foram enormes. Ficar cortando mangueiras de ar dos caminhões, para impedir colegas de prosseguir viagem, é ato de terrorismo — criticou.
Mourão, gaúcho radicado no Rio de Janeiro, esteve em Porto Alegre para debate sobre segurança pública e também sobre os rumos do país. O evento, promovido pela ONG Associação Brasileira de Estudos de Inteligência e Contra inteligência, teve como participantes, além do general, o coronel do Exército Luciano Zucco e o procurador de Justiça Fábio Costa Pereira. O trio falou para um público formado, na maioria, por militares e policiais. Não por acaso, o debate — realizado na sede da Federação Gaúcha de Futebol — começou com uma salva de palmas "aos homens da lei" e elogios à Operação Lava-Jato, a pedido de Mourão.
Mourão, que foi Comandante Militar do Sul e acaba de passar para a reserva, assume em 26 de junho o Clube Militar, entidade que atua como porta-voz dos oficiais aposentados das Forças Armadas e, também, como representante do oficialato da ativa. Sobretudo para assuntos políticos.
Além de segurança pública, em que defendeu endurecimento das leis e investimentos sociais nas comunidades para impedir que sejam presas fáceis do "populismo dos bandidos", Mourão analisou o cenário do país. Ele atribui o sucesso da paralisação dos caminhoneiros a um erro estratégico do governo, que subestimou o potencial de insatisfação dos grevistas. O general ressalta que só no quarto dia é que os governantes se deram conta do tamanho do problema, no quinto dia anunciaram acordo "com gente que não tinha representatividade para terminar a paralisação", no sexto dia fizeram ameaças que não tinham condições de cumprir, chamando as Forças Armadas — "sempre elas, o último argumento dos reis".
— Mas faltou dizer que o Exército de Caxias não ataca o povo. Militares se recusaram a caçar escravos no século XIX, não reprimiriam a população agora — ponderou Mourão.
O general também foi questionado sobre as faixas de caminhoneiros pedindo "intervenção militar" no Brasil. Ele disse que não haverá movimentação de militares nesse sentido e que as Forças Armadas só interviriam num momento de caos, para evitar derramamento de sangue, uma guerra civil.
— O que não é o caso — ponderou.
Mourão falou que os militares vão atuar em Garantia da Lei e da Ordem (GLO), quando chamados, inclusive se precisar desobstruir estradas.
— Esse pessoal que pede intervenção tem de entender que vivemos num mundo muito mais complexo que o de 1964 — concluiu Mourão, sob aplausos.
Mourão também criticou o anúncio de paralisação por parte dos petroleiros.
— É vergonhoso falarem em greve agora. Quando os ex-presidentes da Petrobras compraram a refinaria de Pasadena e quando ocorreu o saque da empresa deles, os petroleiros entraram em greve? Fazer isso agora é oportunismo.