Um homem "mudou a história" da encenação da crucificação de Cristo, em Nova Hartz, município de 20,4 mil habitantes no Vale do Sinos, na noite da Sexta-Feira Santa (30).
Desconhecido das autoridades até a noite de sábado (31), o homem invadiu o palco e agrediu Samir André Rodrigues, 23 anos, que atuava como um dos soldados romanos que levaram Jesus à cruz. A cena foi gravada em vídeo por um morador e divulgada em redes sociais.
Faltavam cerca de 20 minutos para o encerramento da peça, prevista para durar uma hora e meia. Sobre um dos seis palcos instalados na Praça do Trabalhador, no centro da cidade, um grupo de 40 pessoas encenava a crucificação de Cristo e de dois ladrões. Cerca de 3 mil pessoas acompanhavam o espetáculo. No alto-falante, música de suspense, som de trovões e a voz de um narrador anunciava "tudo, tudo está consumado".
Em seguida, Rodrigues se aproximou com uma lança e simulou atingir a costela do personagem de Cristo. Ao perceber o gesto, o intruso pulou sobre o palco.
Quem estava próximo ouviu ele gritar "seus demônios, eu vim para salvar Jesus", quando avançava contra o soldado. Com um capacete de motoqueiro nas mãos, bateu contra a nuca do ator e desferiu um chute. Surpreendido, Rodrigues tentou se defender, enquanto o homem ameaçava mais golpes.
— Na hora, não entendi. Achei que tinha caído por cima de mim um dos ladrões que estavam sendo crucificados. Aí, olhei para o lado e vi aquele cara, meio perturbado — lembra Rodrigues, funcionário de um frigorífico da cidade.
O ator diz não ter se ferido porque usava uma capacete (que saltou longe), o que ajudou a amortecer o impacto da agressão. Entre o público, pessoas emocionadas com a cena, às lágrimas, se espantaram:
— É de verdade, é de verdade, meu Deus!
A encenação foi interrompida por cerca de cinco minutos. Outros atores imobilizaram o intruso, que foi retirado do palco. Instantes depois, um familiar dele apareceu, dizendo que o homem sofre distúrbios mentais.
O diretor do espetáculo, Adriano Ferreira, recorda que parte do público se revoltou, mas diz que integrantes da organização impediram agressões. Ele lamentou o episódio.
— Nunca imaginei que fosse acontecer uma coisa dessas. São 80 pessoas, todas da comunidade, que durante dois meses e meio, deixaram suas famílias aos finais de semana para ensaiar esta apresentação —desabafou Ferreira, que é diretor de Cultura da prefeitura de Nova Hartz.
O diretor diz que a encenação prosseguiu, mesmo com alguns atores abalados, terminando com a ressurreição de Cristo sob aplausos. O prefeito de Nova Hartz, Flavio Emílio Jost (PP), acompanhava com a família o espetáculo na praça. Para ele, o homem que invadiu o palco pode ter se confundido.
— Os atores são pratas da casa. Fizeram tão bem feito que ele (invasor) pode ter vivido o momento da época, acreditando que fosse real —comentou Jost.
A encenação ocorreu pelo quinto ano consecutivo na cidade, e não havia presença de policiais. A Brigada Militar foi chamada após o incidente, mas PMs de serviço estavam atendendo a outra ocorrência. Ao chegar lá, a guarnição não encontrou nem vítima nem agressor. Até a manhã deste sábado não havia registro do caso na BM nem da delegacia da Polícia Civil.