A escassez de chuva fez com que Bagé retomasse neste ano o mesmo sistema de racionamento de água adotado em 2011 e 2012, quando a população teve de ficar 12 horas diárias sem água por oito e nove meses, respectivamente. Dividida em setores leste e oeste, a cidade da Campanha passou a ser abastecida de forma intercalada às 3h desta segunda-feira (5), momento em que a água parou de chegar ao lado leste. Quem mora nessa área ficou desabastecido até as 15h. Enquanto isso, quem estava na zona oeste aproveitava suas 12 horas diárias com água disponível. Das 15h de segunda até as 3h de terça (6), foi invertido o lado beneficiado, oficializando, assim, o ritual que deve se estender por tempo indeterminado.
As três barragens do município estão operando abaixo do nível normal. A maior delas, com 12 metros de profundidade, está 5,1 metros aquém da normalidade. Em forma de funil, a Sanga Rasa passa a ter nível considerado preocupante quando atinge a marca de quatro metros deficitários. Os reservatórios dependem, exclusivamente, da água da chuva e, segundo dados da Estação de Tratamento de Água (ETA), no mês de janeiro choveu 50,5 milímetros em Bagé, 46% da média histórica.
— Não há prazo definido para o fim do racionamento. Inúmeras variáveis interferem. Queremos que nossas reservas durem o maior tempo possível — destaca o diretor do Departamento de Água, Arroios e Esgoto de Bagé (Daeb), Volmir Silveira, que pede aos moradores que evitem desperdícios com lavagem de carros e calçadas.
Também castigados pela estiagem, os municípios Pedras Altas, Morro Redondo, Cristal, Amaral Ferrador (todas na Região Sul), Hulha Negra (Região da Campanha) e São Jerônimo (Região Carbonífera) decretaram situação de emergência, mas só Hulha Negra está em racionamento. Destes, apenas Cristal teve a situação homologada pelo governo estadual. Os outros casos estão com a documentação em análise. A prefeitura de Canguçu (Região Sul) deve encaminhar nos próximos dias documentação para a Defesa Civil decretando situação de emergência. O vice-prefeito de São Jerônimo, Júlio Cesar Prates Cunha, resume o que acontece no seu e na maioria dos demais municípios:
— A cidade está sob controle, sem racionamento, mas a zona rural está descontrolada por conta da estiagem. Açudes e poços estão secando. Estamos fazendo de tudo para ajudar o pessoal que mora nessas áreas.
A Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), responsável pelo abastecimento em 316 dos 497 municípios gaúchos, entre os quais Pedras Altas, Morro Redondo, Cristal, Amaral Ferrador e São Jerônimo, reforça a inexistência de racionamento ou previsão de adoção nas cidades em que presta serviço. "Não há problemas no abastecimento público urbano. É possível que os problemas estejam em áreas rurais. Em Morro Redondo, a Corsan está efetuando obra emergencial para garantir o abastecimento. Nos demais, a água distribuída provém de poços ou de rios com boa vazão", informou em nota.
Onze horas por dia em água em Hulha Negra
Distante 32 quilômetros de Bagé, Hulha Negra viu quatro dos seus oito poços abertos na zona urbana secarem no fim do ano passado. Para evitar o colapso, foi determinado pela prefeitura, ainda em novembro de 2017, que o abastecimento fosse cortado das 13h às 18h e das 23h às 5h. São 11 horas sem fornecimento. A água dos quatro poços que ainda funcionam é distribuída para os 6 mil habitantes.
— Para a área rural, estamos levando água de caminhão-pipa. Vai ser muito difícil voltar à normalidade sem ajuda do Estado. É preciso abrir poços artesianos, porque os que a gente tem aqui captam água de bolsões que dificilmente irão se recuperar — avalia o prefeito Carlos Renato Machado.
Atual sistema de racionamento de Bagé passou a ser adotado em 2011
Em 27 de dezembro de 2010, devido a seca, a prefeitura de Bagé optou por cancelar o fornecimento de água entre meia-noite e 5h, mas a medida não foi suficiente para elevar o nível dos reservatórios. Então, em 3 de janeiro de 2011, o município foi dividido em duas zonas. Uma recebia água das das 3h às 15h e, a outra, das 15h às 3h. O método se repetiu entre 16 de janeiro e 21 de setembro de 2012 e voltou a ser utilizado nesta segunda-feira. Compare os níveis dos reservatórios em cada ano, no início do racionamento:
Barragem Sanga Rasa
2018: 5,1 metros abaixo do nível normal
2012: 3,1 metros abaixo do normal
2011: 3,9 metros abaixo do normal
Profundidade: 12 metros
Barragem do Piraí
2018: 1,6 metro abaixo do nível normal
2012: 1,4 metro abaixo do nível normal
2011: 1,7 metro abaixo do nível normal
Profundidade: 9 metros
Barragem Emergencial
2018: 0,7 metro abaixo do nível normal
2012: 0,3 metro abaixo do nível normal
2011: 0,9 metro abaixo do nível normal
Profundidade: 3 metros
Fonte: Departamento de Água, Arroios e Esgoto de Bagé (Daeb)
ESCALA DE RODÍZIO DE ABASTECIMENTO
Setor 1: zona oeste é abastecida das 3h às 15h
Bairros afetados: Centro, Madezatti, São Martins, Vila Brum, Arvorezinha, Vila Damé, Camilo Gomes, Parque Silveira Martins, Hidráulica, Popular, Narciso Suñe, Tarumã, Tupã, Stand, Vila Militar, Vila Brasil, Alcides Almeida, Mingote Paiva, Santa Cecília, Menino Deus, Floresta, Santa Carmem, Ibajé, Vila Gaúcha, Mascarenhas e arredores.
Setor 2: zona leste é abastecida das 15h às 3h
Bairros afetados: Getúlio Vargas, Loteamento São Pedro, Jardim do Castelo, São Bernardo, Santa Tecla, Loteamento Severo, Malafaia, Daer, Ivo Ferronato, Castro Alves, Dois Irmãos, Estrela Dalva, Ivone, Dolores, Vila Goulart, Passo das Pedras, Tiarajú, Arco, São Judas, Vila Ipiranga, Santa Tereza, Pedra Branca, Bairro Bonito, Vila dos Anjos, Santa Flora, Habitar Brasil, Morgado Rosa, Dona França, Loteamento Prado Velho, Adão Pedra e arredores.