Diante da crise financeira do estado e depois de 19 meses consecutivos recebendo salários parcelados, um grupo de professoras da Escola Estadual de Ensino Fundamental General Neto, no Bairro Lageado, em Porto Alegre, resolveu fazer um protesto que, além de inusitado, resultaria em uma graninha extra. Elas promoveram um bazar, com a ajuda da comunidade, cuja renda das vendas será rateado entre professoras e funcionárias da escola. A ação aconteceu nesta quarta-feira (13), no Esporte Clube Lajeado, e reuniu cerca de 20 colaboradoras da instituição de ensino.
Idealizadora do bazar, a professora Fabiana Alves, 39 anos, moradora do bairro Vila Nova, se diz decepcionada com o serviço público e indignada com a situação dos professores estaduais:
— É muito triste um educador ter investido tanto tempo e dinheiro em gradução, especialização e precisar recorrer a ações como essa para conseguir se manter. Não é nenhuma vergonha, mas o sentimento é de tristeza e muita frustração.
Nas redes
A divulgação do evento foi feita nas redes sociais e chamou a atenção da vizinhança. Segundo a organização, o horário de maior movimento foi pela manhã. Ao final do dia, o bazar havia arrecadado cerca de R$ 700 com a venda de roupas, calçados, bijuterias, artesanatos e lanches — tudo arrecadado por meio de doações do corpo docente, dos pais de alunos e de comerciantes da região.
A diarista Eliana Steimpaj Gomes, 47 anos, e a filha Letícia Gomes, 19, aprovaram a ideia e aproveitaram para levar pra casa alguns itens baratinhos.
— Eu sou "ratinha" de brechós. A gente acha coisas boas e com preço barato — disse a mãe, enquanto Letícia completava:
— Sem contar que, nesse caso, ainda estamos ajudando a quem precisa. Se já é difícil viver com o salário cheio, imagina ganhando uma miséria por mês...
Malabarismo com o orçamento
A orientadora Keli Cristina Coelho Ferreira, 49 anos, da Hípica, destaca o valor simbólico da ação como forma de chamar a atenção do governo do Estado para a situação calamitosa que estão vivendo os servidores.
— Mesmo que dê um pouquinho para cada um, toda ajuda é bem-vinda. Qualquer valor é importante. Para se ter uma ideia, muitos professores não conseguiram estar aqui hoje porque não tinham dinheiro para a condução — afirma Keli, que é casada, tem uma filha, um neto e explica como tem se virado para contornar a crise:
— Priorizo o pagamento do financiamento do imóvel, coloco a alimentação toda no cartão de crédito e vou pedalando. Já estou pagando o mínimo da fatura e com medo dos juros que virão.
Na casa da monitora Mônica Piaia Gomes, 37 anos, recessão é palavra de ordem e os sacrifícios são diários.
— Estamos segurando na comida e na gasolina. Antes, saíamos para comer fora com certa frequência, agora, não mais. A ida ao cinema foi cortada. Quem mais sente é meu filho, de 11 anos, que fica revoltado, não comigo, mas com a situação, porque explico tudo que está acontecendo para ele. A nossa realidade mudou — explica ela, que ainda encontrou uma maneira alternativa de complementar a renda familiar:
— Faço salgados e congelados para vender. É o jeito.