Uma legenda acompanhando três fotos que expõem a ponte que liga Imbé e Tramandaí vista de baixo repercutiu nas redes sociais e resumiu a apreensão de quem mora na região: "Quem olha por baixo, não passa por cima".
A preocupação com a única ligação terrestre entre duas das principais praias do litoral gaúcho não é nova – há anos, moradores e veranistas pedem investimentos na estrutura, além de uma nova travessia para desafogar a passagem durante o verão, quando ocorrem longos congestionamentos no trecho.
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Ao visualizarem nas fotos que parte do concreto foi corroída, que os ferros de sustentação estão expostos e enferrujados e que escoras de madeira ajudam na sustentação dos mais de 140 metros de travessia, a situação ganhou novos contornos. Compartilhadas mais de 7 mil vezes no Facebook, sem contar o burburinho que gerou em grupos de WhatsApp e nas rodas de conversa, as fotos provocaram uma reação das autoridades dos municípios.
Chamada de Giuseppe Garibaldi, a travessia sobre o Rio Tramandaí, composta por três pontes – duas no sentido Imbé-Tramandaí de pista única e outra de faixa dupla no sentido contrário–, é de responsabilidade do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), já que faz parte da RS-786, também conhecida como Interpraias. Ainda assim, a primeira resposta ao apelo da comunidade veio dos municípios. Alertada pelos vereadores de Imbé Elton Kieser e Nico (ambos do PT), a prefeitura do município, junto com a de Tramandaí, organizou uma vistoria na semana passada, que contou com a ajuda do Corpo de Bombeiros e de técnicos e mergulhadores da Transpetro. O objetivo é enviar um relatório junto com vídeos ao Daer, pressionando por medidas.
O trabalho ainda não foi concluído e deve ser retomado quando as condições da água forem favoráveis. Até agora, segundo o engenheiro da Secretaria de Obras e Viação de Imbé, José Augusto Henkin, que participou da operação, não é apenas a parte externa preocupa.
– Há pilares da ponte do meio que estão degolados (sem o concreto junto ao pé da estrutura) e outros com quase um metro sem concreto, só com ferro. Não posso dizer que há risco, pois é necessário estudo profundo, mas não dá para negar que é preocupante. Uma obra é como receita de bolo, quando falta um ingrediente. Nesse caso, o concreto é quase como o fermento, o bolo não é o mesmo sem ele – afirma o engenheiro.
Com a proximidade do verão, quando a população chega a aumentar mais de 10 vezes nos dois municípios, a apreensão, naturalmente, aumenta.
– A gente não entende o que realmente acontece, mas quando passa um caminhão a ponte treme, e quando passamos de barco e vemos que faltam partes da ponte, dá medo – comenta o aposentado e pescador amador José Carlos Souza, 62 anos.
– Não consigo imaginar se essa ponte for interditada ou mesmo cair. A gente que mora aqui atravessa de um lado paro outro todo dia. Faz supermercado lá, compra pão aqui. Acho que precisa ser feito algo pra impedir que algo assim aconteça – acrescenta Souza, que há nove anos adotou Tramandaí como casa.
A possibilidade de uma interdição preocupa os dois municípios, cuja economia depende do turismo na temporada de verão. Sem contar a travessia diária dos trabalhadores e dos veículos de carga – se a ponte Giuseppe Garibaldi for fechada, para ir de um município a outro é preciso pegar as rodovias RS-030 e RS-489 (Estrada do Mar), transformando o percurso de 144 metros em mais de 40 quilômetros.