A perícia realizada na casa de prostituição onde o vendedor de cachorro-quente Nilton Cesar Souza Júnior trocou tiros com dois delegados da Polícia Federal no último mês de maio, em Florianópolis, levanta a hipótese de que uma quarta pessoa também tenha participado do tiroteio. Nilton foi baleado quatro vezes, mas sobreviveu. Os delegados Elias Escobar e Adriano Antônio Soares não resistiram.
O que levou o laudo pericial a sugerir a presença de um quarto atirador foi o fato de que o disparo contra a cabeça do delegado Elias partiu da arma do próprio delegado. E, conforme aponta o trabalho do Instituto Geral de Perícias, aquela mesma arma foi encontrada dentro do carro em que Nilton foi levado para o hospital. Ou seja, em algum momento do tiroteio a arma foi retirada das mãos do delegado Elias, morto ainda no local.
A perícia foi concluída há uma semana e a reportagem teve acesso a detalhes do laudo nesta segunda-feira. Com base no levantamento pericial, o promotor de Justiça Luiz Fernando Pacheco agora procura saber se existiria a possibilidade de o delegado ter atirado acidentalmente contra a própria cabeça caso estivesse em luta corporal com Nilton ou com o amigo de Nilton na hora dos fatos.
Pacheco também quer saber se o delegado Elias estava em pé, deitado ou sentado na hora do tiro que o atingiu na cabeça, assim como qual seria a posição do autor do disparo no mesmo momento. Esses e outros questionamentos formulados pelo promotor deverão ser respondidos pelo IGP nos próximos dias. Apesar de indicar a possível participação de um quarto atirador, os peritos confirmaram o uso de apenas três armas no tiroteio.
Além da pistola do delegado Elias, a arma que pertencia a Nilton foi encontrada no corredor da casa noturna, caída ao lado do corpo de Elias. A terceira arma, que provavelmente seria do delegado Adriano, está desaparecida. Conforme a perícia, a arma de Nilton foi usada em apenas dois disparos. A pistola que pertencia ao delegado Elias teria sido usada ao menos oito vezes, enquanto a pistola desaparecida teria sido acionada pelo menos 14 vezes.
A perícia ainda aponta que o delegado Adriano foi atingido somente uma vez e que o tiro partiu da arma de Nilton. O tiro que atingiu a cabeça do delegado Elias, diz a perícia, partiu da arma dele mesmo. Um segundo disparo feito contra o delegado teria sido disparado pela arma de Nilton. Somente um dos quatro disparos feitos contra Nilton teve origem identificada – a arma usada seria a pistola desaparecida.
O vendedor de cachorro-quente chegou a ser internado e depois preso, mas ganhou o direito de responder ao processo em liberdade. No entanto, ele foi preso temporariamente no último dia 29 por suspeitas de envolvimento em um estupro. A reportagem não conseguiu contato com o advogado dele nesta segunda. Em contatos anteriores, o defensor apontava legítima defesa no caso dos delegados e contestava as suspeitas na investigação de estupro.
CONCLUSÕES DA PERÍCIA
ARMAS -A perícia concluiu que houve troca de tiros com o uso de três armas de fogo diferentes no corredor da boate. Uma pertencia a Nilton, tendo sido encontrada no corredor da casa noturna, e outra ao delegado Elias Escobar, localizada no carro que levou Nilton ao hospital. Como a terceira arma não foi encontrada, a principal hipótese é de que fosse a pistola do delegado Adriano.
O laudo aponta que a arma do delegado Elias Escobar disparou ao menos oito vezes. Sete tiros ocorreram dentro do corredor da boate e um dos disparos ocorreu em frente ao Hospital Florianópolis. A arma de Nilton foi responsável por apenas dois disparos durante a troca de tiros. A terceira armada teria sido usada em pelo menos 14 disparos no corredor da boate.
OS TIROS -O tiro que perfurou a cabeça do delegado Elias Escobar partiu da própria pistola dele. A perícia ainda aponta indícios de que outro ferimento, causado no tórax do delegado, tenha sido resultado de um disparo da arma de Nilton.
O comerciante Nilton foi atingido por, pelo menos, quatro disparos. Apenas um deles teve origem identificada (teriam partido da arma não localizada, supostamente de propriedade do delegado Adriano).
O delegado Adriano Soares sofreu apenas um ferimento, que teria sido provocado pela arma de Nilton.
QUARTO ATIRADOR - A perícia aponta que o fato de o delegado Elias ter sido ferido na cabeça por um disparo da própria arma, somado ao fato de a mesma arma ter sido encontrada dentro do carro que levou Nilton ao hospital, "sugere a participação de um quarto atirador na ocasião da troca de tiros".
DÚVIDAS
Em oficio endereçado ao IGP, o promotor de Justiça Luiz Fernando Pacheco lista uma série de questões para esclarecer detalhes já levantados pela perícia. Entre outras perguntas, o promotor questiona se existiria a possibilidade de o delegado Elias Escobar ter atirado acidentalmente contra a própria cabeça caso estivesse em luta corporal com o comerciante Nilton ou com o amigo dele. O promotor também pergunta se o delegado Elias estava em pé, deitado ou sentado quando foi atingido no olho direito. Também questiona se o autor do disparo estaria em pé, sentado ou deitado.