Há 19 anos, o Corpo de Bombeiros Voluntários de Triunfo, na Região Carbonífera, reúne 16 pessoas com formação específica e vocação incondicional para ajudar o próximo. E nada mais. Desde 2009, o caminhão do grupo parou de funcionar e, por falta de parceria, os problemas mecânicos nunca foram resolvidos. Há um ano, o caminhão pipa emprestado pela prefeitura para substituí-lo também não está mais à disposição do grupo. O prédio da associação está com o teto e o forro comprometidos por sucessivas quedas de granizo entre os anos de 2012 e 2014. Agora, o grupo também corre o risco de perder o terreno onde a sede foi erguida com dinheiro de doações da comunidade.
Uma área no Centro da cidade que foi cedida em comodato pela prefeitura em 2000 está sendo requerida pelo atual prefeito, Valdair Gabriel Kuhn. No começo do mês, ele enviou à Câmara um projeto de lei pedindo a revogação da lei que concedia o terreno ao Corpo de Bombeiros até 2018. O projeto diz que área está "inutilizada e abandonada", sem "ter a destinação que é objeto da concessão". Sem convênio com a prefeitura há quase dez anos, o grupo alega falta de apoio para exercer a atividade voluntária:
– Nosso livro de atas é a prova de que esta sede não está abandonada. Sempre nos reunimos aqui – rebate o comandante-operacional da Associação Civil Corpo de Bombeiros Voluntários de Triunfo, Valdeci Barcelos, 53 anos, há 14 no grupo.
O projeto foi enviado para a Câmara e está em análise pelas comissões. A votação ocorrerá após o dia 7 de agosto, quando os vereadores retornam do recesso. O presidente da Casa, Marcelo Wadenphul, afirma que é contra o projeto e defende que os Bombeiros Voluntários precisam de apoio do poder público:
– Temos que reformar o prédio, dar um caminhão. Eles já fizeram muito por Triunfo quando tinham tudo direitinho. A gente chamava e eles apareciam rápido. Com prédio caindo aos pedaços e caminhão nesse estado, não tem como agir. Eles não têm estrutura nenhuma.
Alternativa a 53 quilômetros
Por enquanto, Triunfo é atendida pelo quartel de Taquari que fica a 53km de distância e a cerca de 47 minutos de carro. A cidade, além de estar no Polo Petroquímico, tem extensão territorial maior do que Porto Alegre. Quando estava em pleno funcionamento, os bombeiros voluntários chegavam em até dez minutos nas áreas mais distantes da cidade e em no máximo 40 minutos na área rural:
– Quando ouvimos uma sirene, a gente fica louco querendo saber o que é. Tu te sentes amarrado. Em caso de ocorrência, tem vontade de ir e não pode. Não pensamos em dinheiro ou recompensa, mas na vontade de viver da pessoa que está em perigo – argumenta Valdeci.
Atualmente, o grupo é qualificado e habilitado pela Escola de Bombeiros de Porto Alegre (Esbo). Destes, dois também tem formação de bombeiro civil – exigência legal para atuar em evento com mais de 5 mil pessoas – e outros dez irão se formar ainda em agosto. Todos os cursos, inclusive o próprio fardamento, foi pago do bolso dos voluntários.
– O que a gente faz é por amor ao serviço, por querer ver o bem da cidade e amenizar a dor de quem está precisando. Quantas vezes deixei meus filhos pequenos em casa para atender uma ocorrência – lembra Darina Schuster Lopes, 46 anos, há 15 no grupo e que trabalha como cozinheira.
"Me sentia um lixo"
Com a atuação limitada por falta de estrutura, os voluntários tem feito palestras de educação e prevenção de incêndio nas escolas.
– Depois que perdermos o caminhão pipa, quando alguém nos acionava, me sentia um lixo de não pode atender – lembra o presidente do grupo, Jocimar dos Santos Lopes, 49 anos, há 16 no como bombeiro voluntário e que trabalha como técnico de segurança do trabalho.
Os gastos com energia elétrica, água e gasolina são mantidos graças a eventos de ação entre amigos que o próprio grupo organiza. A inatividade da associação por falta de estrutura resulta até em represálias da comunidade que já os teve como referência para os casos de urgência:
– Já sofri retaliações, mas se pega fogo em algum lugar, a gente ajuda sem olhar a quem. É a nossa vocação – afirma Clarice Cesar do Prado, 28 anos, que é voluntária há três anos e trabalha como auxiliar de limpeza.
Prefeito quer bombeiros militares
O prefeito argumenta que os bombeiros voluntários não cumpriram o contrato de comodato, pois abandonaram a área cedida pelo poder público. Ele afirma que tem intenção de trazer para a cidade um quartel de bombeiros militares do Estado, estrutura que a cidade nunca teve. Segundo ele, será ofertado um outro local ao grupo com "todos as condições".
– Temos um posto de gasolina da prefeitura que foi desativado e que vamos usar para os bombeiros. Vamos reformar para eles. Estamos conversando com o comando da Corporação dos Bombeiros para montar uma equipe mista em Trinfo (bombeiros militares com bombeiros voluntários). Confio no corpo de bombeiros público e quero este serviço aqui.
A meta do prefeito é ter o quartel do Estado instalado na cidade até o final do ano. Segundo ele, a localização atual da sede dos bombeiros não é adequada e oferece riscos no trânsito para saída do caminhão.
Comando nega
O comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Adriano Krukoski, afirma que a prefeitura de Triunfo ainda não falou do assunto com a Corporação:
– Até o momento, não fomos procurados pelo prefeito para firmar o convênio.Segundo ele, há um plano de expansão para cidades com mais de 50 mil habitantes, o que não é o caso de Triunfo, que tem população estimada pelo IBGE em 2016 de 28 mil habitantes.