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Um projeto terapêutico singular (PTS) foi elaborado para o menino de Bento Gonçalves a pedido do Ministério Público (MP). No documento, cada uma das esferas públicas se compromete a acompanhá-lo, já que internação não é opção: não há serviço ofertado na região, e o menino ainda não completou 12 anos, idade indicada para permanecer em uma clínica. Envolveram-se na elaboração do PTS os setores de educação, saúde, assistência social e o Conselho Tutelar.
O menino recebe acompanhamento psiquiátrico e clínico. A criança faz uso de medicação para controlar transtorno bipolar, esquizofrenia e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Os remédios fizeram o guri engordar, o que reforça a aparência saudável – a pele morena não sustenta traços de machucados vividos na época que tinha a rua e pracinhas como lar e ponto de trabalho, e não palco de brincadeiras de uma criança de oito anos.
Também se mudou para um colégio com boa fama na cidade, a pedido do MP. Acreditou-se que, distante das más companhias, uma melhora seria possível.
– Faz uns seis meses que ele mudou, que não usa mais droga. A gente percebe quando o filho muda. Ele ainda é bastante explosivo, e me chamam direto na escola. Eu ainda tenho medo de perder ele, mas vou lutar até o fim – sentencia a mãe.
A elaboração e assiduidade do PTS foi solicitada na última audiência convocada pela promotor de Justiça Alécio Silveira Nogueira, que atua na Vara da Infância e Juventude.
– Trabalho há 19 anos aqui e acompanhei o desenrolar de várias gestões. Bento Gonçalves tem serviços efetivos na reabilitação, mas ainda é necessário que a rede dialogue mais entre si. Que todos os âmbitos assistenciais conversem. A saúde, a educação, o Conselho Tutelar – entende Nogueira.
A secretária municipal de Educação, Iraci Luchese Vasques, reforça a importância do trabalho de conscientização dentro da sala de aula, fazendo uso de práticas de círculos de paz. Iraci confirma que a rede precisa de mais diálogo, especialmente junto da assistência social.
– Cada vez mais os membros da família estão buscando trabalho para se manter. Por isso, adolescentes e crianças acabam ficando sozinhas. O amigo da rua é sempre mais interessante que o pai e a mãe, que chegam cansados em casa, depois de um dia de trabalho – contextualiza a secretária.
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