Convocada pelas centrais sindicais contra as reformas trabalhista e da Previdência, a greve geral se transformou em um dia de protestos no país. Com adesão menor do que a registrada na paralisação de 28 de abril, o movimento desta sexta-feira (30) não conseguiu parar o transporte público na maioria das capitais, mas teve êxito ao bloquear vias urbanas e algumas das principais rodovias brasileiras.
Em Porto Alegre, a mobilização começou antes do sol raiar. Ônibus e trens chegaram a ter a circulação suspensa, mas a restrição durou apenas algumas horas. Os protestos tiveram continuidade com caminhadas na Capital e atos no Centro. Houve bloqueios em vias como a Avenida da Legalidade e da Democracia, principal acesso à cidade, e em estradas no Interior.
As ações deram visibilidade ao inconformismo, mas a incapacidade de paralisar o transporte público foi determinante para que a greve não tivesse o mesmo alcance da anterior. Isso se repetiu em cidades como São Paulo, onde a Avenida Paulista foi bloqueada, e Rio de Janeiro, que chegou a entrar em "estágio de atenção" devido às barreiras ao trânsito.
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Presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil no Rio Grande do Sul (CTB-RS), Guiomar Vidor reconheceu as dificuldades, mas disse que o principal objetivo dos organizadores foi atingido:
– Apesar de não termos obtido a participação dos rodoviários, várias categorias aderiram. Conseguimos chamar a atenção da sociedade para a gravidade do momento político que estamos vivendo e não vamos desistir.
Além da questão do transporte, um segundo fator contribuiu para o resultado menos expressivo: a divisão das centrais em nível nacional. O motivo de cizânia foi a inclusão do "fora Temer" e das "Diretas já" na pauta de reivindicações, repudiada pela Força Sindical. A entidade é presidida pelo deputado federal Paulinho da Força (SD-SP), que apoia o presidente Michel Temer.
Em terceiro lugar, especialistas apontam o descrédito da sociedade em relação à política como aspecto derradeiro a ser levado em conta na análise da greve. Para Paulo Baía, sociólogo e cientista político na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o "desencanto" explica a baixa participação de pessoas sem vínculos com sindicatos e movimentos sociais.
– A população não está satisfeita com os rumos do país, com todas essas notícias sobre corrupção, mas não tem ânimo para fazer nada, porque acredita que não fará diferença. Há um sentimento generalizado de melancolia – conclui Baía.
Professor do programa de pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Rodrigo González concorda e acrescenta que o "cansaço" se multiplica diante da "falta de perspectivas":
– A sociedade está descontente, mas não sabe exatamente o que quer e não vê uma liderança inconteste no país. Então é difícil mobilizar as pessoas, ainda mais em uma manhã fria e chuvosa, como foi o caso de Porto Alegre. De que adianta ir para a rua, se nada vai acontecer? O que vejo é uma descrença geral, que atinge tanto quem é de direita quanto de esquerda.
Isso não significa, na opinião de González, que o impacto dos protestos não surtirá efeito na política nacional.
– Pode parecer uma boa notícia para o governo o fato de que a mobilização foi fraca, mas o governo continua na corda bamba. Dependendo das próximas notícias, tudo pode mudar a qualquer momento – avalia o cientista político.