– Mãe, quando a água vai baixar para a gente poder voltar para casa?
A pergunta tem sido repetida com frequência, na última semana, por Arthur Samuel, que, aos três anos e meio, enfrenta a segunda enchente, em Uruguaiana, na Fronteira Oeste. A primeira foi em 2014, quando ele tinha apenas cinco meses de vida.
A família de Arthur é uma das 337 que estão fora de casa no município, devido a cheia do rio Uruguai. Conforme a última medição da Defesa Civil, o nível das águas na região atingiu a marca de 11,28 metros, cinco metros acima do normal.
O menino e os pais, Samuel de Moraes, 32 anos, e Sara da Silva da Rosa, 28, estão em um dos três abrigos municipais desde a última segunda-feira, quando Uruguaiana decretou situação de emergência. No Centro Esportivo Municipal Nova Esperança, lonas dividem os espaços ocupados pelas 24 famílias, que tiveram que deixar suas casas às pressas, deixando muitos dos seus pertences para trás.
– O rio foi subindo aos poucos. Conseguimos tirar fogão e geladeira. Mas, em questão de horas, ficou só o telhado da nossa casa para fora – lembra Sara, que está acompanhada dos sogros e cunhado.
Em oito anos morando no bairro Nova Esperança, esta é a terceira vez que a família é atingida pelas cheias do Uruguai. Eles gostariam de se mudar do local, mas, no momento, alegam não ter condições. Desde 2011, estão inscritos em um programa social, à espera de uma nova casa, longe da área ribeirinha.
Outro motivo de preocupação para os afetados pelas cheias é a ação de saqueadores. Quem teve que sair de casa teme pelo pouco que restou. Há relatos de famílias que evitam, até o último instante, deixar suas residências, como o de uma família com duas crianças e uma mulher grávida de oito meses. Outros optam por ficar próximo ao local, em barracas.
Por precaução, até o vice-prefeito do município, Brasil Carus, teve que sair de casa. Quando deixou o local junto com a filha, genro e dois netos, no sábado, faltava poucos centímetros para a água atingir o imóvel de dois pisos, construído a 150 metros do rio. Em três décadas, é a terceira vez que a casa dele é atingida.
– Estou com 82 anos, e o rio significa muito para mim. Criei meus filhos naquela casa e não me arrependo de ter construído no local. Na época, era moda construir casa no centro e eu dizia que a cidade estava de costas para o rio – conta Carus, ex-prefeito de Uruguaiana em duas ocasiões (1976 e 1988).
Prefeitura recebe doações e mantém "estado de alerta"
A prefeitura de Uruguaiana está recebendo doações. Segundo a secretária de Desenvolvimento Social e Habitação, Soraya Salomão, toda a ajuda é bem-vinda, principalmente alimentos, cobertores e água potável. Um dos pontos de coleta é a Casa do Artesão, na rua Flores da Cunha, 1865.
Conforme Soraya, a expectativa é que o nível do rio continue subindo até quarta-feira, pois há previsão de chuva forte na cabeceira, na divisa com Santa Catarina. O número de famílias desalojadas e desabrigadas também deve aumentar.
Os bairros mais afetados são Tarragô, Bela Vista, Santo Antônio, Ilha do Marduque e Cabo Luis Quevedo. No interior, o excesso de chuva também deixou famílias ilhadas, como na localidade de Japeju, no distrito de João Arregui, onde 15 famílias estão sem água potável, pois os poços artesianos estão submersos.
De acordo com o prefeito Ronnie Mello, apesar da trégua na chuva, durante o final de semana, está mantido o "estado de alerta".
– Esse ano, além do volume considerável de chuva, foram abertas as comportas da barragem de Itá. Então, preferimos agir preventivamente e retiramos famílias de áreas que ainda não tinham sido atingidas.