A notícia de que o presidente Michel Temer (PMDB) foi gravado por um dos donos da JBS, Joesley Batista, dando aval para a compra do silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha repercutiu na imprensa internacional.
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O Clarín, da Argentina, lembra que Cunha comandou todo o processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff e que conduziu a queda da petista com "grande respaldo da grande maioria da Câmara dos Deputados". O jornal observa que, no PMDB, Cunha gozava de forte influência e "conhecia em detalhes as tramoias dos principais chefes políticos desse núcleo partidário".
O também argentino La Nación classificou a notícia como uma "fortíssima bomba política" que ameaça o governo Temer um ano após o "polêmico impeachment" de Dilma. O periódico observa que tais denúncias contra Temer coloca o presidente em uma situação jurídica "delicada", uma vez que os supostos crimes teriam ocorrido no exercício de seu mandato.
Já o El País do Uruguai destacou a frase "tem que manter isso", dita por Temer na conversa com a JBS, referindo-se a uma mesada que Cunha estava recebendo. A publicação ainda deu espaço para um ato falho cometido pelo âncora do Jornal Nacional, William Bonner, que chamou Temer de "ex-presidente".
O português Público apontou o "tempo recorde" em que a delação premiada da JBS foi negociada, se comparada com os dez meses de negociação no caso da Odebrecht e da OAS.
Europa
A imprensa europeia dá destaque, nesta quinta-feira (18), à notícia. Os casos de corrupção no país vêm tendo bastante repercussão nos veículos de comunicação locais e o tom na região é o de que Temer pode ter de sair do cargo pouco depois de um ano de assumir.
O jornal francês Le Figaro diz que Temer está "em meio a uma tormenta". A publicação traz informações do Brasil, contando que, em 7 de março, o presidente se reuniu com um dos proprietários da JBS, Joesley Batista. O periódico explica que, antes de ser condenado final de março a 15 anos de prisão por corrupção, Cunha, um dos políticos mais influentes do Brasil, tinha trabalhado para o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
O Le Figaro também registra a negativa da Presidência: "O presidente Michel Temer nunca pediu pagamento para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. Ele não participou ou autorizou qualquer operação com o objetivo de evitar uma confissão ou uma colaboração na Justiça do ex-presidente da Câmara", diz comunicado do Planalto.
O português Diário de Notícias traz a informação de que Batista entregou à polícia uma gravação onde o presidente incentiva o pagamento pelo silêncio de Cunha. "Fala-se em queda do governo e eleições antecipadas", cita o jornal. A publicação detalha que o empresário também mandou para a polícia um vídeo em que Rodrigo Loures (deputado do PMDB ligado a Temer) recebe uma mala com R$ 500 mil para resolver assuntos ligados à JBS.
Em outro áudio, o candidato à presidência derrotado em 2014 por Dilma, conforme o jornal lusitano tratou o senador e presidente do PSDB, Aécio Neves, teria pedido R$ 2 milhões para Batista. A entrega também teria sido filmada com a autorização da polícia. "As consequências destes áudios e vídeos, segundo as primeiras análises da imprensa (brasileira), podem ser a demissão de Temer e a precipitação de eleições. Mas como estamos a menos de dois anos da data marcada para a realização do próximo sufrágio, marcado para outubro de 2018, a eleição teria de ser, segundo a Constituição brasileira, feita pelos congressistas, na sua maioria apoiantes do governo de Temer".
Na capa do site do Le Monde, uma foto de Temer também chama para a notícia: "apenas um ano após assumir o cargo, os dias do presidente Michel Temer parecem contados", traz a manchete. O jornal francês cita a existência de uma "informação mais embaraçosa" para o chefe de Estado. "Em São Paulo, na Avenida Paulista, onde há um ano os manifestantes gritavam 'Fora Dilma', uma multidão explodiu de alegria, gritando: 'este é o fim do governo golpista Michel Temer". No Rio de Janeiro, reportou o jornal, houve um panelaço.
O El País espanhol diz que "um novo choque político colocou Brasil de cabeça para baixo em questão de minutos". A publicação também relatou a manifestação popular na Avenida Paulista, local emblemático da capital financeira do país. O jornal diz que ninguém ainda ouviu a gravação e que o governo nega a sua existência. O El País salienta que a Procuradoria-Geral da República se recusou a confirmar ou negar sua existência. Na reunião com Temer, reproduz o periódico, Batista teria dito que pagava uma taxa mensal a Cunha, que teria um "conhecimento quase enciclopédico da rede de corrupção" no caso Petrobras.
O britânico The Guardian também mantém na capa a notícia sobre o Brasil: "gravações explosivas ligam presidente Michel Temer a suborno". A publicação fala do pedido de impeachment de Temer nas ruas e entre alguns congressistas. O jornal lembra que Cunha é do mesmo partido de Temer, o PMDB.