Diante da previsão de que mais de 40 mil pessoas se reúnam em Curitiba nesta quarta-feira para o depoimento do ex-presidente Lula, o juiz Sergio Moro divulgou um vídeo no qual pede que os simpatizantes da Lava-Jato se mantenham afastados da sede da Justiça Federal. O apelo, contudo, não deve surtir efeito. Apoiadores do petista e ativistas anti-PT irão se concentrar em dois pontos da capital paranaense, isolados por policiais militares.
Com 1 minuto e 20 segundos de duração, o vídeo de Moro foi postado no sábado à noite, em uma página do Facebook chamada "Eu MORO com ele", mantida por sua mulher, Rosangela Wolff Moro. Nele, o juiz diz que o interrogatório é um ato normal do processo e "uma oportunidade para o ex-presidente se defender". Segundo Moro, "nada de diferente ou anormal vai acontecer":
- Muita gente que apoia a Operação Lava-Jato pretende vir a Curitiba (...). Esse apoio sempre foi importante, mas nessa data ele não é necessário. Tudo o que se quer evitar é alguma espécie de confusão e conflito, e acima de tudo, não quero que ninguém se machuque (...). Não venham, não precisa. Deixa a Justiça fazer o seu trabalho - pede o juiz.
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Para o presidente da Associação dos Juízes Federais do Rio Grande do Sul, Gérson Godinho, a atitude de Moro não é comum, mas positiva devido à complexidade que cerca o processo contra Lula. Segundo Godinho, o juiz foi cauteloso ao se dirigir apenas aos apoiadores da Lava-Jato e tentou serenar os ânimos nos dois lados antagônicos.
- Ele não fez nenhum comentário sobre o processo, apenas tentou colocar água nesta fervura. E quando evita citar os simpatizantes de Lula, é para evitar que o gesto fosse visto como provocação. Não sei se a mensagem foi eficaz, mas foi bem-intencionada - avalia Godinho.
Relações públicas de dois movimentos simpáticos a Moro - o Curitiba Contra a Corrupção e o Acampamento Lava-Jato -, a professora Marli Resende diz ter entendido o recado do magistrado, mas que não há como impedir a população de sair às ruas para protestar contra Lula. A ativista, uma das organizadoras de um piquete de apoio à Lava-Jato montado em frente ao prédio da Justiça Federal, antecipa que os manifestantes irão permanecer no limite determinado pela Polícia Militar (PM).
- O Moro é uma pessoa muito bacana, nós o adoramos e respeitamos. Sei que ele quer evitar qualquer confusão. Mas vamos mostrar que existe um lado verde e amarelo que se opõe a toda essa corrupção. Vamos pra rua, sem quebrar nada nem desrespeitar a lei, mas protestando - avisa Marli.
Por questões de segurança, a PM irá isolar um perímetro de 150 metros ao redor da Justiça Federal na quarta-feira. Apenas moradores e jornalistas credenciados poderão passar pelo bloqueio. Os simpatizantes de Lula, estimados em 30 mil pessoas, irão se concentrar na Boca Maldita, no centro de Curitiba, a cerca de quatro quilômetros do local do depoimento. Já os ativista anti-PT ficarão no Centro Cívico, distante 2,5 quilômetros.
Na madrugada de sábado, faixas e cartazes de apoio a Lava-Jato e contra Lula foram arrancados do acampamento montado em frente ao prédio onde Moro trabalha. Um dia antes, a juíza substituta da 5ªVara da Fazenda Pública de Curitiba, Diele Zydek, proibiu a montagem de estruturas em qualquer praça da cidade, das 23h de segunda-feira até as 23h de quarta-feira. O decisão atende a um pedido da prefeitura.