A presença da Braskem no Rio Grande do Sul, especialmente no polo petroquímico de Triunfo, é apontada pelo delator Cláudio Melo Filho como um dos fatores que levou o deputado federal Marco Maia (PT) a pedir "colaboração" para a empresa controlada pela Odebrecht. O parlamentar gaúcho é alvo de dois inquéritos autorizados pelo ministro Edison Fachin. Em um deles, é investigado por caixa 2 durante a campanha de 2014 à Câmara dos Deputados.
No depoimento gravado em dezembro, cujo vídeo foi divulgado nesta quarta-feira, após Fachin retirar sigilo, Melo Filho diz que foi procurado em 2014 por Maia.
– Fui ao gabinete dele. Ele falou que estava na pretensão da reeleição à Câmara dos Deputados e perguntou se a Odebrecht poderia fazer uma contribuição a ele – afirmou o ex-executivo.
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Questionado sobre qual sua relação com o deputado, Cláudio Melo Filho disse que conheceu Maia em um evento em Nova York em 2011, e que foi com Marcelo Odebrecht a um jantar oferecido pelo deputado quando ele era presidente da Câmara (o parlamentar esteve à frente da Casa de dezembro de 2010 a fevereiro de 2013). A visita seria de "cortesia" e não teria havido nenhuma menção a repasses naquele momento. Por isso, os dois teriam um contato "muito resumido" até a conversa de 2014, quando efetivamente teria ocorrido a negociação do pagamento de caixa 2.
– Eu acredito que, neste caso, por exemplo, ele me procurou porque, como ele tem relação com as pessoas da Braskem, talvez, através de mim ele poderia ter um tratamento um pouco melhor ao falar comigo, porque ele sabia que a minha pessoa levaria esse pedido a Marcelo Odebrecht.
Para o delator, Maia tinha muitos contatos na Braskem, até porque buscava investimentos no polo petroquímico, mas o procurou para chegar ao presidente da Odebrecht. A estratégia teria dado certo, já que Melo Filho afirmou que o pedido foi atendido e a empresa repassou R$ 1,35 milhão à candidatura do petista, valor aprovado pelo empresário.
– Há no sistema duas informações, de dois valores, que, juntos, performam R$ 1,35 milhão. Nessa mesma informação, consta na planilha, tem escrito MBO, que é Marcelo Bahia Odebrecht. Evento 14DP: evento 14 significa eleição de 2014, e DP significa diretor presidente, o que atribui a decisão ao próprio Marcelo Odebrecht. E o codinome é Gremista – detalhou o delator.
Ele ainda confirmou que o dinheiro saiu do Setor de Operações Estruturadas da empresa e que combinou com um assessor de Maia sobre a entrega da "contribuição". Ele disse não se lembrar do local onde ocorreu este encontro.
No depoimento, Cláudio Melo Filho ainda explica que foi ele quem concebeu o apelido de Marco Maia que conta nas planilhas da Odebrecht:
– O Gremista foi um apelido que veio de conversas minha e de Marcelo, porque eu me lembro que conversando uma vez com o deputado, eu falando do meu time de futebol por alguma razão, tinha um jogo, acho que de Bahia e Grêmio, e eu sou Bahia, comentei, e ele disse que era Grêmio.
Marco Maia é investigado por falsidade ideológica eleitoral, corrupção passiva e ativa e lavagem de dinheiro. Além do caso envolvendo suposto caixa 2 na campanha de 2014, o gaúcho também responde a um inquérito que apura vantagens indevidas referentes à construção da linha 1 da Trensurb – entre Novo Hamburgo e São Leopoldo, no Vale do Sinos. Essa investigação tem como base a delação de outros dois ex-dirigentes da Odebrecht, Benedicto Junior e Valter Lana. Neste segundo inquérito, seu apelido é apontado como Aliado.
O que diz Marco Maia:
"São completamente mentirosas essas informações. Não há absolutamente relação minha de pedido de qualquer ilegalidade para ter qualquer benefício desta ou de qualquer outra empresa que tenha atuado no Rio Grande do Sul ou no país."