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O trânsito gaúcho começou o ano mais violento. Com 20 mortes a mais, totalizando 288 vítimas de acidentes, os meses de janeiro e fevereiro registraram um aumento de 7,5% na comparação com o mesmo período de 2016. Embora seja cedo para saber se 2017 irá reverter a tendência dos últimos anos de redução na mortalidade nas rodovias, os dados acendem um sinal vermelho.
As causas para o aumento não são claras, já que não houve mais feriadões do que no ano passado no período e a fiscalização vem aumentando, teoricamente refletindo em maior conscientização dos motoristas.
– Existe uma flutuação estatística que ocorre em alguns meses do ano e acreditamos que a situação vá se reverter nos próximos meses. No entanto, sem dúvida, acende uma preocupação para os órgãos de fiscalização e é preciso analisarmos tecnicamente os dados para tentarmos atacar as causas – afirma Ildo Mário Szinvelski, diretor-geral do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RS).
Engenheiro civil e doutor em Transportes, o professor da UFRGS João Fortini Albano concorda que o aumento é relativamente baixo e que pode ser pontual. Para ele, algumas circunstâncias envolvendo a infraestrutura das rodovias poderia explicar o maior número de vítimas, entre elas a demora em duplicar rodovias importantes, como a BR-116 e BR-386, além de obras que dificultam o tráfego principalmente para quem não conhece as vias.
– A frota de carros já é grande para o sistema rodoviário existente e, no início do ano, período de férias, há maior circulação de motoristas de cidade, aqueles que não estão tão acostumados com rodovias, e como ainda há obras e carência de duplicação, isso pode levar a maior acidentalidade – analisa Albano.
A frota de carros cresceu em 2016, ainda assim o crescimento é menor do que o número de vítimas, não podendo ser apontado como causa de uma maior mortalidade. Em fevereiro do ano passado, o Rio Grande do Sul tinha 6,2 milhões de veículos registrados. Em fevereiro de 2017, o número passou para 6,4 milhões – o que significa 2,6% mais carros nas ruas.
Ao analisar acidentes nas rodovias federais, o chefe de Comunicação Social da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Alessandro Castro, observa que os casos têm sido mais graves. Um indício disso é que nesses dois primeiros meses do ano, o número de ocorrências com morte também cresceu em todas as vias, mas o índice foi de 4%, portanto, menor do que o total de vítimas (7,5%). Por outro lado, Castro acredita que as causas dos acidentes são comportamentais.
– Falta de responsabilidade do motorista. Muitos condutores não usam cintos ou não cobram que os passageiros usam. Muitos dirigem cansados, não se preparam para pegar estrada. E qualquer ato falho pode significar a morte – afirma o chefe de Comunicação da PRF.
Segundo Castro, as investigações dos acidentes mostram que uso de celular, distração ao volante, dormir na direção, velocidade não compatível com dias de chuva e outras "pequenas barbaridades que poderiam ser evitadas" estão por trás dos choques.
O chefe de operações do Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM), major Luis Antonio Machado, concorda:
– A gente trabalha com um tripé de multas: alcoolemia, velocidade e a ultrapassagem em local proibido. Muito do que está acontecendo é fruto da imprudência do motorista, porque a fiscalização tem acontecido, principalmente com bafômetro e radar.
Questionado sobre se as fiscalizações não estariam surtindo efeito, o major Machado alerta:
– Mesmo se a gente colocar um policial por quilômetro, acidentes vão acontecer e pessoas vão morrer enquanto houver imprudência dos motoristas.
Fiscalização reforçada nos feriadões
Os órgãos de trânsito realizam operações já conhecidas dos gaúchos em ocasiões especiais, durante o verão e nos feriadões, como Balada Segura e Viagem Segura. Diante de uma sequência de finais de semana estendidos, a fiscalização está sendo reforçada.
Na Páscoa, a estratégia surtiu efeito. O feriadão deste ano registrou a menor média de óbitos desde o início da Operação Viagem Segura, que completa seis anos. Três pessoas morreram a cada dia entre a última quinta-feira e o domingo, segundo levantamento do Detran. A média das últimas quatro operações de Páscoa era de 14 acidentes fatais nos dias que contemplavam o feriadão.
O CRBM, por exemplo, concentrou maior efetivo durante a Páscoa nas rodovias estaduais da Serra e do Litoral Norte, e vai repetir o esquema neste feriadão de Tiradentes. Já na véspera e no 1º de Maio, o comando vai reduzir o número de PMs no Litoral Norte, reforçando a fiscalização na Serra e estradas do Interior, como a RSC-287, que liga a Região Metropolitana à região central do Estado.
– Já temos quatro postos nessa rodovia, mas vamos aumentar o uso do radar e de operações com etilômetro para tentar retirar os motoristas infratores do trânsito – aponta o major Machado.
Já a PRF distribui seu efetivo segundo os pontos com maior número de acidentes. Nesse sentido, a BR-386 é uma das principais rodovias com reforço de fiscalização, além da BR-290 (Sul) e BR-116.