Em jantares ou no cafezinho anexo ao plenário do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) tem feito um alerta aos colegas: permanecer ao lado de Michel Temer é "suicídio eleitoral". Com dificuldades para conquistar o quarto mandato consecutivo e reeleger o filho governador de Alagoas no próximo ano,
o peemedebista quer se descolar de um presidente com apenas 10% de aprovação e consolidar posição contrária às reformas da Previdência e trabalhista, que enfrentam resistência entre os eleitores.
Preocupado com o desgaste provocado pela Lava-Jato em sua popularidade e ciente de que pode repetir a sina de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) se perder o foro privilegiado, o ex-presidente do Senado viu nas críticas públicas à política econômica a forma de antecipar seu distanciamento de Temer, com quem há décadas mantém divergências.
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Atual líder do PMDB no Senado, Renan usou redes sociais, imprensa e tribuna para provocar o presidente. Chamou o governo de "errático", lembrou os indicados por Cunha, contestou a aprovação da terceirização e as mudanças nas aposentadorias.
– O PMDB vai ter de patrocinar as reformas vindas do Planalto sem discutir? Se continuar assim, vai cair o governo para um lado e o PMDB para o outro – disse na terça-feira.
Na mesma noite, Renan voltou a fritar Temer em um jantar na casa da senadora Kátia Abreu (PMDBTO). Metade da bancada do partido compareceu. Ele criticou a falta de diálogo do Planalto, mas também ouviu dos colegas que não poderia misturar a liderança com problemas eleitorais. Em Alagoas, Renan encara rejeição alta e enfrenta outros cinco interessados na disputa por duas vagas no Senado.
Apesar da advertência dos colegas, o cacique foi à tribuna na quarta-feira atacar "a política econômica de arrocho, de juro alto, de aumento de imposto, de recessão, de desemprego" de Temer. Recebeu os aplausos de petistas.
– Estou pensando em ceder a minha vaga de líder da oposição ao senador Renan – brincou Humberto Costa (PT-PE).
A posição de Renan esfriou a relação com Romero Jucá (PMDB-RR) e Eunício Oliveira (PMDBCE), eleito presidente do Senado com sua ajuda. No Planalto, Temer passou a receber um por um senadores do PMDB, a fim de esvaziar o desafeto. Questionado sobre o atrito, o presidente cutucou:
– Ele (Renan) sempre agiu dessa maneira, ele vai e volta. Não posso todo momento brigar com quem não é presidente da República.
A rusga ainda não resultou em rompimento. Temer recebeu Renan Filho na quarta-feira e garantiu que a oposição do patriarca não prejudicará Alagoas. Era o que pai e filho desejavam ouvir, interessados na distância regulamentar do governo, sem abrir mão de repasses. A ida de Renanzinho ao palácio reforçou o coro de governistas sobre a "sede" do senador por cargos, de olho na recriação de um ministério de Portos.
– Renan não quer cargos. Critica porque é um dos poucos que tem coragem. Temer, Moreira Franco e Eliseu Padilha não têm um voto, querem reformas duras, mas quem vai pagar a conta é a gente – rebate Kátia Abreu.
A reclamação da senadora é repetida por Renan em conversas reservadas. Ele prevê que as reformas não aquecerão a economia, cenário ideal para turbinar Luiz Inácio Lula da Silva, caso ele tenha condições legais de concorrer ao Planalto.
O peemedebista teve acesso a pesquisas que mostram o ex-presidente como favorito em Alagoas para 2018. Assim, tenta convencer outros seis senadores de Norte e Nordeste que o petista pode ser decisivo nas reeleições. Adepto tardio do impeachment de Dilma Rousseff e sem jamais ter cortado a interlocução com Lula, Renan ensaia aliança com o PT. O partido não descarta o casamento, mas os dois lados preferem esperar. Diante das incertezas da Lava-Jato, os Calheiros também não fecham a porta ao PSDB, atual rival nas disputas de Alagoas.
Cenário político
O futuro em Alagoas
-Com duas vagas em jogo no Senado, Renan Calheiros trabalha pelo quarto mandato seguido. Junto, articula para manter o herdeiro, Renan Filho, como governador. As alianças com principais partidos e famílias da política local estão em negociação, mas, por ora, o PMDB dos Calheiros rivaliza com a coalisão PSDB-PP-PDT, que comanda a prefeitura de Maceió.
Disputa por vaga no Senado
Renan Calheiros (PMDB) - Líder do PMDB, é réu no STF, alvo da Lava-Jato e está na nova lista de Janot. Precisa do foro privilegiado. O PMDB tem o maior número de prefeitos em Alagoas, mas perdeu nos maiores colégios. Em levantamento de março do Instituto Paraná Pesquisas sobre as intenções de voto para o Senado, ele aparece com 25,1% – em terceiro lugar.
Oponentes
-Teotônio Vilela Filho (PSDB)
-Ronaldo Lessa (PDT)
-Benedito de Lira (PP)
-Maurício Quintela Lessa (PR)
-Marx Beltrão (PMDB)
IMPEDIDO
De olho no foro privilegiado, Renan poderia tentar cadeira de deputado federal, considerada mais fácil. Mas como o filho é governador do Estado, a lei o impede de disputar vaga na Câmara. Para seguir em Brasília, sua opção é o Senado.
Especula-se que Renan e Teotônio Vilela costuram a reedição do acordo que rendeu as eleições de ambos ao Senado em 1994 e 2002, quando ganharam o apelido de "siameses". Vilela nega a aproximação, que bancaria a recondução ao governo de Renan Filho, em detrimento da candidatura do prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB-AL). Analistas entendem que, para o futuro de Renan, seria o melhor arranjo, por juntar os dois maiores partidos do Estado.
Apesar do apoio ao impeachment de Dilma Rousseff, Renan trabalhou para manter a elegibilidade da petista e não cortou a interlocução com Luiz Inácio Lula da Silva. De olho na popularidade do ex-presidente, articula para tê-lo em seu palanque e no de Renanzinho nas aleições de 2018.
Crítico do governo Temer, Renan tem comentado com outros colegas que será "suicídio eleitoral" apoiar o atual presidente até a eleição. Junto ao Planalto, seu interesse é por repasses de verbas e cargos. Levantamento do Paraná Pesquisas, datado de março, coloca Lula com 39% das intenções de voto em Alagoas, enquanto Michel Temer tem apenas 3,5%.
Reeleito senador em 2014, Fernando Collor estará na metade do mandato em 2018. Alvo da Lava-Jato e filiado ao PTC, ainda não definiu se abraçará PMDB ou PSDB. Para agradar ao conterrâneo, de quem já foi aliado e inimigo, Renan trabalhou para o ex-presidente assumir neste ano a presidência da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado.
PREFEITOS
Para compensar a perda de espaço nos maiores colégios eleitorais, os Calheiros saíram em busca de novos prefeitos para o PMDB ou partidos aliados, provocando baixas no PSDB. Foram os casos dos municípios de Porto Real do Colégio, Teotônio Vilela e Campo Alegre.
E A LAVA-JATO?
Uma das principais preocupações de Renan é o impacto da Lava-Jato em sua popularidade, já em queda no Estado. Alvo de uma ação penal por peculato e de 12 inquéritos no STF, sendo nove na operação, ele é um dos nomes da segunda lista do procurador-geral da República Rodrigo Janot, com base nas delações da Odebrecht. O peemedebista teme se tornar réu em novos processos, repetindo o desgaste sofrido por Eduardo Cunha.
GOVERNO DO ESTADO
Renan Filho (PMDB) – Atual governador, o filho de Renan tem a gestão bem avaliada e tenta manter o diálogo com Michel Temer.
Rui Palmeira (PSDB) – Reeleito prefeito de Maceió em 2016, venceu Cícero Almeida, candidato do PMDB. Planeja disputar o governo do Estado, incentivado por Teotônio Vilela Filho.