A exemplo do que ocorreu na noite de 8 de julho de 2003, mais uma vez neste domingo a comunidade de São Francisco de Paula se mobilizou em solidariedade a centenas de famílias desabrigadas após a passagem de uma violenta tempestade pelo município, com ventos de mais de 100 km/hora, registrada às 8h15min. Se 14 anos atrás a tormenta deixou cerca de 50 feridos, desta vez a rota percorrida pelo vento foi ainda mais devastadora, atingindo em cheio bairros e loteamentos residenciais inteiros e deixando uma pessoa morta e outras 70 feridas, além de 500 casas destruídas.
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– Daquela vez o estrago também foi preocupante, mas foi menor. o vento passou por áreas descampadas, pelo cemitério e depois saiu. Agora pegou três bairros, o centro e mais o distrito industrial. Foi o pior caminho possível – compara o prefeito, Marcos Aguzzolli (PP).
Para dar conta do atendimento aos flagelados, a prefeitura improvisou um acampamento no ginásio de esportes. Enquanto centenas de moradores chegavam com sacolas de suprimentos, roupas, colchões e lonas, que eram recebidas e organizadas por dezenas de voluntários, famílias desabrigadas eram cadastradas para receber as doações.
– O problema é que, como a cidade ficou sem energia, os mercados estão fechados e não há onde comprar comida. Tivemos de reunir o que havia em casa para trazer – comenta a publicitária Renata Barth, 30.
Coordenador da Defesa Civil de São Chico, Maurício Borges destaca que a principal dificuldade enfrentada nas localidades atingidas era convencer os moradores a deixarem suas casas e se abrigarem no ginásio. Muitos temiam saques, e para isso foi pedido reforço policial à cidades vizinhas.
– A Defesa Civil do Estado veio para nos dar ajudar essa semana. Estamos cadastrando todas as famílias e pedindo o número de moradores, para distribuir os kits com as cestas básicas. Já recebemos muita coisa, mas ainda precisamos de doações de água, alimentos, cobertores, colchões e roupas.
Estrago maior foi em área carente do município
Uma das áreas mais carentes do município de 21 mil habitantes, na saída rumo a Tainhas, o loteamento Santa Isabel foi um dos pontos mais danificados. Em questão de minutos, dezenas de famílias perderam tudo, seja porque o vento levou o telhado e a chuva molhou a mobília, ou porque a casa simplesmente foi abaixo. Enquanto a vizinhança se mobilizava para resgatar feridos e encaminhá-los ao hospital, os desabrigados tratavam de avaliar o tamanho do prejuízo e salvar qualquer pertence que fosse possível.
Na Rua Felipe dos Santos, Cleonice Borges, 48 anos, parecia não acreditar que a casa que adquiriu com mais de 20 anos de trabalho em uma fábrica de calçados deixou de existir em um sopro. Acordada pelo barulho do vento, Cleonice teve só o tempo de acordar a filha adolescente e a neta recém-nascida, para que saíssem correndo para a rua enquanto a estrutura começava a desabar.
– Sabe o que é nunca perder um dia de serviço, mesmo doente, para poder pagar as contas, e de uma hora para outra não ter mais nada daquilo que tu adquiriu? Tudo espalhado pelo chão. Teve coisa que foi parar nos terrenos dos vizinhos. Só salvamos nossas vidas mesmo. Que Deus possa olhar por nós agora – lamenta.
"Pelo barulho, parecia um avião caindo", diz morador
Na esquina da Felipe dos Santos com a João Goulart, o prestador de serviços gerais Valdomiro Menger, 46, e os filhos Arlindo e Kelvin, 14 e 13, verificavam que da casa onde moravam, muito pouco poderá ser aproveitado para a reconstrução. Toda a parte da frente foi empurrada para trás, restando escorada nas paredes internas.
– Eu tive que sair só de camisa e cueca para a rua, porque não deu tempo de pegar nada. Pelo barulho, parecia até que era um avião caindo. A gente olha e não consegue acreditar. Se sente perdido – diz Valdomiro.
Além do Santa Isabel, o tornado provocou destruição também no distrito industrial, às margens da ERS-020, no loteamento São Miguel e no bairro Gaúcha. Danos menores foram registrados na área central.
Após decretar estado de calamidade pública, o prefeito Marcos Aguzolli dividia as atenções entre a solidariedade para com os moradores e chamadas no seu celular, que vinham de todo o Estado e até de Brasília, oferecendo apoio.
– Nesse momento a gente vê como tem gente parceira, que nos dá um pouco de tranquilidade para estar aqui oferecendo roupa pra quem chega encharcado, comida e café quente para quem precisa recarregar as forças. Boa parte da cidade não existe mais e nós vamos trabalhar muito para reconstruir. Mas a prioridade é prestar assistência às pessoas – afirma Aguzolli.
Como ajudar
Interessados em fazer doações podem fazer contato com o Corpo de Bombeiros de São Francisco de Paula, pelo telefone (54) 3244.1299, ou com o Coordenador da Defesa Civil, Maurício Borges - (54) 99968.6335. Outro meio é através da prefeitura, pelo (54) 3244.1386.