Pelo menos 22 pessoas que ocupam ou ocuparam ministérios nos governos Lula, Dilma e Temer foram mencionadas por delatores da Odebrecht ou aparecem em documentos apreendidos com a empreiteira. Muitos detalhes estão nos depoimentos de 78 executivos da empreiteira que firmaram acordo de colaboração premiada na Lava-Jato e que ainda permanecem sob sigilo. Há menções a caixa 2, e outras, a corrupção.
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Zero Hora teve acesso a uma lista de ministros e ex-ministros mencionados nas delações ou documentos. Os depoimentos indicam quais seriam algumas das ligações dos políticos com a Odebrecht. Não é possível dizer se os citados estão incluídos nos 83 pedidos de investigação feitos pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com base nas delações dos executivos, nem se terão inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Confira quem são e o que os delatores imputam contra cada um:
EDISON LOBÃO
Como ministro das Minas e Energia de Dilma, teria recebido R$ 1 milhão para campanhas do PMDB no Nordeste. O pagamento seria de um consórcio formado pelas empreiteiras UTC, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Odebrecht, quando elas atuavam em Angra 3.
Contraponto: O advogado de Lobão, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, disse que o país passa pela criminalização da política e que os delatores agem "de forma falsa e estranhamente seletiva". Ele nega irregularidades.
HENRIQUE ALVES
Ministro do Turismo de Dilma teria participado de reunião, junto com o então vice-presidente Michel Temer (PMDB), na qual foi pedido à Odebrecht R$ 10 milhões para a campanha eleitoral de 2014. O dinheiro teria sido repassado por caixa 2. Após o impeachment de Dilma, Alves foi ministro também de Temer.
Contraponto: Na época em que as citações foram tornadas públicas, a defesa de Alves foi feita pelo Palácio do Planalto. Foi emitida nota "em repúdio às falsas acusações de Cláudio Melo Filho, da Odebrecht". Foi informado que os R$ 10 milhões repassados foram declarados à Justiça.
ELISEU PADILHA
Ministro dos Transportes no governo Fernando Henrique, da Aviação Civil no de Dilma e da Casa Civil de Temer, Padilha teria canalizado pagamentos de R$ 4 milhões feitos pela Odebrecht para campanhas do PMDB em 2014, via caixa 2. É mencionado também como beneficiado por contratos em obras.
Contraponto: O ministro afirmou nesta semana que não vai comentar a respeito da "palavra de um delator".
MOREIRA FRANCO
Ministro nos governos Dilma e Temer, teria participado da caixinha bancada pela Odebrecht para alimentar campanhas do PMDB em 2014, via caixa 2.
Contraponto: A assessoria foi contatada, mas o ministro não respondeu ao questionamento.
GILBERTO KASSAB
Presidente licenciado do PSD, ministro das Cidades de Dilma e atual ministro das Ciências e Tecnologia e Comunicações de Temer, teria coletado R$ 14 milhões via caixa 2 da Odebrecht. Segundo os delatores, o dinheiro seria usado para campanhas em 2014.
Contraponto: À época da divulgação das notícias de caixa 2, Kassab afirmou que as doações recebidas da empresa estão declaradas e recomendou cautela com relação às delações.
ALOYSIO NUNES
Atual ministro das Relações Exteriores de Temer, teria recebido R$ 500 mil por caixa 2 na campanha que o elegeu senador, em 2010, pelo PSDB.
Contraponto: O ministro classificou como "mentira" o caixa 2 citado pelos delatores e afirmou não ter recebido doações da Odebrecht em 2010.
JOSÉ SERRA
Ex-ministro da Saúde de Fernando Henrique e das Relações Exteriores de Temer, teria recebido R$ 23 milhões da Odebrecht para sua campanha presidencial de 2010, pelo PSDB. O dinheiro teria sido depositado na Suíça.
Contraponto: À época da divulgação das notícias de caixa 2, a assessoria de imprensa do então ministro elaborou nota alegando que o comitê da candidatura de Serra à Presidência recebeu R$ 2,4 milhões da Odebrecht em 2010, e negou outros repasses.
BRUNO ARAÚJO
atual ministro das Cidades de Temer, teria recebido R$ 300 mil da Odebrecht para sua campanha a deputado federal em 2010, pelo PSDB. Parte disso em caixa 2.
Contraponto: Em nota, o ministro afirmou que sempre teve relação institucional com todas as empresas e confirmou ter recebido recursos da Odebrecht "dentro da lei".
SILAS RONDEAU
Ministro das Minas e Energia de Lula, teria ajudado a Odebrecht a negociar contratos no Exterior, mediante repasses de caixa 2 ao PMDB (seu partido). Teria ajudado a coletar R$ 45 milhões para o partido em 2010 e 2014.
Contraponto: Procurado pela reportagem, não foi encontrado.
ANTONIO PALOCCI
Ex-ministro da Fazenda de Lula e da Casa Civil de Dilma, teria intermediado captação de R$ 2 milhões de caixa 2 para campanha dela à eleição em 2010. É também citado como interlocutor da empreiteira em contratos vantajosos com a Petrobras. É filiado ao PT.
Contraponto: O Partido dos Trabalhadores (PT) afirma que os ex-ministros não comentarão supostas delações que estão sob sigilo de justiça.
GUIDO MANTEGA
A Odebrecht teria emprestado R$ 3,5 milhões a uma revista, a pedido de Mantega, ministro da Fazenda de Dilma. O petista também teria pedido R$ 50 milhões à empreiteira para a eleição de Dilma em 2010. Em troca, garantiria benefício tributário à empresa.
Contraponto: O Partido dos Trabalhadores (PT) afirma que os ex-ministros não comentarão supostas delações que estão sob sigilo de justiça.
JAQUES WAGNER
Teria recebido R$ 10 milhões para a reeleição como governador da Bahia em 2010 (pelo PT) e um relógio de US$ 20 mil como presente da Odebrecht. Quando ministro da Casa Civil de Dilma, teria ajudado a empreiteira a receber do governo o pagamento de uma dívida de R$ 290 milhões.
Contraponto: O ex-ministro admitiu ter ganho o relógio, mas que o guardou e nunca o usou. Ele admitiu doações da Odebrecht, mas chamou as delações de "circo".
ERENICE GUERRA
Ex-ministra da Casa Civil de Dilma, teria influenciado para que a Odebrecht conseguisse contratos em Belo Monte, entre 2010 e 2014. É ligada ao PT.
Contraponto: O Partido dos Trabalhadores (PT) afirma que os ex-ministros não comentarão supostas delações que estão sob sigilo de justiça.
FERNANDO PIMENTEL
O petista teria recebido propina da Odebrecht quando era ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio de Dilma. Em troca, teria pressionado o BNDES para conseguir financiamentos para a empreiteira no Exterior.
Contraponto: À época do indiciamento de Pimentel, o advogado do petista, Eugênio Pacelli, afirmou que o governador agia como presidente de um órgão colegiado, que não tomava decisões sem aprovação de outras pessoas. Segundo o advogado, o indiciamento foi feito com base exclusivamente no depoimento de um delator.
EDINHO SILVA
É apontado de ter recebido repasses via caixa 2 na campanha de Dilma à reeleição, em 2014. Ele era o tesoureiro da campanha petista e teria exigido dinheiro da Odebrecht, oferecendo oportunidades de contrato como contrapartida.
Contraponto: À época da divulgação das delações, refutou "com veemência" ter gerenciado caixa 2 da campanha presidencial de Dilma e disse que todas as doações foram declaradas à Justiça.
ALOIZIO MERCADANTE
Como ministro da Ciência e Tecnologia de Dilma, o petista teria influenciado para que a Odebrecht conseguisse melhores preços em sete contratos de navios-sonda da Petrobras.
Contraponto: Em nota, na época da notícia sobre ajuda à Odebrecht, ele disse que ajudou no estímulo à construção de um navio oceanográfico. Ele também admitiu defesa do pré-sal, mas negou envolvimento com o negócio das plataformas marítimas.
GLEISI HOFFMANN
Ministra da Casa Civil no governo Dilma, teria centralizado caixa 2 de R$ 1,5 milhão para campanhas do PT nas eleições municipais de 2012. Ela também teria coletado junto à Odebrecht R$ 4 milhões para a campanha de reeleição de Dilma em 2014.
Contraponto: À época da divulgação dos depoimentos, Gleisi disse que as doações seriam do Diretório Nacional do PT para o Diretório Estadual petista no Paraná, e que tudo foi regular.
PAULO BERNARDO
Ministro do Planejamento de Lula e das Comunicações de Dilma, teria, ao lado de sua mulher, Gleisi Hoffmann, centralizado caixa 2 de R$ 1,5 milhão para campanhas do PT nas eleições municipais de 2012.
Contraponto: À época da divulgação dos depoimentos, repetiu o que disse sua mulher: que as doações seriam do Diretório Nacional do PT para o Diretório Estadual petista no Paraná, e que tudo foi regular.
MARIO NEGROMONTE
Em depoimentos já coletados pela PF são mencionados dois repasses, de R$ 336 mil e de R$ 534 mil, feitos pela Odebrecht. A suspeita é de que sejam compensação por ajuda à empreiteira com obras quando era ministro das Cidades de Dilma. Ele é do PP.
Contraponto: Procurado pela reportagem, não foi encontrado.
FERNANDO BEZERRA
Ministro da Integração Nacional de Dilma, o senador do PSB já está denunciado por centralizar caixa 2 de três empreiteiras para a campanha do então governador de Pernambuco, Eduardo Campos, a presidente. Teria recebido cerca de R$ 41 milhões de um consórcio que construía a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. A Odebrecht também participava dessa obra.
Contraponto: O advogado de Fernando Bezerra, André Callegari, diz que seu cliente nega qualquer repasse ilegal de dinheiro das empreiteiras, mas confirma ter coletado verbas para a campanha de Eduardo Campos a presidente. "Ainda não tomamos conhecimento da parte relativa à Odebrecht e vamos a Brasília para nos inteirar", pondera Callegari.
CARLOS GABAS
Teria intermediado financiamentos da Caixa Federal à Odebrecht, em troca de repasses a campanhas governamentais. Ligado ao PT, foi ministro da Previdência de Lula e de Dilma.
Contraponto: O Partido dos Trabalhadores (PT) afirma que os ex-ministros não comentarão supostas delações que estão sob sigilo de justiça.
GILBERTO CARVALHO
Ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência no governo Dilma, o petista teria intermediado contratos da Odebrecht, segundo delatores, e seria o elo entre a empreiteira e o ex-presidente Lula. De acordo com as delações, Carvalho recebia os pedidos e os condicionava a apoio a campanhas petistas.
Contraponto: À época da divulgação dos fatos, o ex-ministro negou categoricamente ter recebido Marcelo Odebrecht e Alexandrino Alencar com discussões para agendas internacionais de Lula. Ele disse que Lula, "como qualquer presidente patriota", organizava caravanas de empresários no Exterior, abrindo caminhos para negócios e para potencializar a balança comercial brasileira.