Um dos principais alimentos que fazem parte da rotina dos consumidores, o leite era alvo de adulteração nas indústrias de laticínio flagradas pela 12ª fase da Operação Leite Compen$ado. O produto vencido era misturado a soda cáustica, bicarbonato de sódio e água com o objetivo de neutralizar a acidez e eliminar micro-organismos. Apesar de deixar os consumidores em alerta, especialistas indicam que a mistura, embora ilegal, não traz riscos à saúde de quem ingerir o produto, desde que em quantidades reduzidas.
Segundo o professor, doutor em Medicina Veterinária e coordenador do Serviço de Análises de Rebanhos Leiteiros do Centro de Pesquisa em Alimentação da Universidade de Passo Fundo (UPF), Carlos Bondan, para que o composto causasse prejuízos ao organismo seria necessário um grande volume de soda cáustica.
– Dependendo do volume, o produto pode provocar lesões na boca, esôfago e estomago, porque é corrosivo. Mas tenho certeza de que a quantidade (de soda cáustica) que eles utilizam (na adulteração) não chega a causar danos ao consumidor. Mesmo assim, é um adulterante, ou seja, um composto utilizado para adulterar a qualidade.
Para as crianças, porém, o risco pode ser um pouco maior, avalia Bondan.
– São pessoas que ainda não têm maturidade imunológica, ou metabólica, e o organismo pode responder entendendo como uma doença. Em algumas pessoas, esses produtos podem gerar alergias, mas não obrigatoriamente.
Já o bicarbonato de sódio não é tóxico, explica o professor. A substância é utilizada inclusive na fabricação de medicamentos que combatem a acidez.
Conforme a engenheira de alimentos e docente do programa de pós-graduação em Nutrição e Alimentos da Unisinos Daiana de Souza, a combinação não exclui os micro-organismos.
– O que é mais grave, do meu ponto de vista, é o fato de o leite vencido ser "reutilizado". A mistura tenta mascarar o problema, quando na realidade causa um crescimento de micro-organismos bem severo.
Daiana lembra que a legislação proíbe a adição de soda cáustica no leite e em seus derivados. De acordo com Bondan, nenhum produto químico pode ser incorporado ao alimento, exceto os de pasteurização e esterilização.