Somente na quarta-feira passada, 846 pessoas procuraram Unidades Básicas de Saúde (UBS) de Caxias para aplicação da vacina contra febre amarela. Na semana anterior, foram distribuídas 544 doses. É um movimento bem acima da média, e deve se repetir hoje, dia em que a vacina é aplicada nos postinhos.
Contudo, as filas das UBSs indicam que a comunidade pode estar se preocupando sem necessidade. O país tem 568 diagnósticos suspeitos e 107 confirmados – boa parte em Minas Gerais. O Rio Grande do Sul, por sua vez, não registra casos. O Ministério da Saúde afirma que o surto já é considerado o maior no Brasil desde 1980. Mas atenção: nem todos precisam ser vacinados, e não há falta de doses que justifique enfrentar filas em postos de saúde.
– Nunca tivemos nenhum indicativo de que as pessoas daqui precisam urgentemente serem vacinadas contra a febre amarela. Mas todos os dias chegam pessoas mentindo sobre idade, sobre nunca terem feito as vacinas para conseguirem doses, quando na verdade, não precisam. Este pânico é desnecessário 0151 alerta a gerente da Vigilância Epidemiológica, Juliana Argenta.
Caxias do Sul e região entraram na zona de risco após registro de morte de bugios pela doença em 2009. O caso aconteceu no município de Muitos Capões. Desde então, a medicação entrou no calendário anual de vacinação, sendo aplicada em crianças a partir dos nove meses. Na época, pelo menos 300 mil caxienses foram vacinados, e como a medicação tem vida útil de 10 anos, não é necessária nova remessa de vacinas em toda população. Ela deve ser tomada somente duas vezes na vida, explica Juliana.
– Se formos contar aquelas 300 mil doses que fizemos em 2009, somadas as feitas agora, todos os moradores estão vacinados. E é difícil prever se a doença pode chegar aqui, mas é muito difícil que isso aconteça – tranquiliza Juliana.
Para se ter ideia da movimentação nas UBS, a média mensal de 2016 é de 1,1 mil vacinas contra febre amarela (ao longo do ano, foram 14 mil doses aplicadas). Em duas semanas neste mês, foram 1,3 mil. Oo Centro de Saúde e as unidades do Cinquentenário e do bairro Fátima Alto são as mais procuradas. Segundo a 5ª Coordenadoria de Saúde (5ª CRS), não há registro de demanda semelhante nos outros 48 municípios. O Estado distribuiu de 8 a 10 mil doses para estas cidades. Neste mês, foi necessário o envio de mil doses para reforço em Caxias.
– É até perigoso tomar as doses com bastante frequência pelos efeitos adversos – atenta a responsável técnica pela Vigilância Epidemiológica e Imunização da CRS, Ana Maria Rocha.
Em Caxias, só houve um caso de febre amarela
Até hoje, Caxias do Sul teve somente um caso notificado da doença. Foi em 2015, quando uma pessoa que viajou para El Salvador, na América Central, retornou com os sintomas. A secretaria de Saúde não soube informar se a vítima teve complicações graves. Segundo o Ministério da Saúde, este já é o maior surto de febre amarela no Brasil desde 1980, quando o passou a disponibilizar dados da série histórica. Até então, o ano com o quadro mais grave havia sido 2000, com 85 casos confirmados e 40 mortes.
No último boletim, o Ministério confirmou 568 casos suspeitos da doença. Do total, 430 casos permanecem em investigação, 107 foram confirmados e 31 descartados. Dos 113 óbitos notificados, 46 foram confirmados, 64 ainda são investigados e 3 foram descartados. Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e São Paulo continuam com casos investigados e/ou confirmados. Já Goiás e Distrito Federal descartaram as notificações. Já o caso atribuído inicialmente, como local provável de infecção ao Mato Grosso do Sul, está sendo reavaliado. Um novo levantamento será divulgado hoje pelo ministério da Sáude, Ricardo Barros.
A Secretaria Estadual da Saúde gaúcha divulgou um documento com orientações para o controle da doença. Entre as medidas recomendadas, está o alerta para que a população notifique as secretarias de Saúde sempre que macacos mortos forem encontrados. Essas ocorrências precisam ser investigadas, pois podem indicar que o vírus está circulando na região.
A vacinação contra febre amarela ocorre todas as quartas-feiras em todas as unidades básicas de saúde (UBSs). É preciso apresentar documento de identidade e cartão de vacinas. O horário de aplicação é das 8h às 16h.
A DOENÇA*
z A febre amarela é uma doença infecciosa febril aguda, causada por um arbovírus (vírus transmitido por insetos), que pode levar à morte em cerca de uma semana se não for tratada rapidamente. No Brasil, desde 1942 só são registrados casos silvestres da doença, ou seja, cujo vírus é transmitido pelos mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes. Nestas situações, os casos humanos ocorrem quando uma pessoa não vacinada circula em uma área silvestre e é picada por um mosquito contaminado.
z A doença não é contagiosa, ou seja, não há transmissão de pessoa para pessoa. É transmitida somente pela picada de mosquitos infectados com o vírus.
z Os sintomas iniciais são febre de início súbito, calafrios, dor de cabeça, dores nas costas, dores no corpo em geral, náuseas e vômitos, fadiga e fraqueza. Em casos graves, a pessoa pode desenvolver febre alta, icterícia (coloração amarelada da pele e do branco dos olhos), hemorragia e, eventualmente, choque e insuficiência de múltiplos órgãos. Cerca de 20% a 50% das pessoas que desenvolvem a doença grave podem morrer.
A VACINAÇÃO*
:: Crianças de 9 meses a 4 anos completos: administrar uma dose a partir dos 9 meses e uma dose de reforço aos 4 anos, com intervalo mínimo de 30 dias entre as doses.
:: Pessoas a partir de 5 anos:
a) Com uma dose da vacina administrada antes dos 5 anos: administrar uma única dose de reforço, com intervalo mínimo de 30 dias entre as doses.
b) Com uma dose da vacina administrada com mais de 5 anos de idade: administrar uma única dose de reforço, 10 anos após a administração da primeira dose.
c) Com duas doses de vacina: a imunização está completa. Não administrar nenhuma dose.
d) Pessoas não vacinadas ou sem comprovante de vacinação: administrar a primeira dose da vacina e uma dose de reforço 10 anos depois.
:: Pessoas com 60 anos e mais, que nunca foram vacinadas ou sem comprovante de vacinação: o médico deverá avaliar a vacinação, levando em conta o risco da doença e o risco de efeitos adversos pós-vacinação nessa faixa etária.
:: A vacina contra a febre amarela não é indicada para gestantes e mulheres que estejam amamentando crianças menores de 6 meses.
*Fonte: Secretaria Estadual de Saúde