A Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF) esquentou os boatos de que a Lava-Jato está com os dias contados. Encaminhou nesta segunda-feira um pedido para remoção do atual diretor-geral da PF, o delegado gaúcho Leandro Daiello Coimbra, sob alegação de que delegados que coordenavam operações importantes foram deslocados para outras áreas e locais, devido ao esgotamento físico, mental e operacional a que são submetidos. Delegados ouvidos por Zero Hora, no entanto, apontam que as críticas à direção teriam como pano de fundo uma articulação para garantir maior participação dos delegados na escolha da chefia da Polícia Federal. A amigos, Daiello ironiza que a decisão da ADPF para seu afastamento contou com o apoio de 10% dos 2,2 mil associados da entidade.
A ADPF diz ainda que a "constante omissão" da diretoria-geral vem causando o enfraquecimento da instituição, pois não promove o apoio devido àqueles que se dedicam às grandes operações.
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É uma referência indireta às operações Lava-Jato e Zelotes, que deram prestígio à PF nos últimos anos. O comunicado coincide com a saída do delegado Márcio Adriano Anselmo da Lava-Jato. Um dos que desencadearam a operação, ele foi transferido para a Corregedoria da PF no Espírito Santo, alegando "esgotamento físico e mental" após três anos de investigações. Ele é o quinto delegado da PF a deixar a Lava-Jato. Já saíram os delegados Eduardo Mauat, Luciano Flores, Duilio Mocelin e Erika Mialik Marena.
– A Lava-Jato foi desidratada. Os delegados cansaram de pedir mais recursos e reposição de pessoal. Os cabeças da operação saíram – definiu o presidente da ADPF, Carlos Eduardo Sobral, em entrevista a Zero Hora.
ZH consultou três delegados, inclusive um ex-integrante da ADPF e um ligado à Lava-Jato. Eles discordam da versão de Sobral e afirmam que a saída dos colegas da Lava-Jato foi por decisão deles. Luciano tem uma boa relação com o novo superintendente da PF no Espírito Santo, o gaúcho Ildo Gasparetto. Márcio Anselmo é bastante ligado a Luciano.
– Na realidade, a ADPF fala em ameaça à Lava-Jato para ganhar a opinião pública. A pressão do governo federal não é essa, é contra a escolha do diretor-geral por lista tríplice, uma exigência histórica dos delegados – diz um delegado ligado a atividades sindicais na PF.
Os delegados querem escolher o diretor-geral e, para isso, oferecem uma lista tríplice de nomes ao governo. Inclusive a delegada Erika é uma das nominadas. Os policiais querem tratamento igual ao dos procuradores da República, cujo líder é escolhido mediante lista tríplice. O governo Temer é contra e quer continuar indicando o diretor-geral.
Um dos delegados mais atuantes da Lava-Jato confirma que as transferências não foram por ordem do governo e considera que um grupo de ativistas da PF tenta se promover, usando o espantalho de uma crise inexistente.
– Confundem as coisas. Investigação não é lugar para debates corporativos – resume o policial.