O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, será submetido nesta segunda-feira a uma cirurgia para retirada da próstata. Em licença médica desde a semana passada, Padilha será operado pela manhã, no Hospital Moinhos de Vento, na Capital. Segundo a assessoria do ministro, ele deve ficar internado por três dias e a previsão é de que retorne a Brasília na próxima segunda-feira, 6 de março.
No Planalto, contudo, a permanência de Padilha no governo é considerada incerta. Amigo pessoal do presidente Michel Temer e ex-assessor especial da Presidência da República, o advogado José Yunes disse neste final de semana que a Lava-Jato precisa interrogar o ministro. Yunes está disposto a participar de uma acareação com Padilha para esclarecer o suposto repasse de dinheiro da Odebrecht para campanhas eleitorais do PMDB.
Em depoimento voluntário à Procuradoria-Geral da República (PGR), Yunes disse ter sido usado como "mula" do ministro ao receber, em setembro de 2014, um envelope do doleiro Lúcio Funaro, preso na Lava-Jato. Conforme a delação do ex-executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho, Yunes teria recebido R$ 1 milhão em seu escritório de advocacia em São Paulo.
O dinheiro teria como destinatário Padilha e seria parte de um pagamento de propina no valor de R$ 10 milhões, cujo objetivo final seria financiar a campanha do partido nas eleições de 2014. O dinheiro teria sido solicitado pessoalmente por Temer ao então presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, durante jantar com a presença de Padilha no Palácio do Jaburu.
Em nota oficial, Temer admitiu o pedido, mas disse que a doação foi legal e registrada na Justiça Eleitoral.Tão logo o conteúdo da delação foi revelado, em dezembro, Yunes deixou o governo. Na ocasião, Padilha negou qualquer participação no recebimento do dinheiro. A PGR deve pedir ao Supremo Tribunal Federal a abertura de inquérito para apurar a conduta do ministro.
- Ele (Padilha) tem que ser ouvido. Você não pode ficar se escondendo atrás da notícia porque isso gera muita especulação. Acho que ele tem que esclarecer porque ele não tratou comigo de dinheiro nem nada - afirmou Yunes ao jornal O Estado de São Paulo.
No depoimento aos procuradores, o ex-assessor especial disse ter recebido um telefonema de Padilha, no qual o ministro pedia que ele recebesse "um documento" em seu escritório. Yunes disse não ter aberto o envelope, mas que ficou desconfiado ao ver que quem se apresentou para entregar a encomenda era o doleiro Lúcio Funaro, operador financeiro vinculado ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Embora tenha dito que Temer está "muito aborrecido com essa história" e cobrar o interrogatório de Padilha, Yunes afirmou não acreditar numa eventual demissão do ministro:
- Acho que não cai. E não deveria cair porque foi um episódio bobo. Ele é um sujeito muito eficiente. Trabalha, é fiel e muito organizado. É muito útil para o presidente.