Obrigadas a deixar seus lares às pressas, sete famílias que viviam no Residencial Villa Margarida, no bairro São Caetano, em Caxias do Sul, convivem desde junho de 2013 com a incerteza do futuro e até com a ameaça de despejo nos apartamentos que alugam atualmente.
Os sobrados, que representavam o sonho da casa própria, transformaram-se em pesadelo depois que problemas estruturais nas fundações fizeram aparecer rachaduras de até 10 centímetros de largura nas paredes e culminaram com a demolição de quatro unidades e o abandono de outras três. Passados mais de três anos, não há qualquer perspectiva de voltar para casa. No que um dia foi um condomínio, hoje há restos de lixo, vidros quebrados, mato crescendo no fundo do terreno e a ameaça de invasão por usuários de drogas.
Desde que tiveram de sair do imóvel, no nº 161 da Rua Aurelio Tonietto, as famílias vivem em moradias alugadas pela Ambiterra Incorporadora, que construiu o Villa Margarida. Contudo, precisam continuar pagando o financiamento junto à Caixa Econômica Federal. Alguns moradores ainda enfrentam o constrangimento de ver o aluguel atrasar por vários meses, caso do funcionário público Marcelo Enio Haetinger, 40 anos.
– Continuamos a ser vítimas da irresponsabilidade da construtora. Devido à falta de pagamento do aluguel, os donos dos imóveis em que moramos hoje podem nos solicitar a desocupação do imóvel a qualquer momento e teremos que dar um jeito novamente. Estamos pagando um imóvel que não podemos usar, e a construtora ainda não cumpre com a ordem de pagar o aluguel – reclama Haetinger, que acionou a Ambiterra judicialmente para pedir a rescisão do contrato de compra e venda e a ressarcimento dos valores pagos.
>> Sobrados que correm risco de desabar são interditados no bairro São Caetano, em Caxias do Sul
>> Após seis meses, famílias ainda não podem ocupar prédio interditado em Caxias do Sul
>> Sobrados interditados no bairro São Caetano, em Caxias do Sul, recebem reformas
O professor de informática Reginaldo Cortez, 39, que morava na casa n° 3, também ingressou com processo na Justiça e já obteve sentença favorável. A advogada dele, Mônica Pellenz, informa que a Ambiterra não recorreu da decisão. Segundo ela, já foi protocolado pedido de execução contra a construtora, para reaver os valores determinados pelo juiz a título de indenização material e moral, além de exigir que os aluguéis continuem sendo pagos.
– Eles (construtora) justificam que a responsabilidade é do engenheiro e do arquiteto que fizeram o projeto. Mas o contrato do moradores foi feito com a Ambiterra. Se houve erro nas fundações, essa é uma questão a ser discutida em outro momento, pela construtora e os profissionais que assinaram o projeto – entende a advogada.
Quem não acionou o Judiciário, tem recebido promessas sucessivas de reparos nos sobrados ou até de construção de apartamentos em um novo edifício. É o caso do supervisor de manufatura Jeferson Cattani, 27, que hoje mora em um imóvel no bairro São Giácomo. O aluguel dele vem sendo pago, mas não há estimativa de quando ele, a mulher, Indiamara Assunção, e a filho Pedro Herinque, de três anos, poderão voltar a ter uma casa para chamar de sua.
– Disseram que iam reconstruir as casas aqui, depois disseram que ia ser um prédio. Sempre me atenderam, nunca me disseram que não iam fazer nada, mas até agora só recebemos promessas – lamenta.
CONTRAPONTO
O que diz Carlos Becker, gerente financeiro da Ambiterra Incorporadora e Construtora:
_ O problema no residencial Villa Margarida foi causado por um erro nas fundações, cujo projeto é de responsabilidade de um arquiteto contratado pela empresa. Estamos discutindo isso na Justiça e queremos que ele pague por esses transtornos todos, não é nossa responsabilidade o fato de a construção ter sido malfeita. Até lá, não temos condições financeiras de fazer outro imóvel por conta própria para devolver aos moradores. Por mês, temos uma despesa de cerca de R$ 9 mil com aluguéis. Estamos pagando praticamente todos em dia. Apenas três é que estão com atraso, e estamos tentando negociar valores. A retração econômica nos atingiu e estamos com dificuldades financeiras, o que respinga também nesse compromisso. Desde que houve a primeira interdição, nunca nos recusamos de atender aos moradores. Só não podemos pagar por um problema que não causamos.