Ajudar a vovozinha a atravessar a rua? Que nada. A tropa sênior do Grupo de Escoteiros Moacara, de Caxias do Sul, está pronta para embarcar em uma aventura a 3,4 mil metros de altitude. Por oito dias, 14 jovens e cinco chefes irão desbravar as montanhas da Patagônia, com 80 quilômetros de caminhada pela parte argentina(outra parte fica em território chileno), levando às costas 20 quilos de roupas, barraca, saco de dormir, panelas, fogareiro e comida para encarar as trilhas. Acalentada há dois anos nas reuniões semanais do grupo nos Pavilhões da Festa da Uva, a expedição é o resultado da união dos esforços que escoteiros e pais fizeram para juntar cerca de R$ 80 mil para cumprir a jornada, através de rifas, almoços e venda de crepes e mini-pizzas.
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O embarque será nesta sexta-feira à tarde, em Porto Alegre. Após um dia em Buenos Aires, o grupo segue para El Calafate, cidade argentina próxima à fronteira com o Chile, onde inicia a caminhada rumo ao monte Fitz Roy, um dos destinos preferidos dos trekkers (praticantes de caminhada). As paradas serão em paraísos recompensadores como o Mirador Maestri, a Laguna de Los Tres, o Chorrillo del Salto e El Chaltén, a última parada. O roteiro foi elaborado pelo chefe Alexandre Ribeiro, 49 anos, que já percorreu o trajeto com um grupo de amigos.
– É um cenário muito impressionante, de glaciares enormes e que nos permitirão observar o monte sob vários ângulos. A gurizada queria uma aventura e vamos poder proporcionar algo bem legal, em que o escotismo estará presente em tudo. Para nós, que já fomos meninos e hoje somos chefes, é uma forma de retribuir tudo o que o aprendemos desde os anos como lobinho.
Escoteiro desde os 7 anos, Leonardo Pezzin, 18, conta ter se preparado para desbravar a Patagônia com caminhadas de 10 quilômetros por dia, para ganhar resistência. Faz cumprir o lema do britânico Baden Powell, criador do escotismo: "Esteja preparado". Na noite de quarta-feira, quando o grupo se reuniu para organizar as mochilas e separar os alimentos para a viagem, o jovem já estava ansioso com a experiência, que agora está tão próxima.
– Vai ser muito legal, porque vamos conhecer muitas coisas novas. O mundo é globalizado, mas às vezes não conhecemos lugares maravilhosos que estão ao nosso lado, aqui no nosso continente. Espero um desafio enorme, tanto na parte física quanto de crescimento pessoal, aprendendo a conviver melhor em grupo – empolga-se Leonardo.
Expectativa para a Semana do Escoteiro criada em Caxias
Caxias do Sul conta com oito grupos e quase mil escoteiros. O Moacara é o mais antigo com atividade ininterrupta, fundado em 1967, e também o mais representativo: são 258 integrantes, o que o torna o maior do Rio Grande do Sul. No fim do ano passado, foi criada na Câmara a lei que institui na cidade a Semana do Escoteiro, que antecede o dia 23 de abril, Dia Mundial do Escoteiro. O coordenador do 16º Distrito Escoteiro _ que inclui Caxias do Sul, Antônio Prado, Ipê, São Marcos, Nova Pádua e Nova Roma do Sul _, Ricardo Canevese, destaca a intenção de impulsionar o movimento na cidade e no Estado.
– Hoje o Rio Grande do Sul tem cerca de 15 mil escoteiros, mas queremos chegar a 25 mil até 2025. Por isso estamos divulgando cada vez mais o movimento, e a lei municipal criada em Caxias é muito importante neste sentido. Vai permitir que, naquela semana, a gente realize diversas atividades pela cidade e atraia jovens de toda a região – comenta Canevese.
Ao contrário do que muita gente ainda pensa, o escotismo não é só para meninos. Na verdade, é para todo mundo. O único porém é a disponibilidade de escoteiros chefes (a proporção é de um para cinco).
– As pessoas ainda têm uma visão estereotipada. Acham que os escoteiros não aceitam meninas, não aceitam deficientes físicos. Nada disso é verdade. Qualquer um pode participar – diz Leonardo Pezzin.