O coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos, foi solto às 19h15min desta terça-feira após passar o dia detido no 49ª Distrito Policial, em São Mateus, na zona leste da capital paulista. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, ele foi detido sob acusação de desobediência, incitação à violência e por ter lançado rojões contra a Polícia Militar durante a ação de reintegração de posse de um terreno, em São Mateus, onde moravam 700 famílias.
Na saída de delegacia, Boulos foi recebido por integrantes do movimento.
Guilherme Boulos contestou a prisão, alegando ser arbitrária e de cunho político.
– Fui lá negociar para buscar evitar que houvesse a reintegração. Foi uma prisão evidentemente política – disse.
O coordenador disse que foi ao local, onde ocorria a reintegração, para que o despejo das famílias fosse adiado até que o juiz apreciasse um novo pedido para suspensão da ação. Ele relatou que se apresentou como mediador a pedido dos integrantes da Ocupação Colonial, que não faz parte do MTST. O líder disse ainda ter ficado surpreso com as acusações.
– Estou surpreso com a criatividade da assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança, ou do secretário, de quem quer que seja que publicou uma asneira dessas – disse.
Boulos disse ainda que, no momento em que foi detido, o policial citou como um dos motivos outras manifestações feitas pelo movimento, entre elas um protesto realizado em maio do ano passado, em Pinheiros, na zona oeste paulistana, em frente à casa do presidente Michel Temer.
Do lado de fora da delegacia, integrantes do MTST passaram o dia aguardando a liberação de Boulos. Entre eles, estavam o vereador Eduardo Suplicy (PT) e o padre Júlio Lancelotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua.
– Eu tenho a convicção que todo o procedimento do Guilherme Boulos foi estar solidário às famílias muito carentes que com dificuldade de moradia há mais de um ano e meio estavam nessa área que estava há mais de 20 anos sem utilização – disse Suplicy que acompanhou os depoimentos dos policiais militares sobre o caso.
Notas
A organização não governamental Artigo 19 divulgou um comunicado criticando a prisão do líder do MTST.
"A prisão de Guilherme Boulos é um ato desproporcional, representativa de um recrudescimento aos direitos sociais e civis no país, inclusive o direito de protesto. Por isso, a entidade reivindica a liberação imediata do militante e a responsabilização dos agentes das forças de segurança por todas as violações que possam ter sido cometidas durante a reintegração de posse", diz a nota.
Parlamentares da Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela, integrantes do Grupo Progressista do Parlamento do Mercosul, repudiaram, em nota, o caso. "A prisão de Boulos, por suposta desobediência civil, é um sintoma do momento político e social que o Brasil e a região vivem com governo de direita que buscam criminalizar os movimentos sociais, e eliminar as liberdade e direitos sociais conquistados com muito esforço pelo povo nos últimos quinze anos".
A Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados também emitiu nota criticando a prisão. "As ocupações de terrenos urbanos e rurais para fins de satisfação das necessidades básicas de alimentação e moradia tampouco é um ilícito. Trata-se de efetivação do disposto no Artigo 3º da Constituição, que estabelece como objetivo da República construir uma sociedade livre, justa e solidária. Trata-se, ainda, de buscar efetivar a função social da propriedade e os direitos garantidos nas normas jurídicas nacionais e internacionais".
Reintegração
No início da manhã desta terça, a Polícia Militar cumpriu determinação judicial de reintegração de posse de um terreno particular em São Mateus, na zona leste da capital paulista. Para evitar a entrada dos policiais, os moradores da Ocupação Colonial ergueram barricadas, com entulho e pneus, e lançaram pedras contra os veículos blindados da Tropa de Choque. A polícia usou gás de pimenta e bombas de gás lacrimogêneo na ação.
Após a operação policial, uma retroescavadeira demoliu as casas de alvenaria e madeira onde viviam as famílias. O terreno particular estava ocupado há um ano e meio. Segundo as famílias, a área estava abandonada há 40 anos.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, um policial militar ficou ferido e duas viaturas do Batalhão de Choque foram atingidas. "Após tentativa de negociação dos oficiais com as famílias, sem acordo, os moradores resistiram hostilizando os PMs, arremessando pedras, tijolos, rojões e montando três barricadas com fogo", diz o comunicado da secretaria.
A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social não informou para onde os moradores foram levados.
*Agência Brasil