As exportações gaúchas encerraram 2016 no menor patamar desde 2010. Os embarques do Estado somaram US$ 16,57 bilhões, 5,4% abaixo de 2015. Foi ainda o terceiro ano consecutivo de queda nas vendas para outros países. Os dados são do sistema de consulta do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).
Consequência da crise, as importações do Rio Grande do Sul também encolheram. As compras caíram 17% e chegaram a US$ 8,31 bilhões. Com isso, o saldo da balança comercial gaúcha, o maior nos últimos três anos, subiu 10,2%, para US$ 8,26 bilhões – quase um quinto do resultado recorde alcançado pelo Brasil ano passado.
O coordenador do Conselho de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Cezar Müller, prevê um 2017 mais difícil especialmente para manufaturados. A causa é o câmbio.
– Entramos 2017 com um dólar em torno de R$ 3,20, enquanto ano passado, nesta época, estava perto de R$ 4. Isso tira competitividade das nossas exportações. E, por outro lado, pode levar a um aumento das importações – pondera Müller.
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Dos cinco principais itens da pauta gaúcha de exportações, quatro registraram recuo nos valores movimentados ano passado. A soja, produto de maior demanda, gerou faturamento de US$ 3,77 bilhões, com o embarque de 9,5 milhões de toneladas. Em 2015, foram US$ 4 bilhões e 10,6 milhões de toneladas.
José Antonio Mattos da Silva, gerente dos terminais Termasa e Tergrasa, que movimentam a maior parte da soja exportada no Estado, diz que, levando-se em consideração as condições atuais de preço, câmbio e expectativa de safra, há consenso entre operadores de que a tendência é de os embarques do grão subirem este ano.
– Acima de 11 milhões de toneladas, podendo chegar a 12 milhões – aponta Silva, lembrando que, além da soja a ser colhida, o estoque de passagem no Estado seria de pelo menos 2 milhões de toneladas.
Em segundo lugar na pauta gaúcha, as carnes – bovina, suína e de aves – tiveram um pequeno recuo de 2,5% na receita (US$ 1,65 bilhão) e um leve aumento de 4,3% no volume (960 mil toneladas). No caso do tabaco e produtos manufaturados de fumo, o faturamento foi de US$ 1,65 bilhão, ante US$ 1,60 bilhão em 2015. Mas a quantidade exportada caiu de 390 mil para 383 mil toneladas.
Como 2016 foi o primeiro ano completo após a ampliação da unidade da chilena CMPC em Guaíba, as exportações de celulose, agora oitavo principal item da pauta, tiveram um salto. O volume alcançou 1,45 milhões de toneladas, duas vezes mais do que no exercício anterior. Com isso, a receita chegou a US$ 592,5 milhões, 93% acima de 2015.
O Rio Grande do Sul encerrou 2016 como quarto maior exportador entre os Estados brasileiros. À frente apareceram São Paulo (US$ 46,2 bilhões), Minas Gerais (US$ 21,9 bilhões) e Rio de Janeiro (US$ 15,1 bilhões).
A China continuou como principal destino das exportações gaúchas em 2016, mas comprou menos. Foram US$ 4,32 bilhões. No ano anterior, foram US$ 540 milhões a mais. Mas Argentina e Estados Unidos, que ocuparam o segundo e o terceiro lugares na lista dos clientes gaúchos e adquirem essencialmente manufaturados, demandaram mais. O país vizinho importou US$ 1,3 bilhão (+2,5%) e, a maior economia do mundo, US$ 1,27 bilhão (+3,1%).
Müller entende que ainda é cedo para avaliar se há risco às exportações gaúchas devido à postura protecionista do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. Ele lembra que, se a Casa Branca adotar mesmo esta postura, atingiria outros países, que poderiam retaliar, fechando mercado para produtos americanos. Isso, entende, teria o potencial de abrir oportunidades para a indústria brasileira.
A evolução das exportações gaúchas (em US$ bilhões)
2016: 16,57
2015: 17,51
2014: 18,69
2013: 25,09
2012: 17,38
2011: 19,42
2010: 15,38
2009: 15,23
2008: 18,38
2007: 15,01
Fonte: Mdic