A chuva intensa registrada em um curto período de tempo em São Francisco de Paula, na Serra, pode ser a chave para responder o fenômeno que espalhou lama em Rolante. O município no Vale do Paranhana foi atingido por uma enchente que invadiu propriedades rurais, casas e indústrias de várias regiões e tirou cerca de 300 pessoas das suas residências.
Relatos dos bombeiros de São Francisco de Paula dão conta de uma chuvarada tão intensa na quinta-feira que o Lago São Bernardo, principal ponto turístico da cidade, transbordou e alagou as ruas próximas. Dados do site da Defesa Civil Estadual informam que, somente entre a noite de quinta e a madrugada de sexta-feira choveu 100mm no município serrano, enquanto a média do mês é de 181,4mm. Ou seja, em menos de 24 horas, a cidade recebeu 55% da água prevista para 30 dias. Com o município localizado a uma altitude de aproximadamente 800 metros, a geografia da região fez o aguaceiro ser despejado para áreas mais baixas: Rolante e Riozinho, no caso, que ficam a menos de 100 metros do nível do mar.
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Além disso, o Vale do Paranhana é conhecido por ser berço de diversos arroios e ter o território cortado por rios importantes como Areia, Mascarada e Rolante.
– Aquela região tem uma característica interessante. Está associada a bacias formadoras de arroios e rios e eles drenam uma superfície muito grande, especialmente aquela que ocupa a parte superior do município, próximo a São Francisco – explica o biólogo e professor da Unisinos Jackson Müller.
Segundo o especialista, a chuva intensa em pouco tempo forma uma espécie de onda, que desce em altíssima velocidade carregando tudo o que encontra pela frente. O aguaceiro eleva o nível dos rios rapidamente, pois não há para onde escoar tanta água. Lama, árvores, galhos e demais resíduos encontrados na sexta-feira em Rolante sustentam esta hipótese.
– Muitos rios estão voltando à normalidade. Esta é a característica das enxurradas: levam tudo e baixam (o nível da água) logo – destaca Cícero Zorzi, chefe da Divisão de Planejamento e Gestão do Departamento de Recursos Hídricos da Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Sema) do Estado.
Acúmulo de resíduos represou cheia e acelerou inundação
Ele acrescenta como fator à equação que resultou na enchente as precipitações fortes dos últimos dias. Em pontos isolados, contribuíram para o encharcamento do solo, que ficou mais liso e aumentou a velocidade da água.
Depois de sobrevoar a região na tarde de sexta-feira, o coordenador da Regional Metropolitana da Defesa Civil do Rio Grande do Sul, major Alexsandro Goi, afirmou que a área apresentava centenas de deslizamentos que chegaram até o leito do rio Mascarada, localizado na região mais ao norte de Rolante.
– Certamente, o acúmulo dos sedimentos causou obstrução das águas e, em um dado momento, a força da chuva causou a ruptura das obstruções e a consequente inundação – esclareceu.