Enquanto os deputados discutiam os primeiros projetos do pacote de medidas do governo Sartori, o clima era de tensão permanente do lado de fora da Assembleia Legislativa, na tarde desta segunda-feira. Manifestantes contrários às propostas e servidores afetados pelas mudanças entraram em confronto com a Brigada Militar (BM) em pelo menos quatro momentos. Pedras, foguetes, bombas de gás e efeito moral e spray de pimenta foram as "armas" usadas em meio a um cenário de guerra na Praça da Matriz.
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Repórter da Rádio Gaúcha é ferido durante cobertura
Desde o início da manhã, a área da Assembleia e do Piratini foi cercada por gradis para restringir o acesso ao parlamento. Somente funcionários identificados, jornalistas e manifestantes com senhas foram liberados para acompanhar a sessão dentro do prédio. Do lado de fora, a Brigada Militar elevou o efetivo de cem policiais para 300.
O primeiro confronto foi registrado logo no início da tarde, depois de uma concentração pacífica pela manhã. Servidores derrubaram os gradis e ameaçaram uma invasão ao cerco montado pela segurança. De imediato, a tropa de choque da BM reagiu, junto com a cavalaria, para tentar dispersar os manifestantes, que revidaram com pedradas.
Nesse momento, o repórter Daniel Fraga, da Rádio Gaúcha, que trabalhava na cobertura do protesto, foi atingido na cabeça por uma das pedras jogadas em direção aos policiais. Ele foi levado para atendimento médico e liberado em seguida. Em sua conta no Twitter, Fraga lamentou o episódio: "Pena interromper o trabalho num dia importante como este, mas não esqueçamos que o assunto relevante é a discussão dentro da Assembleia".
Com os ânimos ainda acirrados, os próprios manifestantes resolveram recolher os gradis derrubados, fato que deu início ao primeiro tumulto. Quando algumas pessoas ainda passavam mal sob efeito das bombas de gás, um novo confronto foi registrado no entorno da Praça da Matriz. Manifestantes tentaram se refugiar na Rua Duque de Caxias, nas proximidades do Piratini, porém um pouco mais afastado da Assembleia. Depois, voltaram ao ponto principal da concentração, desta vez sem os gradis.
Em determinado momento, houve correria na Rua General Câmara. Um grupo de pessoas correu atrás de um homem apontado como integrante do Movimento Brasil Livre (MBL). Ele teria se abrigado em um prédio. Logo depois, em um carro de som, uma "orientação" foi dada aos manifestantes: infiltrados do MBL seriam colocados "para correr".
Um terceiro confronto foi registrado no meio da tarde. Desta vez, de menor expressão em relação aos anteriores. Em seguida, policiais da tropa de choque foram flagrados dentro da Assembleia, descansando após seguidos embates externos.
O vice-presidente da Amapergs-Sindicato, Cláudio Fernandes, relatou a indignação geral da categoria, que figurou como "linha de frente" em imagens dos confrontos com a BM. Depois do tumulto, em assembleia, os servidores da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) decidiram paralisar as atividades em todo o Estado para pressionar os deputados a rejeitarem o pacote. Serão mantidas apenas funções básicas, como alimentação e atendimento médico. As visitas e escoltas estão suspensas, segundo a Amapergs.
– A ideia é entregar a chave das cadeias para a Brigada Militar. Eles que assumam toda a responsabilidade do que possa vir a acontecer. É uma decisão conjunta. Isso é a força de vontade da categoria contra o pacote do governo – afirmou Fernandes.
Nelcir Varnier, presidente do Sindicato dos Técnicos-Científicos do Rio Grande do Sul (Sintergs), também ressaltou a contrariedade dos servidores do lado de fora da Assembleia.
– Os deputados estão usando apenas a metade da capacidade das galerias do plenário. As pessoas que queriam acompanhar a votação foram impedidas. O Sintergs recebeu apenas uma senha para entrar – protestou. – Estamos indignados, angustiados com esse pacote que não trará nenhum benefício ao Estado. É um absurdo – completou.
Após os confrontos com os manifestantes, o comandante do policiamento da Capital, coronel Mário Ikeda, ressaltou que a BM continuará a postos no entorno da Assembleia até o fim da votação do pacote, que não tem término previsto. Conforme o coronel, foram utilizadas armas não letais para dispersar a multidão.
– Houve derrubada dos gradis e arremesso de pedras contra a Brigada. Utilizamos gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral para afastar os manifestantes – relatou. – Ficaremos aqui na Praça da Matriz durante os outros dias também – confirmou.
*Zero Hora