Momentos de pânico e medo. Assim relataram vizinhos, vítimas e policiais militares e civis envolvidos em um dos assaltos a banco mais ousados dos últimos anos na Região Central. Na madrugada de sexta-feira, moradores de São Sepé ficaram nas mãos de um grupo de bandidos. Por volta da 1h, os criminosos explodiram duas agências bancárias nas esquinas das ruas Visconde de Rio Branco e Coronel Veríssimo, no Centro do município, em frente à Praça das Mercês.
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Segundo moradores de um prédio vizinho ao banco Sicredi, um dos que foram atacados, a ação dos bandidos durou cerca de uma hora e foi totalmente orquestrada. Cerca de 30 pessoas foram feitas reféns e obrigadas a formar um cordão humano como barreira de proteção aos criminosos, enquanto eles entravam nas agências.
– A cidade ficou sitiada. Ouvimos as explosões e ficamos sem entender nada. Uma vizinha foi até a janela para ver o que estava acontecendo e um dos bandidos atirou de fuzil contra ela. Os tirou ficaram lá, na parede da sacada – relatou um morador que preferiu não ser identificado.
Outra moradora que não quis se identificar e que mora a uma quadra do local do crime contou que a família se trancou no banheiro até que os tiros cessassem:
– Estávamos eu e meu irmão no quarto quando ouvimos os tiros. Ele é do Exército e soube identificar que os disparos eram de fuzis e mandou todo mundo entrar no banheiro. Era eu, meus dois irmãos, meus pais e até a cachorra dentro do banheiro. Todos em pânico e muito assustados, ligando para conhecidos e familiares para saber se estavam bem e entender o que estava acontecendo. Eles eram muito profissionais, sabiam exatamente o que estavam fazendo e não economizaram em balas – disse.
Conforme a Brigada Militar e Polícia Civil, pelo menos 15 bandidos participaram da ação, que, segundo os policiais, foi muito bem planejada e articulada.
– Todos estavam encapuzados, fortemente armados, com coletes à prova de balas e com muita munição à disposição. Cada um tinha um papel no plano. Há relato de que até mesmo um atirador fazia a cobertura de cima do telhado de um dos bancos. Eles se espalharam pela praça e pelas ruas próximas. A rota de fuga também foi bem estudada, para que tudo saísse conforme o planejamento deles – relatou um policial militar que estava no local logo pela manhã de sábado.
Ao todo, cerca de 50 policiais militares, civis e rodoviários de São Sepé, Santa Maria, Caçapava do Sul e Formigueiro se envolveram no esquema policial montado logo após o assalto. Durante a fuga, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) chegou a perseguir um dos veículos utilizados no assalto, mas os bandidos jogaram "miguelitos" na rodovia e conseguiram fugir. A suspeita é de que os bandidos estivessem na cidade há mais dias, planejando o crime e criando rotas de fuga.
Os criminosos detonaram três terminais e o cofre do Sicredi. No Banco do Brasil, os bandidos explodiram um terminal, mas não conseguiram levar o dinheiro. A estimativa dos bancários locais é que os ladrões tenham levado em torno de R$ 100 mil, mas o valor preciso não foi revelado. No entanto, conforme relatos de alguns funcionários das agências à BM, os caixas eletrônicos haviam sido abastecidos um dia anterior, devido ao feriado de Natal. Ainda segundo os policiais militares, a estimativa é de que tenham sido levados entre R$ 800 mil e R$ 1 milhão.
O delegado responsável pelas investigações, Antônio Firmino de Freitas Neto, acredita que o grupo de assaltantes seja da Região Metropolitana de Porto Alegre, pelo modus operandi da quadrilha.
– Montamos um cerco grande. Até mesmo policiais que estavam fora de serviço foram acionados e vieram. Acreditamos que eles sejam da região metropolitana. Aqui é uma cidade tranquila, pacata. Eles chegaram e apavoraram as pessoas. Um absurdo o que fizeram aqui, uma explosão sem precedentes – afirma.
Vítimas e reféns
Após roubarem os bancos, a quadrilha sequestrou duas das reféns que estavam formando o cordão humano e as levaram junto em um dos carros utilizados na fuga. Elas foram liberadas pelos criminosos às margens da BR-290, na divisa entre São Sepé e Caçapava do Sul, próximo a um posto de combustíveis, onde, ao chegar, conseguiram acionar familiares e Brigada Militar. Elas foram escoltadas até a delegacia de Polícia Civil da cidade por uma viatura da PRF. Nenhuma delas ficou ferida ou foi baleada.
Durante a ação dos bandidos, quatro pessoas ficaram feridas. Um homem que estava trabalhando em um trailer de lanches em frente às agências bancárias foi atingido por um disparo de fuzil no braço. Outras duas pessoas foram levemente feridas. Um policial militar que estava de folga também foi baleado. Rogério Rosso, 44 anos, levou um tiro em cada perna (um na região da coxa direita e outro na região do púbis, ao lado esquerdo), foi socorrido e atendido no hospital de São Sepé e encaminhado ao Hospital de Caridade de Santa Maria, onde permanece internado aguardando cirurgia.
O irmão de Rogério, o policial civil Renato Rosso, 47 anos, que foi eleito o vereador mais votado do município em 2016, também se envolveu na troca de tiros com os criminosos. Ele conversou com o Diário durante a madrugada de sábado e explicou como ocorreu a ação na cidade. Confira a entrevista:
Diário de Santa Maria - Como vocês ficaram sabendo do assalto e em qual momento resolveram agir?
Renato Rosso - Me ligaram avisando que tinham explodido o banco. Fui na delegacia, peguei a viatura discreta e meu irmão me ligou. Passei na casa dele. Fui pegar ele, fomos na delegacia, colocamos colete, pegamos outro colega militar e ficamos de longe, para ver se avistávamos o que estava acontecendo. Nisso fomos avisando PRF, Defrec e Brigada Militar, para fazerem barreiras nas estradas. E ficamos observando para ver se enxergávamos algo, alguma movimentação. Quando passamos na segunda esquina avistamos um dos bandidos na rua, de capuz e com uma arma longa. Tinha uma caminhonete branca atravessada na rua e mais um carro escuro. Paramos a viatura na esquina da outra rua e ficamos cuidando, atrás de uma casa. Nesse momento, houve outra explosão e ouvimos mais tiros. Deu para escutar o cantar dos pneus e alguém gritou que eles tinham ido embora.
Diário - Quando houve a troca de tiros com os bandidos?
Renato - Depois de ouvir que eles tinham saído, nós corremos para mais perto, demos uma olhada e não vimos nada. Não tinha carro, não tinha mais ninguém. Aí eu corri até um poste, e meu irmão e o outro colega vieram atrás de mim. Quando eu estava chegando perto do poste começaram a atirar contra nós. Foram uns 15 ou 20 tiros. Não deu nem para ver de onde eles vinham. Me atirei atrás do poste, revidei os tiros e meu irmão gritou: 'me acertaram'. Olhei em direção à praça, não vi mais nada, e voltei para socorrer o meu irmão. Nisso ele já tinha conseguido voltar ao pátio de uma das casas que estávamos nos escondendo. Paramos um carro que passava na rua, e pedi para levarem ele para o hospital, pois estava perdendo muito sangue.
Diário - Em algum momento vocês chegaram a ver o cordão humano formado ou deram de cara com a quadrilha?
Renato - Quando chegamos a ação já tinha sido efetuada. Provavelmente esses que atiraram em nós tenham sido retardatários que ficaram para segurar a ação da polícia. Levei um estilhaço de raspão no braço, de um tiro que pegou no poste. Foi tudo muito rápido. Ficamos ali cerca de cinco minutos, nem isso. Depois que o meu irmão foi baleado nós ficamos esperando o reforço chegar. A ação deles durou cerca de 45 minutos, no total, entre a formação do escudo humano e a fuga. Eles renderam todos que passaram de carro.
Na tarde deste sábado, Rosso fez uma postagem sobre o caso no Facebook: