O dia 29 de novembro ficará marcado na história de Pinhal Grande pela chacina que vitimou quatro pessoas – uma criança, dois adolescentes e um idoso. A série de crimes chocou e causou pânico na população local e trouxe dor e revolta às famílias das vítimas do atirador Ariosto da Rosa, 41 anos, preso na terça-feira. Mas o histórico de violência do agricultor data de outra época, há 15 anos.
Autor de chacina é indiciado pela Polícia Civil por quatro homicídios e o estupro de uma das vítimas
Para uma moradora de 31 anos, cuidadora de idosos, é o dia 31 de março de 2001 que nunca sairá da memória. A mulher que sobreviveu a um ataque de Ariosto conversou com a reportagem logo após a chacina, mas, para preservá-la, a reportagem só será publicada agora, e o nome dela não será divulgado.
À época, a então adolescente de 15 anos voltava de mais um dia de aula e, como costumava fazer, seguia de ônibus escolar para casa quando foi surpreendida pelo então jovem Ariosto, com quem mantinha um envolvimento. A história dos dois havia começado oito meses antes. A adolescente e Ariosto eram vizinhos e se aproximaram. O pai dela tinha um bar, que Ariosto frequentava. Eventualmente, ele ainda prestava serviços para o pai da adolescente na lavoura. Ela conta que não queria namorar seriamente:
– A gente começou a se conhecer. Depois de um certo tempo, ele fez uma proposta para eu sair com ele. Mas eu não quis, disse que era muito nova, que pretendia estudar e que não queria me envolver com ninguém naquela idade. Ele não aceitou. Disse que se eu não saísse com ele, iria me matar.
No dia seguinte à conversa, um sábado de manhã, depois da aula, ela voltava para casa no transporte escolar quando o ônibus parou em uma comunidade para deixar alunos. Ariosto embarcou e foi em direção ao banco em que ela estava.
– Ele pegou meu queixo e perguntou por que eu não tinha saído com ele. Eu não respondi nada e coloquei a mão no ouvido. Ele me acertou dois tiros, um na raiz do ouvido e outro atravessou a mão, pegou no pescoço, na boca, cortou a língua e ficou alojado. Por conta disso, perdi a visão no olho esquerdo e a audição no ouvido esquerdo – relatou a ex-namorada.
Depois de tentar matar a adolescente, Ariosto fugiu. Ela foi levada pelo motorista do coletivo ao hospital de Pinhal Grande e, após, transferida para o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), onde passou por cirurgia. Ao total, foram 10 dias de internação. Ao ter alta, a adolescente voltou para cidade onde morava com a família.
– Foi muito difícil, eu me cuidava dia e noite, até dentro de casa, porque ele ficou foragido. Ninguém sabia onde ele andava. Perdi o ano de estudos e vivia uma situação de perigo – contou.
Com medo, a adolescente saiu da cidade, foi morar em outro município, onde trabalhou na lavoura por seis anos. Quando retornou a Pinhal Grande, casou e voltou a estudar. Ariosto foi preso por tentativa de homicídio contra a adolescente em setembro do mesmo ano do crime. Cumpriu parte da pena em regime fechado no Presídio Estadual de Júlio de Castilhos e, depois, passou para o semiaberto. Recentemente, estava em liberdade.
– Graças a Deus, eu me salvei e minha vida continuou. Apesar de ter ficado surda e cega, estou aqui torcendo para que algo seja feito – disse a cuidadora, referindo-se à prisão de Ariosto.