A crise financeira que atinge a prefeitura de Porto Alegre revela um possível novo prejudicado: o Carnaval 2017. Até o momento, não foi assinado o convênio, no valor total de R$ 2,1 milhão, entre a prefeitura e as escolas de samba que fazem o Carnaval da Capital.
Em entrevista ao Diário Gaúcho, no final da tarde desta sexta-feira, o prefeito eleito, Nelson Marchezan, foi enfático:
– Vai ser bastante difícil a gente arcar com isso (o valor relativo aos repasses) no ano que vem. Temos que jogar com transparência, até para não criar falsas expectativas. Temos uma série de necessidades (na prefeitura) que não estão sendo atendidas.
Marchezan, porém, preferiu não bater o martelo sobre o assunto antes da posse, pois "não tem a estrutura na mão para saber das finanças na prática".
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O convênio garantiria recurso de até R$ 1,6 milhão a ser dividido entre as escolas do Grupo Ouro e de até R$ 500 mil para divisão entre as demais.
De acordo com o coordenador financeiro da Secretaria Municipal da Cultura (SMC), Anderson Petersen, não há dinheiro em caixa para fazer o repasse ainda neste ano. Atualmente, a Secretaria Municipal da Fazenda avalia se o município tem capacidade de repassar R$ 24 mil à Liga Independente das Escolas de Samba de Porto Alegre (Liespa) – R$ 1 mil para cada escola – e formalizar o convênio. O restante do valor estaria previsto para o próximo ano, mas o novo prefeito teria autonomia para rever ou cancelar a previsão.
"Verba é fundamental para as escolas", diz presidente da Liespa
O presidente da Liga Independente das Escolas de Samba de Porto Alegre (Liespa), Juarez Gutierrez, recebeu a notícia com surpresa. Ele salienta que a verba da prefeitura não cobre todos os custos das escolas, mas é fundamental, porque todas as agremiações fazem suas projeções de gastos contando com o dinheiro.
– Nossa expectativa é de que as escolas recebam em torno de R$ 300 mil,
R$ 400 mil ainda neste ano, e o restante no ano que vem. É uma questão orçamentária, já que o evento é todo pré-estabelecido e as escolas assumem compromissos durante o ano levando em consideração a verba – afirma.
Juarez calcula que o dinheiro da prefeitura banque, aproximadamente, 60% dos gastos de cada escola. Ele prefere não discutir que medidas a Liespa tomaria no caso de não receber a verba, já que o assunto ainda não foi discutido oficialmente, mas avalia:
– Teríamos que nos adaptar à realidade.
Material para oficinas foi readequado
Sem o dinheiro da assinatura do convênio garantido, as 26 agremiações que desfilam no Sambódromo do Porto Seco estão lançando mão do material entregue recentemente pelo projeto Cadeia Produtiva do Carnaval para colocar os barracões em atividade. O material do Cadeia Produtiva foi adquirido a partir de programa que envolve o Ministério da Cultura (MinC) e a SMC, e era previsto inicialmente para a utilização em oficinas, com o objetivo de qualificar a mão de obra que atua no Carnaval.
Porto Alegre é a primeira capital a receber a iniciativa. No entanto, foi liberado pela prefeitura para uso das escolas que já trabalham para o Carnaval 2017 em função da crise.
Conforme Tânia Freitas, encarregada do projeto pela SMC, as escolas deverão reservar 30% do que receberam para ser usado nas oficinas, que deverão ocorrer em 2017, depois do Carnaval.
As 26 escolas de samba já receberam tecidos, arames, madeiras, blocos de isopor, acetato, entre outros materiais. Do governo federal foi investido recurso no valor de R$ 2,2 milhões nesta primeira etapa do projeto. A contrapartida da prefeitura é de R$ 254 mil.
Vice-presidente da Liespa e presidente da Imperadores do Samba, Rodrigo Costa avalia que o material da Cadeia Produtiva está ajudando as escolas a não contarem exclusivamente com os recursos próprios. Na avaliação dele,
30% desfile terá o material oriundo do projeto.
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