Dois meses depois do início da ocupação de universidades, estudantes começaram movimento para liberação dos prédios no Rio Grande do Sul. Os sinais de recuo na mobilização que se revelou uma nova configuração do movimento estudantil brasileiro estão relacionados ao desgaste ocasionado pela longa duração dos acampamentos e pelo avanço de reformas propostas pelo presidente Michel Temer. Entre elas, a PEC do Teto.
O exemplo mais visível da diluição da ocupação de prédios está na UFRGS. Termômetro do movimento no Estado, a instituição chegou a somar 21 unidades ocupadas. Nesta quarta-feira, eram 17. Os estudantes da Faculdade de Direito e de Ciências Econômicas, do Instituto de Ciências Básicas da Saúde e do Campus Litoral decidiram retirar-se nos últimos dias.
– Agora, o entendimento é de que a luta é na rua, contra as medidas dos governos Temer e Sartori. Vamos encontrar outros métodos de luta, porque a ocupação é somente um deles. Acho que foi um momento muito importante de reorganização do movimento estudantil – aponta a estudante Eduarda Garcia, 22 anos, presidente do centro acadêmico da Faculdade de Direito da UFRGS.
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O movimento de ocupações define-se como uma mobilização horizontal, na qual não existem líderes. Desse modo, também não há um consenso sobre a desocupação das unidades – cada uma tem as suas particularidades que influenciam na decisão sobre quando e como arrefecer a tomada dos prédios.
Em linhas gerais, os cursos que seguem ocupados têm debatido internamente a liberação das unidades. Está marcada para sexta-feira uma reunião do Conselho Universitário da UFRGS, na qual os estudantes querem negociar o calendário acadêmico em razão das ocupações. Na semana passada, uma tentativa de diálogo entre o movimento estudantil e a reitoria da universidade terminou frustrada.
– O nosso curso tem quase dois meses de ocupação e estamos tocando sempre com as mesmas pessoas. É muito cansativo e desgastante. Junto disso, ficamos frustrados porque lutamos e continuamos lutando para tentar impedir que as decisões dos governos sejam tomadas e não adianta nada. Nossa luta é ouvida, mas não é o suficiente para barrar esse tipo de situação – avalia Maíra Blume, 18 anos, estudante do Instituto de Letras da UFRGS.
Na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), os alunos deixaram os 15 prédios que estavam ocupados na semana passada devido a uma decisão judicial que determinou a reintegração de posse. Na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), os dois prédios que tinham saguões ocupados encerraram o movimento no início deste mês. O prédio da Unisinos, ocupado em 23 de novembro, foi liberado na última terça-feira.
UFRGS
Prédios ocupados:
Instituto de Letras
Faculdade de Educação
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico)
Faculdade de Arquitetura
Instituto de Psicologia
Instituto de Artes
Instituto de Geociências
Escola de Enfermagem
Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança
Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar)
Instituto de Biociências
Faculdade de Veterinária
Instituto de Matemática e Estatística
Instituto de Química
Instituto de Física
Escola de Administração
Prédios desocupados:
Campus Litoral
Faculdade de Ciências Econômicas
Faculdade de Direito
Instituto de Ciências Básicas da Saúde
PUCRS
Todos os prédios estão desocupados
UFSM
Todos os prédios estão desocupados
Unisinos
Todos os prédios estão desocupados