Em meio a inúmeras novidades em matéria de decoração natalina, a historiadora Danieli Sanches Venturini, 35 anos, não abre mão de uma antiga tradição: a de montar presépios. Mais do que isso, ela coleciona e confecciona vários protótipos. Já são 79, a maioria, miniaturas.
Desde 1998, a solidariedade faz morada na garagem do seu Aldori
De madeira, argila, metal ou palha, os modelos representam, em geral, a cena do nascimento de Jesus. As releituras, porém são diferentes. Tem até presépio rock and roll, inspirado na banda AC/DC, com Jesus em cima de uma motocicleta. A paixão, segundo Danieli, vem da infância quando ensaiava criações vestindo as bonecas.
Com o tempo, outros sentidos foram incorporados à arte milenar, já que a literatura data como primeiro presépio um modelo feito por São Francisco de Assis, em 1223, na Itália:
– O interesse vem de diferentes leituras do nascimento de Cristo, nas formas de representar a família, pois nem todas são iguais. Vivemos uma cultura consumista, que deixa valores de lado, até mesmo a vida, em função do dinheiro. O presépio é uma lição para que haja mudanças na humanidade, para que se faça dos pobres e dos esquecidos protagonistas da história.
A coleção de Danieli é guardada em casa. As peças são únicas e não têm fim comercial. Algumas são dadas como presente a amigos. Não há critério ou projeto que anteceda cada criação.
Um apartamento de Santa Maria que vira filial da fábrica do Papai Noel
Ela conta que se deixa conquistar, escolhe materiais que a agradam e dá a eles uma representação.
Religião e reflexão
Atualmente, alguns dos trabalhos de Danieli fazem parte da Mostra de Presépios Natalinos, em cartaz na Sala Angelita Stefani, no Campus 3 do Centro Universitário Franciscano. Entre eles, há uma obra intitulada E Se Fosse Hoje?. Nele, Danieli compara as precárias condições da Sagrada Família as dos refugiados de guerra de hoje.
Segundo a historiadora, a metáfora se dá aos que deixam o país de origem por conta da violação de direitos humanos por perseguições devido à religião ou grupo social.
Na obra, Danieli utiliza como de plano de fundo parte do cartão de Natal em grafite do artista britânico Banksy. A representação traz o muro entre Israel e Palestina, conhecido como “muro do apartheid”, desde que começou a ser construído em 2002, pelo governo israelense. Também compõem o presépio fotografias de crianças refugiadas pelo mundo e um campo de refugiados. A tenda de Jesus, Maria e José é a de número 25, uma alusão à data natalina.
– A provocação desse presépio é mexer e tocar os corações para que possamos agir como irmãos, e para que meninos e meninas não precisem passar por essa experiência. O refugiado não se refugia porque escolhe, mas porque não tem outra opção. Pretende-fazer a reflexão de que Jesus poderia ser qualquer uma daquelas crianças – explica a historiadora.